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Brasil 24/7
A ‘Folha de S. Paulo’ reconheceu, no editorial desta quinta-feira, que a presidente Dilma Rousseff conseguiu refazer sua base para enfrentar a oposição no Congresso e manter seus vetos sobre projetos que ameaçavam as contas públicas:
“Mesmo dispondo de uma base frágil e descoordenada, o Planalto tem conseguido sobreviver ao campo minado em que se transformou o Congresso. Desarmou a "pauta-bomba" do Legislativo e, ao menos por ora, viu reduzirem-se as chances de ser aberto processo de impeachment contra Dilma”, afirmou a publicação de Otavio Frias.
Leia abaixo:
Após meses de agonia, o governo federal debelou uma das principais ameaças ao ajuste das contas públicas. Em votação realizada na terça-feira (17), o Congresso manteve o veto da presidente Dilma Rousseff (PT) ao reajuste dos servidores do Poder Judiciário. Estimava-se em R$ 36 bilhões até 2019 o impacto dessa medida.
"Foi por um triz", disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Referia-se ao fato de só 132 deputados terem se mostrado fiéis à presidente, ao passo que outros 251 votaram contra o governo, incluindo nove petistas e 26 peemedebistas. A demagogia precisava de apenas seis votos a mais.
Na sessão desta quarta-feira (18), o Planalto obteve nova vitória. Com 160 votos favoráveis à canetada presidencial e 211 contrários, a Câmara dos Deputados preservou o veto ao dispositivo que estendia a aposentados e pensionistas do INSS os aumentos do salário mínimo acima da inflação –com custo anual calculado em R$ 9,2 bilhões.
Mesmo dispondo de uma base frágil e descoordenada, o Planalto tem conseguido sobreviver ao campo minado em que se transformou o Congresso. Desarmou a "pauta-bomba" do Legislativo e, ao menos por ora, viu reduzirem-se as chances de ser aberto processo de impeachment contra Dilma.
Foi igualmente por um triz. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado na Operação Lava Jato, terminou alvejado no exato momento em que parecia disposto a dar encaminhamento favorável aos pedidos da oposição.
Enfraquecido pelas denúncias de corrupção e por ter mentido a respeito das contas bancárias na Suíça, o presidente da Câmara perdeu o apoio do PSDB. Na semana passada, Cunha confidenciou a aliados sua decepção com os tucanos e disse que a deflagração do impeachment, já não tendo o mesmo apelo, ficou para 2016, no mínimo.
O próprio PSDB, desgastado pela falta de coerência doutrinária exibida nos últimos meses, sinaliza a intenção de dialogar com o governo quando estiverem em questão projetos de interesse do país.
O cenário de arrefecimento das tensões políticas se refletiu no encontro do PMDB, na terça-feira (17). O evento, que chegou a ser anunciado como marco da ruptura com o Planalto, transcorreu sem críticas mais incisivas à gestão da presidente Dilma Rousseff –e coube ao vice, Michel Temer, desautorizar gritos pró-impeachment.
Claudicante como tem sido ao longo de todo este ano, o governo pelo menos ampliou sua vexatória lista de vitórias no campo político. Conhece agora um arremedo de calmaria –mas decerto receia que seja apenas o prenúncio de novas tempestades.