por Thiago de Araújo
Não há hoje uma única polêmica no Congresso Nacional que não conte com a digital do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Embora esteja em um partido aliado da presidente Dilma Rousseff (PT), o deputado federal se mostra mais como opositor por conta de suas decisões “em nome da independência do Parlamento”, gosta de frisar.
Entretanto, personagens conhecidos da política brasileira já mostraram restrições a Cunha no passado. E com algumas opiniões que, embora distantes do presente, parecem ser bastante atuais. Quer um exemplo?
Em 31 de março de 2000, o então presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, pediu ao governador do Rio de Janeiro na época, Anthony Garotinho, para pôr um freio na influência evangélica em seu governo. “O governo tem de ser mais discreto, está vivendo um protestantismo exagerado”, disse Brizola ao jornal Folha de S. Paulo.
O alvo do comentário de Brizola foi Cunha, que era presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab) e, na ocasião, era alvo de denúncias acerca de irregularidades. Para Brizola, os antecedentes de Cunha também não ajudavam, já que ele havia sido indicado pelo ex-presidente Fernando Collor, no início dos anos 90, para presidir a Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (Telerj) – chegou a ser acusado de integrar o esquema de corrupção de PC Farias.
Ainda em 2000, Cunha chegou a se afastar da Cehab por conta das denúncias. O processo contra ele por improbidade administrativa acabou arquivado no fim do ano passado, por prescrição de prazo para punição.
Outro a alertar sobre o atual presidente da Câmara foi Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e ex-ministro de Lula. Em entrevista a um programa do seu Estado natal logo após as eleições de 2014, ele não poupou críticas a Cunha, chamado por ele de “picareta-mor”.
“Essa coalizão PT-PMDB, da forma como está, acostumou-se a fazer uma seleção às avessas. Quanto mais incompetente e mais picareta, mais prestígio. Então repare bem: eles estão querendo dizer agora que vão escolher um camarada chamado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Esse cara deve ser, entre 1 mil picaretas, o picareta-mor. Toda a linguagem dele... eu conheço esse cara desde o governo Collor, ele operava no escândalo do PC Farias na Telerj. Pois estava enrolado no fundo de pensão da Cehab no governo Garotinho, e aí vem vindo. Depois estava enrolado no governo Lula com Furnas. E agora enrolado até o gogó em tudo em quanto, e ele quem banca os colegas. Todo mundo sabe disso. Antigamente o picareta achava a sombra, procurava ali o bastidor, ia fazendo as picaretagens escondido. Agora não, ele quer ser presidente da Câmara”.
Mais recentemente, o dono de uma empresa citada na Operação Lava Jato, Milton Schahin, afirmou ao jornal O Globo que Cunha participou de um esquema de corrupção envolvendo as suas firmas. Como nesta denúncia e no passado, o deputado negou qualquer envolvimento em irregularidades.