Muita água já correu embaixo da ponte desde que a direita conseguiu colocar em prática seu projeto de golpe para tirar o PT do governo. Se acumulam certezas, ilusões e esperanças, sobre as quais necessitamos ter clareza, para não embarcarmos de novo nas ilusões que levaram às acachapantes derrotas na Câmara e no Senado.
A primeira certeza, a maior de todas, e que condiciona todo o resto, é que a direita está realizando seu objetivo maior desde 2002: tirar o PT do governo. A consciência disto orienta a direita, que tolera todo o resto – ter presidente da República, da Câmara, do Senado, ministros etc., corruptos, tolera gastos do governo para comprar votos, a suspensão de medidas duras -, subordinado ao objetivo maior de consolidar o golpe que tira o PT do governo com a votação do Senado em agosto.
Nada de ilusões, portanto, de que senadores da direita pudessem se desvincular do golpe por descontentamento com atitudes do governo. Contradições entre eles são secundárias em relação ao objetivo maior da saída do PT do governo. Quando forem votar em agosto, a alternativa será a continuidade do governo do Temer – com quem eles podem negociar tudo – ou o retorno do governo da Dilma. Aí há um voto duro pelo golpe.
Foi uma vitória da direita a tirada da presidente Dilma Rousseff do governo e uma derrota da esquerda, que não será fácil superar no curto prazo. A única alternativa é impedir os 2/3 no Senado, para o que é necessário ir mais além dos 22 senadores que se opuseram à abertura do impeachment.
A direita joga, para tentar consolidar os votos que já teve e dissuadir os indecisos, além das escandalosas nomeações e decisões de liberação de recursos, do governo na contramão do ajuste pregado, com a proposta de empurrar Michel Temer até janeiro, quando se completa a primeira metade do mandato e aí fazer Temer renunciar e dar ao Congresso o presente de decidir o presidente do Brasil até 2018, valendo-se da norma antidemocrática da Constituição.
Mesmo num marco difícil e estreito de negociação, as esperanças se cifram na iniciativa do senador Roberto Requião, da proposta de um plebiscito, depois do retorno de Dilma, para que o povo decida se quer ou não novas eleições. Uma possibilidade que não é simples, mas que, diante da possibilidade que Dilma volte a governar até 2018, pode ganhar apoios no Congresso.
Ganhar os votos que faltam pode se dar pelo interesse em novas eleições, assim como para não ganhar a pecha definitiva de golpistas, ainda mais alguns senadores que serão candidatos à prefeitura de suas cidades e terão que contar com o complicador nas suas campanhas da perseguição dos escrachadores onde quer que façam campanha. Ou outros argumentos, como o de que o governo Temer está desmontando direitos fundamentais das pessoas, tirando recursos das políticas sociais, desmontando agencias da Caixa Econômica Federal, privatizando patrimônio público, terminado com a política externa que deu respeito ao Brasil no mundo, entre tantas outras metidas retrogradas, podem igualmente servir para conquistar os senadores que ainda faltam para barrar os 2/3.
Em suma, o governo golpista está tentando se consolidar pelas vias de fato, pela própria inercia, mas também pela compra descarada de votos, com recursos públicos. Sabe que tem que mostrar uma cara flexível até a votação do Senado para, aí sim, se conseguir os 2/3, baixar as políticas mais conservadores contra os interesses do Brasil e da grande maioria do seu povo.
Entre as realidades concretas, deixando de lado ilusões e explorando as possibilidades – com a intensificação das mobilizações populares, quem sabe com uma consulta popular sobre Temer -, juntando argumentos sobre o absurdo do impeachment e criando um clima amplo de combate ao golpe, é possível brecar o golpe em agosto. Se os golpistas conseguirem os 2/3, terão até 2018 para desmontar o país. É urgente e possível impedir essa via e resgatar a democracia no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário