Assistimos perplexos, indignados e tristes a uma prisão de Lula ambientada numa revoltante “normalidade” autoritária. Deveria ele ter resistido? Deveria ter buscado o exílio?
As pesquisas eleitorais, recém-publicadas dão conta de que Lula continua na dianteira, folgado, ganhando no primeiro turno e revelam também o outro lado da medalha dessa sua estratégia pessoal de entregar-se pacificamente à “justiça”. Parecia, e foi inaceitável para muitos, dar-se como um “presente” à Polícia Federal... Mas, o que só Lula via naquele momento tenebroso é que se entregava como um presente de grego.
Na Folha do domingo 15 de abril o jornalista Josias de Sousa, possivelmente conhecedor das pesquisas eleitorais com riqueza de detalhes, ofereceu a chave de leitura: estava “preocupado” com a perda de votos do PT para outras candidaturas e aconselhava a Lula que apontasse, o quanto antes, para quem o sucederia...
Josias de Souza é um desses jornalistas que devem ser lidos para se pensar o oposto, por ele, a quem agradeço, enxerguei algo que até aqui não tinha visto com clareza: Moro deu a Lula um palanque invencível.
Essa campanha que se anunciava melancólica será preenchida de um entusiasmo completamente imprevisível.
A verdade é que o nosso povo terá uma oportunidade única de politização numa campanha em que o candidato que representa as maiorias está submetido precisamente às agruras de um cotidiano que o povo conhece bem: a prisão, a arrogância, a injustiça, a crueldade e o desprezo dos poderosos.
Ora, a campanha eleitoral dará clareza, através do programa a ser apresentado pela candidatura Lula, de que a razão da sua prisão é o horror dos poderosos à democracia, ao bem-estar social, ao desenvolvimento nacional e à emancipação do nosso povo, valores e ideias que estarão contidos no programa.
A prisão de Lula é o seu melhor cartão de visitas num país de iniquidades, violência e injustiças. É a prova mais radical de identidade completa com o povo.
Preso Lula deixa de ser um “candidato”. Na verdade, simbolicamente, a prisão faz dele antecipadamente o Eleito desse pleito (ou não estaria preso), o governante legítimo, e já referendado pelo povo, a quem as forças tenebrosas e espúrias tentam impedir, prendendo-o, que governe. O Eleito está preso.
Talvez a justiça federal de Curitiba comece a entender por que é que não se pode prender uma ideia. E não terá sido por falta de aviso.
Na lenda milenar os gregos, em sinal de "rendição", deixaram na praia de Troia um vistoso cavalo de madeira.
***