O Brasil precisa mudar!
Quer se observe nossa realidade com a inteligência de nosso povo, ou se sinta seu sofrer com o coração, o Brasil precisa mudar!
Para quem não aceita, como nós, colocar uma pedra no peito em lugar da alma, há de entender, como nós, que o Brasil precisa mudar!
E o tamanho, a gravidade e o caráter múltiplo da crise que passamos, recomenda que não alimentemos ilusão de que a mudança de que precisamos trata-se apenas de trocar Francisco, Manoel ou Rita, por Pedro, João ou Maria.
Estamos vivendo o fim de um ciclo histórico. E estou convencido de que, para seguir adiante, precisamos de um novo PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO!
Um grande acordo que devemos celebrar entre todos nós brasileiros em torno de algumas metas que o país pode e deve alcançar: voltar a crescer, se reindustrializar, reduzir desigualdades, acabar com a extrema pobreza, devolver a segurança às famílias e às ruas, avançar na educação e garantir uma saúde que atenda com dignidade o nosso povo. Afirmar a nossa identidade cultural e investir em Ciência e Tecnologia.
Tudo isso é possível, acreditem! O Brasil é um grande país e tem recursos e riquezas suficientes para oferecer uma vida feliz ao nosso povo. O que está faltando é coesão, um debate franco, fraterno e sem ódio sobre o Brasil que queremos.
Não é possível continuar do jeito que estamos.
Um país com uma das maiores desigualdades sociais do mundo, que só no ano passado viu a extrema pobreza crescer 11%. Isso significa que a fome voltou a rondar os lares e as vidas de mais de 14 milhões de irmãs e irmãos nossos.
No momento em que nos reunimos nesta linda convenção, 13 milhões e quinhentos mil brasileiros amargam a suprema humilhação do desemprego aberto.
O nosso povo sabe como ninguém o que é a vida de alguém que precisa pagar suas contas, passar o dia de porta em porta atrás do primeiro direito que é o de ganhar o sustento pelo suor do próprio rosto e voltar para casa com a boca amarga de frustração por mais um dia sem conseguir trabalhar.
São milhões de mães, milhões de pais que conhecem como ninguém a dor que é olhar para seus filhos e negar-lhes o pão.
E esta falta de oportunidades já empurrou outros 32 milhões de brasileiros, homens e mulheres de carne e osso, para a informalidade, vivendo de bicos, sem carteira assinada, vivendo de bicos, sem carteira assinada, sem proteção e sem previdência, assustados com o futuro.
Sabem quantos brasileiros estão hoje sofrendo a humilhação de terem seus nomes sujos no SPC e no SERASA? 63 milhões!
Vejam a brutalidade deste número: são 63 milhões de homens e mulheres decentes se sentindo cada um deles ou delas a pior das pessoas porque não estão dando conta de pagar a prestação do crediário!
O Brasil precisa mudar!
O Brasil precisa mudar porque só no ano de 2016 aconteceram entre nós 62.500 homicídios.
A imensa maioria de jovens, negros, pardos e pobres de nossas periferias. São nossas irmãs, nossos irmãos, nossas crianças, nossos jovens, que estão sendo vítimas desse verdadeiro genocídio.
Para nossa revolta aumentar ainda mais, apenas uma quantidade ínfima destes crimes a autoridade desmoralizada de nosso país foi capaz de investigar.
Além da dor com a morte, brasileiras e brasileiros sofrem a dor de não ver a justiça ser feita.
E não se restaura a paz pública e as liberdades da cidadania com frases de efeito, cultura de ódio e mais violência.
Também não se faz alisando o despudor audacioso de facções criminosas que crescem em nossos principais centros urbanos ante a apatia, quando não a omissão cúmplice de autoridades
Definitivamente, o Brasil precisa mudar!
Nos últimos 15 anos permitiu-se descuidadamente que o sistema financeiro brasileiro concentrasse 85% de todas as transações em apenas 5 bancos!
A consequência óbvia é a falta de concorrência e o nosso povo refém de tarifas e juros absurdos.
O mais grave é que estes que nos governam deixaram que dois bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, entrassem neste jogo.
Queridos companheiros e companheiras,
Não lhes trago estas considerações duras sobre nossa realidade senão para dizer de onde vem, muito forte, minha razão para aceitar a tarefa difícil de unir o Brasil numa onda encantadora de mudanças.
Estou muito honrado e feliz com a grave missão que estou recebendo do partido de Leonel Brizola, meu velho e querido amigo, mestre e colega governador (vejam que privilégio tive!) .
Quero cuidar do nosso povo, protegê-lo, plantar a semente de uma esperança perdida por muitos e dissipada no desânimo ou na revolta, com razão, por outros tantos!
É, gente querida do PDT, brasileiros e brasileiras que nos assistem, o Brasil precisa mudar!
Alguém poderá pensar a esta altura de minha reflexão que estas seriam palavras ditadas por um olhar parcial apaixonado apenas pela causa dos mais pobres e da classe trabalhadora.
É claro que este deve ser o nosso foco até mesmo pela nossa histórica vocação, sucessores que somos do trabalhismo que revolucionou o Brasil no ideário apaixonante de Alberto Pasqualini; na obra histórica e no sacrifício sem paralelo de Getulio Vargas; na obstinação de João Goulart por reformas de base; ou na luta sem tréguas do maior lutador pela educação na política brasileira, Leonel Brizola e seus parceiros inseparáveis, Darci Ribeiro, Doutel de Andrade e Abdias Nascimento, este, campeão das lutas modernas contra a discriminação e o preconceito racial
Mas, minhas amigas e meus amigos, o colapso da economia brasileira atinge também de forma grave aqueles que estão na ponta da nossa indústria e da nossa produção.
Também para eles, um projeto nacional de desenvolvimento é de igual forma urgente.
Nos últimos três anos o Brasil fechou mais de 13 mil indústrias, desempregando dos melhores empregos e salários, mais de um milhão de pessoas.
E este fenômeno apenas se agravou recentemente, mas o Brasil é o pais que mais destrói indústrias na historia do capitalismo mundial.
Em 1980, um terço da riqueza brasileira vinha da indústria de transformação, hoje apenas 11%!
Mais grave! Nós já tivemos uma indústria maior e mais forte que países como a China, a Coréia do Sul, a Malásia, entre outros.
E hoje estamos atrás de todos eles!
A indústria tem um papel fundamental para o desenvolvimento do nosso país.
Afinal, façamos uma conta simples: dá para pagar eletroeletrônicos, informática, meios de diagnóstico médico avançados, química fina, bens de capital, maquinas e equipamentos, ou seja, tudo o que o Brasil precisa hoje comprar lá fora, e pagar com minério de ferro bruto, soja em grãos ou petróleo bruto?
Não, esta conta não fecha. E, por isto, ciclicamente, o Brasil quebra suas contas com o estrangeiro. E uma nova onda de sofrimento e sacrifícios se abate sobre todos nós.
Não nos iludamos, o Brasil precisa mudar!
O importante setor do comércio, grande fonte de trabalho para nosso povo, também está sofrendo.
Entre 2013 e 2016, mais de 70 mil estabelecimentos comerciais foram fechados no Brasil, aumentando ainda mais o numero de brasileiras e brasileiros na fila do desemprego.
Minhas irmãs, meus irmãos, todos estes dados que acabei de falar me doem no fundo da alma. Uma dor que sei que todos vocês também compartilham.
Mas não quero lhes cansar muito mais com a descrição dos males que todos conhecemos.
Não estamos reunidos aqui para lamber feridas ou para dissecar amarguras.
Muito pelo contrário!
Estamos aqui para reunir e convocar nossa militância para o grande embate que é fazer o Brasil virar o jogo!
Nosso país tem tudo pra isso!
Vamos promover um debate fraterno que basicamente comece por respeitar as diferenças, por encerrar a cultura de ódio, por acabar com essa idéia de brasileiro contra brasileiro!
Por que é tão grave e complexa a situação que nós precisamos de todas as ideias, de todos os olhares, de todos os segmentos, porque ninguém é dono da verdade.
Depois de rodar esse Brasil inteiro nos últimos anos, tenho algumas clarezas sobre o que devemos fazer para atender as emergências do nosso povo.
A primeira e mais urgente tarefa é gerar empregos!
Muitos, milhares, milhões de empregos, do Rio Grande do Sul à Amazônia, da Bahia ao Mato Grosso do Sul, das grandes cidades ao Brasil profundo do interior!
E o emprego bom, que paga os melhores salários, está na indústria.
Existem pelo menos quatro grandes setores da indústria em que o Brasil gasta muito dinheiro comprando do exterior, sendo que poderia produzir aqui mesmo, gerando empregos para o nosso povo.
Somos uma das maiores potências agrícolas do mundo, mas importamos adubos, fertilizantes e máquinas agrícolas.
Boa parte desses adubos e máquinas agrícolas poderia ser feita aqui mesmo no Brasil, gerando empregos para os brasileiros e economizando dólares para o nosso país.
O mesmo acontece em outros complexos industriais como o do Petróleo, Gás e biocombustíveis, o da Defesa e o da Saúde.
Todos eles têm um imenso e precioso potencial de geração de empregos. É nosso papel fazer previamente o devido investimento em Ciência e Tecnologia para domínio do processo de produção.
Além do emprego, nós precisamos qualificar, e muito, a segurança pública!
Devolver a paz e a tranquilidade às famílias, para que possamos ver de novo nossas crianças brincando despreocupadas.
Tudo isso é praticável, tudo isso pode voltar a fazer parte da nossa realidade.
Não estou dizendo que é fácil nem que é simples, mas que é possível!
Para tanto, é necessário aumentar a presença do Governo Federal na segurança.
As medidas que iremos implementar tem por objetivo desenhar um novo modelo, em que a União participe mais da prevenção e repressão à criminalidade violenta.
E isso significa melhorar as formas de financiamento das políticas de segurança, coordenar os esforços dos estados para conter o crime, direcionar as polícias federais para o combate às organizações criminosas violentas, controlar o tráfico de armas e drogas, criar uma Polícia de Fronteiras, organizar os esforços na repressão e prevenção ao homicídio, e implementar um sistema nacional de inteligência em segurança pública.
Na saúde, temos que reduzir a espera para os atendimentos ambulatoriais, as consultas especializadas e a realização de exames, bem como promover a redução da fila para as cirurgias eletivas.
É necessário investir na rede de atendimento, nas campanhas de prevenção e de vacinação, na formação de médicos generalistas, na melhoria dos sistemas de informação, na coordenação entre as diversas esferas de atendimento, incluindo o pacto federativo, e na premiação do bom desempenho.
Outra grande necessidade do nosso povo é Educação de qualidade.
Só o investimento maciço na Educação poderá fazer do Brasil um país justo e desenvolvido, com oportunidades iguais para todos os seus filhos.
Investir na melhoria da qualidade da Educação Pública será uma das nossas principais prioridades.
Da creche em tempo integral, passando pela melhoria da qualidade do ensino fundamental, por mais escolas em tempo integral no Ensino Médio e ampliando as vagas nas universidades, prosseguindo com a política de cotas.
Mas essas metas só serão possíveis se combatermos a corrupção onde quer que ela se esconda.
Por duas razões óbvias. A primeira porque, muitas vezes, o dinheiro que falta para o posto de saúde, o dinheiro que falta na sala de aula, que falta para melhorar o salário do policial, é o dinheiro que está sendo desviado vergonhosamente!
E a segunda, porque a corrupção rouba também a crença do povo na política e destrói a Democracia!
Meus irmãos, minhas irmãs,
Junto com a discussão das melhores soluções para as emergências reais da população, é preciso colocar em debate uma outra agenda, muitas vezes omitida do debate popular, mas que é indispensável, na medida em que nós precisamos responder de onde vai vir o dinheiro para fazer o Brasil virar este jogo!
O Brasil está numa situação fiscal deplorável!
O déficit primário do governo é próximo a 150 bilhões de reais.
Somente com juros foram gastos nos últimos 12 meses 380 bilhões de reais!
A dívida do setor público alcança hoje 76% do PIB, ou seja mais de 5 trilhões de reais.
E aqui não cabe aventura, nem ruptura, nem quebra de contrato. Isso nunca resolveu problema de nação nenhuma!
O que nós precisamos é nos mobilizar para, quem sabe, fazer um grande sacrifício, de uma vez por todas, para virar o jogo. E isso não pode ser feito com injustiça.
O nosso povo não tem mais nada pra dar! O nosso povo sofre demais com o desemprego, a informalidade, o trabalho precário.
A classe média já paga dobrado pra viver no Brasil, porque tem aspirações justas mas o Estado não lhe devolve em serviços públicos de qualidade o tributo pago. Então ela não acredita na Escola Pública e paga mensalidade escolar;
Não acredita na saúde pública e paga plano de saúde particular;
Não acredita na segurança do Estado e acaba sacrificada com o alto custo do condomínio com segurança privada.
O povo e a classe média já pagaram demais!
Portanto, quem tem de pagar esse sacrifício, na proporção justa e generosa, é o Governo e o mundo mais rico.
E não se fala aqui em mundo mais rico por qualquer tipo de discriminação. Por que volto a dizer: o Brasil não vai sair dessa equação na base do "nós contra eles".
O Governo também tem a sua parte importante nesse sacrifício. Eu vou dar o exemplo. Vou olhar com lupa cada conta, cada despesa, cada gasto, de olho nos privilégios e no desvio de recursos.
O apelo aqui é por um debate amplo, franco e generoso, em que todos possamos nos abraçar como uma grande e única nação, que é a nossa vocação!
Entre estas graves tarefas para o próximo presidente ou presidenta, está também a indeclinável missão de restaurar o império da lei e do poder político democrático, encerrando o momento de absoluto caos institucional em que cada poder faz o que quer e o que bem entende.
A nossa jovem, frágil e golpeada Democracia não aguenta mais isso!
Meus queridos e minhas queridas companheiras do PDT, mudar o Brasil é preciso e é possível!
E a nossa tarefa é levar esta mensagem para todos os cantos do país.
Conversar com cada irmão e cada irmã, mostrando que o Brasil pode virar esse jogo, pode ser uma grande nação. Depende apenas de nós. Da nossa crença, do nosso entusiasmo, do nosso amor pelo Brasil. Da nossa capacidade de dialogar, trocar ideias e encontrar respostas para os nossos problemas.
Depois de tudo que houve com o ex-presidente Lula, nossa responsabilidade aumenta muito.
São 207 milhões de pessoas que temos que vestir, empregar, garantir que se alimentem e que tenham cuidado médico.
Convidamos todas as forças políticas que realmente tenham compromisso com o Brasil, espírito público e amor ao nosso povo para nos ajudar a transformar nosso país.
Nós podemos e devemos restaurar esta esperança e avançar ainda mais.
Garantir que com esse projeto nacional de desenvolvimento, que pretendemos debater e enriquecer ao longo desta campanha, coloquemos finalmente o Brasil em uma rota sustentável de crescimento duradouro, justiça social e felicidade!
Convoco todos vocês, queridas irmãs e irmãos, a começar hoje mesmo uma caminhada que vai mudar o Brasil.
Vamos usar nossa força e nossa paixão para construir um Brasil justo, forte, feliz e soberano!
Muito obrigado!