***
Compreender o que Lula pensa, ainda mais agora que está preso e fala através de porta-vozes é uma tarefa de chinês. Eu imaginava que uma eventual aliança com o PDT e a indicação de Ciro Gomes como seu vice, implicaria na substituição na cabeça de chapa caso Lula fosse impugnado. E por isso nem eu nem a torcida do Flamengo entendíamos porque Ciro recusava a proposta, se era quase certo que dessa forma ele seria o próximo presidente, já que todos os astros anunciam que Lula será barrado. E, em oposição, se continuar seu voo solo o desastre é previsível.
Agora estou entendendo melhor. O fato é que o que Lula quer é que Ciro seja seu vice, sim, mas, em caso de rejeição de sua candidatura ele continue como vice do cabeça de chapa indicado por Lula. E que será provavelmente Fernando Haddad. Não há mais tempo para surgirem outros nomes. Jacques Wagner está fora.
Esse é o arranjo que Ciro repele. E é o que explica a sua fúria dos últimos dias. Lula não admite a ideia de entregar, com seus votos, a presidência da República a Ciro e ao PDT que já foi de Brizola. Está trabalhando para que, mesmo sendo ele impedido, o PT chegue ao Planalto. Não o PDT. E Ciro não aceita. Manuela D'Ávila também faria esse papel. E aceitou. Mas Lula rejeitou porque ela não tem as intenções de voto de Ciro.
O cálculo é o seguinte. Sem Lula na disputa, Ciro tem 7%, Haddad 2% e Manuela, 1%. Não se sabe exatamente quanto dos seus 30% Lula vai transferir ao seu ungido. Pesquisas mostram que ele triplica as intenções. Ciro e Haddad juntos somam 9%. Abençoados por ele poderiam chegar a 27%. Segundo turno garantido. Manuela e Haddad somam 3%.
Lula desidratou o quanto pôde a candidatura Ciro. Deixou-o num beco sem saída. Apostando que, sem nenhuma perspectiva de ir ao segundo turno ele entregaria os pontos. Os dois têm personalidade forte, para dizer o mínimo. Dificilmente mudam de opinião.
Os números atuais mostram que, se eles não entrarem num acordo, e Lula não for candidato, nem Ciro sem Lula e nem Haddad sem Ciro poderão chegar ao segundo turno.
Essa é a questão que cabe aos dois mais bem colocados presidenciáveis dos dois maiores partidos da esquerda resolver. Um segundo turno entre Bolsonaro e Alckmin seria a maior derrota do campo progressista desde 1989.
A agenda de Alckmin é a agenda do governo Temer sem Temer. Mais à direita ainda. É a continuação do teto de gastos públicos por 20 anos, da reforma trabalhista, é a aprovação da reforma previdenciária, é a continuação da venda do patrimônio nacional.
A agenda de Bolsonaro é a de um ex-capitão do Exército. Nem a ditadura militar aceitava capitães para dirigir o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário