Gilberto Maringoni: a provocação guaidó e o sangue frio governamental

A volta de Juán Guaidó à Venezuela hoje segunda-feira (4) não é iniciativa pessoal. Foi urdida em conjunto com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, após o fracasso da entrada da "ajuda humanitária", em 23 de fevereiro.
Qual o objetivo do regresso? Em duas palavras, ser preso.
Seu possível encarceramento seria alardeado como prova irrefutável de que a Venezuela é uma ditadura sanguinária que impede a pluralidade de pensamento e a dissensão. Novamente, uma operação humanitária - dessa vez militar - teria seu álibi para libertar o líder popular martirizado.
É isso mesmo? Raciocinemos.
IMAGINEM BERNIE SANDERS se articular com a alta direção dos governos chinês e russo para que invadam os Estados Unidos. Mais: que essa articulação se dê de forma explícita, com a China e a Rússia deslocando parte de sua força aeronaval para a costa leste estadunidense. Nesse plano estaria a entrada forçada de caminhões com carga desconhecida por três pontos da fronteira com o México: Laredo, Tijuana e San Diego. Forte aparato midiático chinês se colocaria na fronteira e o chanceler russo Sergei Lavrov estaria supervisionando tudo in loco.
Alguém em sã consciência acha que Sanders sairia liso da jogada? Que não seria acusado de traição nacional, incentivo ao terrorismo e à imigração ilegal?
Pelas regras de qualquer país democrático, a prisão do democrata seria fava contada.
POIS JUÁN GUAIDÓ e sabe que seu gesto é inaceitável eum um país soberano. A detenção no aeroporto Simón Bolívar, em Maiquetia, seria não apenas esperada, como perfeitamente plausível.
O governo venezuelano decidiu por uma postura arriscada, sabendo de seu isolamento internacional. Está pagando para ver a capacidade de mobilização interna de Guaidó no sábado, em manifestação hoje convocada (e que será inflada por toda a mídia internacional, além de contar com recursos de toda ordem). A conduta correta - dar voz de prisão ao presidente da Assembleia Nacional - poderia ser um tiro no pé, nas atuais condições.

A anunciada rebelião interna do sábado retrasado mostrou-se um fiasco. O palácio de Miraflores agora caminha no fio da navalha, na expectativa de que a explicitação das movimentações da direita e o discurso de união nacional contra a agressão externa se sobreponham ao que o deputado alardeia como base de apoio.
Até sábado (9), a mídia internacional escancarará denúncias e mais denúncias contra o governo Maduro e exaltará as características democráticas do "jovem líder" que acaba de voltar de um périplo pelos governos reacionários do continente.
Sangue frio é pouco para descrever o sentimento que move a administração venezuelana daqui até lá
Gilberto Maringoni - jornalista, cartunista e professor universitário da Cásper Libero e da federal de São Paulo
Todo mundo quer ser bom, mas da lua só vemos um lado 
Vida que segue...

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