Esperando por Isabel, por Elika Takimoto


Fui almoçar em um self service baratinho no Flamengo. Na entrada, uma menininha linda de uns sete anos me interceptou:

- Tia, me paga um prato de comida. Eu quero comida. Tô com fome. Quem vai negar um prato de comida para uma criança?
- Claro. Vamos, falei. Qual seu nome?
- Isabel, tia.
- Vamos lá, Isabel. Assim que entramos ela começou:
- Pode ser quentinha? É que eu preciso levar para meus irmãos também, tia.
- Quantos são?, perguntei.
- Muitos, tia. Respondeu ela olhando para as opções. Pode ser quentinha, tia?
- Claro. O que você quer que eu coloque aqui?
- Arroz, tia. Coloca muito arroz. Agora feijão, tia. Purê de batata. Mais purê. Macarrão, tia.
- Não quer legumes? Uma salada também? Não quer?, insisti como faço com meus filhos.
- Não, tia. Quero comida. Carne, tia. Pode colocar carne também?
A quentinha deu 40 reais de tanto peso. Geralmente pago menos que 15 no meu prato. Entreguei para Isabel com uma garrafa de refrigerante que ela havia escolhido. Isabel pegou tudo e saiu correndo.
Fiz meu prato e sentei para almoçar com calma.
Em poucos minutos, vi Isabel mais uma vez com outra tia apontando o que queria colocar na quentinha. Lá saiu Isabel apressada com outra marmita...
Logo depois, veio Isabel segurando a mão de um tio de novo. O tio olha para ela carinhosamente e coloca tudo o que Isabel quer.
Nessa hora eu estava pagando e resolvi seguir Isabel. Ela foi ali para a praça do Largo do Machado. Havia várias pessoas com cobertores sujos, roupas rasgadas, sentadas no chão e deitadas em cima de papelão esperando por Isabel.
Isabel não mentiu. Ela dava comida para “seus irmãos”.
Tão pequena e já carrega a responsabilidade de um Estado e a pressa - daqueles que entendem a necessidade - de alimentar um Brasil.
Vida que segue

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