A complexa arquitetura burguesa para tirar o Partido dos Trabalhadores do poder, por Gustavo Conde


Quando a gente for estudar história mais adiante, um dos capítulos mais instigantes será este: “A complexa arquitetura burguesa para tirar o Partido dos Trabalhadores do poder.”
Porque no voto ia ser realmente difícil.
Lembro do ministro do STF Gilmar Mendes desolado dizendo em idos de 2014 mais ou menos o seguinte: “com todos esses programas sociais será impossível tirar o PT do governo”.
Pobre Gilmar. Quase foi baleado por Rodrigo Janot – outro ídolo fascista desse câncer judicial que é a Lava Jato – mas sobreviveu para se arrepender parcialmente dos serviços prestados ao anti-petismo branco. Teve mais sorte que Teori Zavascki.
Divertido é – e trágico. Pensar em como a nossa elite conspirou longos 13 anos para ejetar a soberania popular do Planalto faz a gente pensar na força deste partido político prestes a fazer 40 anos.
Um sentimento ambíguo, sem dúvida.
Aos fatos já históricos.
Depois de três derrotas seguidas, Lula vence. Não fossem essas três derrotas, talvez, ele nem tomasse posse. Foram exatamente essas três derrotas que tornaram a legitimidade de Lula e do PT algo inatacável para a nossa elite assassina. Tiveram de engolir o mais legítimo dos presidentes eleitos da história, porque foi um presidente que sempre apostou na democracia e soube perder.
Não dava para impedir sua posse em 2003, “lamentavelmente”.
Mas a energia de ódio começou a se acumular ali. É terrivelmente frustrante não poder exercer seu maior talento (o talento golpista das nossas elites) porque seu maior inimigo (Lula) lhe desferiu um “nó tático” genial.
Teriam de deixar Lula governar, pelo menos um pouco.
Mas a paciência dos autoproclamados donos do poder não durou muito. Em 2004, a primeira tentativa para derrubar o PT foi arquitetada e colocada em prática. O mensalão é a expressão máxima da falta de imaginação subscrita nas hostes conservadoras de nossa justiça subdesenvolvida.
Acusaram o PT de tudo o que o PSDB cansou de fazer durante os tenebrosos 8 anos FHC. A narrativa já estava pronta, pois já estava no inconsciente dos jornalistas que cobriam Brasília: a compra de votos para a aprovação da reeleição era o argumento a ser incrustado no PT para que sua vida útil fosse abreviada.
A campanha foi violentíssima. Obsessiva, intermitente e generalizada. Um massacre. Era a palavra ‘mensalão’ trepidando 24 horas por dia, 7 dias por semana, 30 dias por mês.
Foi um choque para toda a imprensa ver Lula sair mais forte dessa crise artificial, arquitetada nos bastidores das redações de jornal. com Rede Globo na linha de frente.
“Que cara é esse que não cai?”, perguntariam-se executivos e especuladores que empenharam muita energia e dinheiro nessa campanha difamatória.
Enquanto isso, o povo ia comendo, o Brasil ia crescendo, a pobreza ia diminuindo, a Petrobras ia descobrindo o pré-sal.
Nada de Lula cair.
Aí, veio a campanha suja de Geraldo Alckmin em 2006, com o apoio escancarado da nossa imprensa tucana. Para ajudar, o “caos aéreo”, capitaneado pela eterna musa do caos aéreo, Elaine Cantanhêde.
A campanha tucana-midiática embrulhou o estômago do brasileiro a ponto de Geraldo Alckmin ter menos votos no segundo turno do que no primeiro.
Foi um massacre de Lula.
A imprensa golpista estava perdida e incrédula. “Como esse cara não cai, meu Deus do céu?”.
Ficaram tão perplexos, que Lula nadou de braçada no segundo mandato, saindo com quase 100% de aprovação popular (87%, segundo o Ibope).
A vingança viria com a vitória de Dilma. Eu me lembro que muita gente fascista já detestava Dilma Rousseff em 2006 (quando eu ainda passava o Natal em família), com o o medo óbvio de ela vir a ser a sucessora de Lula.
A engenharia golpista para o primeiro mandato de Dilma, em que se colhia incontáveis frutos dos governos Lula, foi a gestação de falsos movimentos populares (MBL, Vem pra Rua etc), todos de inclinação fascista, golpista e americanista, muito dinheiro envolvido e a “obra prima” das Jornadas de 2013, que enganou até partidos de extrema esquerda, que detestavam e detestam o PT.

As jornadas de 2013 foram um movimento do sudeste brasileiro, branco, elitista e terrorista (alô, historiadores! Podem aproveitar essa parte para o glossário no final do capítulo).
Era a engrenagem que restava à eterna incompetência da elite brasileira que não conseguiu sozinha mais uma vez, como em 64, dar cabo de um governo popular legitimado pelo povo e pela opinião pública. Precisou da ajuda dos EUA de novo.
Mas, pasmem, Dilma venceu em 2014.
É por isso que afirmo: é uma experiência trágica, mas é também divertida.
***
A vida é bonita e feia, engraçada é séria, alegre, triste e tudo mais que compõe o ser humano.

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