Aqui não é o inferno, eu sei.
Nem me interessa saber onde é.
Eu não faço a menor ideia de onde fica tal lugar até porque não tenho nem um “tico assim” de vontade de ir pra lá.
Mas uma coisa eu sei: nós precisamos acreditar que existe cura na dor.
E descobrir que a cura vai sarar o lado de dentro da gente, porque é ali que se encontra o amor.
Isso aqui não passa de uma monumental passagem. Viver é uma transcendência que nos conectará ao Paraíso. Enquanto isso, nos cabe insistir no desejo, na questão da essencialidade da vida. É preciso dar grande valor aos valores pequenos. A pureza, a vitalidade das crianças, a atitude dos animais, as vozes e o silêncio da natureza.
É imperativo a vontade de viver e é intransferível o desejo pela defesa da vida.
Eu quero a cura com o querer de Eros. Eu desejo a cura com o desejo de Eros.
É certo que eu deseje o bem porque assim este também desejará a mim.
Ainda que seja uma expiação, a vida terrena não precisava ser o “inferno” que tem sido.
Morrer é das coisas absolutamente indispensáveis.
Para quem almeja desde agora as delícias do céu lá pela frente.
Porém, não propaga nem uma invenção quem afirmar nada existir que nos proíba fazer as preliminares aqui dos seus gozos.
Ocorre que o mundo fez a sua opção pelas sombras.
E sombra é o tipo de lugar onde as bandeiras não tremulam, nem os galhos balançam, nem as flores tomam forma e cor.
Vive na sombra ou à sombra quem se permitiu ausentar-se da esperança, equidistante do brilho dos faróis.
É das sobras que se projetam os ódios, a violência, o autoritarismo e os medos.
É nas sombra que mora a dor.
Uma lúgubre e pavorosa sombra se pôs sobre os povos.
As nações foram acometidas de uma dor gigantesca e desalentadora.
No entanto, é chegada a hora – e esta é agora – de nos sobrepormos à “pandemia da estupidez” e do obscurantismo.
A cura só veio graças ao desejo da maioria das pessoas de que ela viesse e não pela vontade aterradora de quem despreza e minimiza a ciência e a medicina.
Eros tem prevalecido!
O desejo pela cura e pela vida está projetando raios de sol nas sombras do mundo.
Somos das raças a mais privilegiada, apesar de tudo, apesar de tanto.
É alentador descobrir tanto saber em tão curto espaço de tempo e ver desfraldada a bandeira da vida.
O fechamento da Crônica da Semana se dá com o poema da norte-americana Catherine O’Meara.
“E as pessoas ficaram em casa
E leram livros e ouviram música
E descansaram e fizeram exercícios
E fizeram arte e jogaram
E aprenderam novas maneiras de ser
E pararam
E ouviram mais fundo
Alguém meditou
Alguém rezava
Alguém dançava
Alguém conheceu a sua própria sombra
E as pessoas começaram a pensar de forma diferente.
E as pessoas curaram.
E na ausência de gente que vivia
De maneiras ignorantes
Perigosos, perigosos.
Sem sentido e sem coração,
Até a terra começou a curar
E quando o perigo acabou
E as pessoas se encontraram
Eles ficaram tristes pelos mortos.
E fizeram novas escolhas
E sonharam com novas visões
E criaram novas maneiras de viver
E curaram completamente a terra
Assim como eles estavam curados”.
Não há definição para a felicidade que esta certeza nos faz sentir:
“Para todo mal, a cura”.
Orlando de Souza
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