O mercado está em campanha

O mercado, como se sabe, não tem moral. Mas, no campo político, é de direita. Essa é a conclusão a que se pode chegar diante das análises sobre o que estaria ocorrendo, no momento, com os juros futuros. Eles teimam em subir, mesmo com recorrentes “puxões de orelha” do presidente do Banco Central.

Como não há expectativas de altas exageradas nos índices de inflação – as projeções, na verdade, indicam que a taxa tende a ficar abaixo do centro da meta –, a explicação dos porta-vozes do mercado para a suposta discrepância é a do “risco político”.

Pelo visto, não é só Lula que, antes da hora, segundos seus críticos, só pensa naquilo: as eleições gerais de 2010. Se a análise corrente fizer sentido, o mercado também está apressadinho e parece querer impor sua agenda eleitoral já agora.

O candidato queridinho do mercado será sempre aquele que apresentar uma plataforma que confira absoluta prioridade ao controle da inflação e, para isso, se comprometer com um arrocho fiscal incondicional. Num país de grandes desigualdades sociais, este é o resumo de uma plataforma conservadora. Como os dois nomes com circulação mais franca no momento – o governador José Serra e a ministra Dilma Rousseff – não parecem rezar por essa cartilha, o mercado, informam os seus porta-vozes, anda incomodado.

Ninguém pode impedir que o mercado faça como faz. Afinal, embora tratado como se tivesse alma humana (o mercado fica nervoso, inquieto, otimista, prudente etc. etc.) não é uma entidade com rosto e corpo de gente e não tem diretor-responsável. Mas o governo – aí incluída a chamada “autoridade monetária” – tem a obrigação de limitar a natureza devastadora dos movimentos do mercado. E tem instrumentos para isso. Se não os utilizar correta e afirmativamente, na hora certa, a culpa, sim, será sua – não do mercado.

Não se pode ser contra ou a favor do mercado, do mesmo modo que não se pode ser contra ou a favor das marés. Mas tanto as marés, como o mercado, podem e devem ser controlados, caso se queira evitar desastres – naturais, no caso delas, ou sociais, no caso dele. Continua>>>