Eu não votei. E você? Quem votou em Rathur Virgílio para senador pelo Amazonas? Quem colocou Rathur na liderança do PSDB? Quem reabilitou Orestes Quércia , que sonha em ficar invisível para nada respingar no terno dele? Não fui eu. Nem você. O apoio do PMDB é essencial para quem? Não é para mim ou para você. É para o PSDB, hoje um partido quase amotinado, na tentativa de não desmilinguir. O PSDB é a cara de FHC e vice-versa.
Hoje, o PSDB não consegue convencer o ex-presidente a apoiar seus candidatos nas eleições locais. Restam as convicções, onde está o ideário, a coerência, a única tábua de salvação para um partido político que se preze? Neste chuvoso e movimentado recesso parlamentar, fatos e personagens insistiram em emergir dos bueiros com a apuração da imprensa e atropelaram as férias dos senadores.
O estudante de balé bancado por Rathur Virgílio 3%, em Paris, deveria ter sido vetado como servidor do Senado. Suas qualificações nada têm a ver com sua função de recepcionista: atende telefone, recebe senadores e emite recibos. O que faz ali um rapaz que, no Orkut, é membro das comunidades Galera Vip de Brasília e Estilo Cachorro (macho) e, nas muitas horas vagas, esquia e pratica kitesurf no exterior? Henrique deve ser um alienígena entre seus colegas recepcionistas. Mas a neta pediu, e eram R$ 2.700 por meio expediente – sabe como é? –, meio expediente no Senado. Além disso, os atos secretos servem para essas boquinhas. Que amigo negaria?
Como Rathur é uma “pessoa incomum” e tem uma biografia que deve ser levada em conta em qualquer investigação do Ministério Público sobre falta de decoro ou tráfico de influência, a nomeação de bailarino não é nada mesmo.
“Todo mundo faz” virou bordão em Brasília. O jornal O Estado de S. Paulo revelou que 70% dos membros do Conselho de Ética do Senado enfrentam problemas constrangedores.
O bordão “todo mundo faz” não é privilégio dos políticos. O jornal O Globo lançou a campanha Ilegal. Eu?, que obriga o brasileiro a se olhar no espelho. Fotos flagram todo tipo de falta de educação. Na semana passada, um funcionário da Vigilância Sanitária urinava numa árvore no bairro carioca do Leblon depois de parar o carro oficial irregularmente. Executivos e senhoras bem-vestidas jogavam no chão copos de plástico, guardanapos, embalagem de biscoito – são 260 toneladas de lixo recolhidas pelos garis diariamente nas ruas da cidade do Rio.
Todo mundo faz. O lixo dos cidadãos enche os caminhões. O lixo dos políticos é varrido para debaixo do tapetão. O lixo das redações é varrido para dentro das gavetas e arquivos. É problema nosso.