LER É COMO BEBER UM BOM VINHO

Ler é um hábito tão saudável e cativante o quanto escrever.
Identificar qual dos dois mais me fascina não é tarefa nada fácil.
Mas a leitura sempre me tomou o tempo e marcou sobremaneira a minha vida.
Desde quando vi os primeiros rótulos das embalagens e dos produtos alimentícios trazidos por papai para o nosso consumo ou para revenda – já que ele comerciante.
As placas – de veículos, de sinalização ou de anúncios – também tiveram sua importância e muito contribuíram na minha iniciação no mundo da leitura.
Não havia nada formado por letras e que simbolizasse um nome ou uma palavra que não me chamasse a atenção.

Assim, quando me levaram à escola pela primeira vez, a professora me dispensou da famosa “Carta” uns dois meses depois.
As “Cartilhas” passaram por mim tão rapidamente o quanto foi a minha passagem por elas.
E veio logo o maravilhoso livro da Primeira Série. Antes que terminasse o primeiro ano.
Aquilo era um acontecimento fantástico.
Fazer o quê se eu não tinha dificuldade no domínio das palavras? Não era necessário cumprir o formalismo de passar um, dois anos a soletrar letras para “descobrir” o som que elas produzem e as palavras que “escondem”.

Os livros sempre me fizeram um imenso bem.
Por isso eu os trato com elevado carinho.
Ao pegar um para lê-lo, custo a soltá-lo. Porque o leio sem pressa, à cassa de encontrar o que as suas entrelinhas tem para me revelar.
Neste primogênito dia de 2010, me presentearam com um belíssimo vinho.

Longe de ser um enólogo, sei que um bom vinho deve ser sorvido aos poucos, a cada gole, sentindo seu cheiro, sua viscosidade e textura, expondo-a à todas as papilas gustativas da boca.
Foi aí que encontrei semelahanças para com a leitura.
Nunca se deve pegar um livro e devorá-lo de sofreguidão.

Sou habituado a conhecer um pouco a editora antecipadamente e, sobretudo, o autor. É com ele que vou manter uma inter-relação e interação, sem que necessariamente seja obrigado a concordar com o enredo final, por exemplo.

Degusto cada palavra e absorvo lentamente as ideias. São elas, muitas vezes, que contextualizam a história.
Não podemos ler uma história sem contextualizá-la, nos apossar dela e relacioná-la à nossa própria história. E por que não?!
O livros não são feitos a penas para serem lidos.

O livro deve ser sorvido, degustado e suas propriedades inaladas pelo cerébro a ponto de aguçar a imaginação.
O livro que não te faz "viajar" revela uma leitura disperdiçada.

É um vinho apodrecido.