No que têm de pior.
A democracia interna vem sendo um traço distintivo do PT, em contraste com a concorrência. O partido nasceu como aglomerado de tendências e grupos. Ao longo dos anos as correntes surgiram, desapareceram, mudaram de nome, fundiram-se.
Mas o mecanismo de disputa ficou essencialmente preservado.
A corrente majoritária, comandada por Luiz Inácio Lula da Silva, manteve o controle absoluto da sigla nestas três décadas, com exceção de um pequeno período. Nenhuma oposição interna conseguiu consolidar-se.
Mas quem quis disputar sempre pôde.
Até o momento ninguém propôs no PT acabar com outro mecanismo democrático: as eleições diretas para escolha de dirigentes partidários nos diversos níveis. Talvez seja questão de tempo.
No Brasil, os partidos funcionam assim. O dono da legenda naquele nível decide tudo. O candidato majoritário, a chapa proporcional, como investir o dinheiro. Os partidos brasileiros são ajuntamentos de caciques.
Abastecidos com dinheiro público, sem precisar prestar contas a ninguém.
Entre convergir para organizações de massas ou de quadros, as siglas nacionais descobriram uma terceira via. O Brasil é o paraíso dos partidos de personalidades.
O sujeito consegue poder sobre uma máquina estatal qualquer, usa-a para sustentar e proteger os amigos, e acabou.
Certo pedaço do PT teme a continuidade de prévias, especialmente num centro vital como São Paulo, pois a disputa poderá deixar sequelas.
Em português mais claro, Lula quer impor o ministro Fernando Haddad como candidato a prefeito ali. E enfrenta resistências.
Pois o PT em São Paulo tem líderes consolidados, além de políticos emergentes. A candidatura de Haddad, de uma penada, aposentará os primeiros e fechará a porta aos segundos.
Na vitória ou na derrota, o hoje ministro da Educação fincará uma estaca como a nova proeminência, a nova referência para o grande público. E uma página terá sido virada. O pensamento de Lula envereda pelas mesmas trilhas tateadas por Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin. Todos estão — ou dizem estar — atrás de um nome que possa representar renovação.
Renovação à brasileira. Na base do dedaço caciquista. “O povo quer um político novo”, informam as pesquisas e os marqueteiros. Desde que seja da confiança dos políticos velhos, informam suas excelências.
É a regra do jogo.
Seria ótimo se, neste ponto, os hábitos do PT contaminassem os demais. O PSDB, por exemplo, vive às voltas com a fraqueza resultante da incapacidade de produzir uma disputa interna democrática e com regras claras.
Mas parece que o processo vai ao contrário.