A gente pensava assim, quando era criança
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Minha namorada adorava o avô. O que ela mais gostava era que ele deixava ela fazer tudo (como qualquer bom avô).
A brincadeira favorita dela era brincar na careca do velho: colocar as bonecas, os carrinhos, desenhar e por aí vai.
Até o dia que ela passou perfume para o vô ficar com a cabeça cheirosa.
Uma semana depois, o velho teve um infarto e morreu.
A menina tinha certeza absoluta que era a única culpada pela morte do avô. Tudo por causa do maldito perfume que ela resolveu passar. Se ela tivesse só se contentado em brincar com as bonecas e os carrinhos, o velho ainda estaria vivo.
Não contou pra ninguém, nem pra mãe, nem pros tios, nem pros primos.
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Assim que fui alfabetizado, tinha mania de ficar lendo tudo que via pela rua. Outdoors, placas, adesivos, parachoques de caminhão, as revistas que ficavam expostas na banca de jornal.
Um dia eu reparei que um prédio estava com uma placa bem grande no portão escrito: “vende-se”.
Parei na frente, olhei pra cima e contei andar por andar, tinham 17.
Fiquei por dias pensando que tipo de pessoa tinha tantos filhos para precisar comprar um prédio inteiro para morar.
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Teve o caso de um cara cuja mãe sempre queimava as bordas da lasanha.