Ex-blog do Cesar Maia

MÉXICO: UM ESTADO ENCURRALADO ENTRE TRÁFICO, ZETAS, POLÍCIA, EXÉRCITO, MILÍCIAS, DEA!


Cesar Maia

linha

Trecho do artigo de Ignacio Ramonet (21), no Le Monde Diplomatique.

1. Há uma guerra interna no México. Ou melhor, três guerras. Numa delas, diferentes cartéis do narcotráfico combatem pelo controle territorial; em outra, grupos Zetas (organizações mafiosas, constituídas por ex-militares e antigos policiais) especializam-se em sequestros e extorsões contra a população; a terceira provém da opressão e abusos cometidos pelos militares e forças especiais contra os civis. Nessas guerras, o número de mortos provocados por elas desde 2003 chega próximo dos 30 mil.

2. O México parece cada vez mais com um "Estado encurralado", preso em uma armadilha mortal. Todos os tipos de agressores armados desfilam pelo país: as forças especiais do exército e os comandos de elite da polícia; bandos de paramilitares e para-policiais; clãs de assassinos e gangues de todos os tipos; agentes norte-americanos da FBI, CIA e da DEA; e por fim os Zetas, que persistem na perseguição dos imigrantes latino-americanos, na travessia em direção aos Estados Unidos.

3. A cada ano, cerca de 500 mil latino-americanos atravessam o México em direção ao "paraíso norte-americano", mas antes de alcançá-lo, seu percurso assemelha-se ao inferno. Ataques sucessivos de hordas predatórias depenam-nos no decorrer da trilha, com roubos, sequestros, violações… Oito mulheres entre dez são vítimas de abusos sexuais; grande parte delas é transformada em "serventes escravizadas" por bandos criminais, ou contratadas como prostitutas. Centenas de crianças são arrancadas de seus pais e obrigadas a trabalhar nos campos clandestinos de maconha.

4. Milhares de imigrantes são sequestrados e para liberá-los, os Zetas exigem de suas famílias o pagamento de um "regaste". "Para as organizações criminais é mais fácil sequestrar durante alguns dias alguns desconhecidos em troca de 300 a 1500 dólares cada um, que correr o risco de sequestrar um grande patrão." Se ninguém é capaz de pagar o regaste dos sequestrados, eles são simplesmente liquidados.

5. Cada célula dos Zetas possui seu próprio carrasco, muitas vezes responsável pela decapitação e esfolamento dos corpos das vítimas, até por queimá-los dentro de barris metálicos. No decorrer da última década, cerca de 60 mil imigrantes ilegais, cujos familiares não puderam quitar o resgate, "desapareceram" dessa forma…

6. Por outro lado, o governo de Obama considera que o banho de sangue que submerge o México ameaça ser um grande perigo para a segurança norte-americana. A chefe da diplomacia, Hillary Clinton, não hesitou em declarar: "A ameaça que representam os narcotraficantes está crescendo; parecendo cada vez mais com a de grupos de insurgentes políticos (…) O México começa a parecer cada vez mais com a Colômbia dos anos 1980."

7. O poder mexicano continua batendo na tecla de que nos últimos anos o viés militar foi a única solução para a desordem e a violência do país. Resultado: cada vez mais os cidadãos parecem concordar com as decisões dos militares diante da situação vigente… Uma solução encorajada sem dúvida pelo Pentágono, apesar de o Departamento e Estado e a Presidência do EUA manterem a velha retórica dos "princípios democráticos".

8. São as máfias norte-americanas que tiram a maior vantagem de todo o narcotráfico latino-americano: cerca de 90% do lucro total, 45 bilhões de euros por ano… Enquanto todos os cartéis da América Latina juntos compartilham apenas os 10% restantes…

                                                * * *

SEGUNDO TURNO DILMA DIZ QUE É CONTRA O ABORTO!

Terceiro turno. Sua ministra da mulher, Iriny Lopes, escolhida a dedo por ela, mesmo antes de assumir já diz que não é bem assim, em entrevista na Folha de SP (27).
 
FSP- A sra. fala sobre o aborto? Sim. Temos a responsabilidade no zelo da saúde pública, dentro da lei, de não permitir nenhum risco às mães.
 
FSP- A sra. tem uma posição pessoal sobre o assunto? Minha posição é que temos que ter muitas políticas de prevenção e de esclarecimento. Agora, eu não vejo como obrigar alguém a ter um filho que ela não se sente em condições de ter. "Ah, é defesa do aborto..." Ninguém defende o aborto, trata-se de respeitar uma decisão que, individualmente, a mulher venha a tomar.

                                                * * *

COCAÍNA QUE SAI DO BRASIL ATRAVÉS DO NORTE DA ÁFRICA PAGA PEDÁGIO À AL-QAEDA!
                
(Estado SP, 28) 1. A droga que sai do Brasil na direção à Europa é um dos pilares do financiamento da rede terrorista Al-Qaeda. Isso é o que revela uma investigação feita pelo governo da Argélia obtida com exclusividade pelo Estado. Ele mostra que, cada vez mais, o norte da África tem se transformado em um dos motores das finanças do grupo terrorista. Entre as maiores fontes de renda hoje da organização está a cobrança de "pedágio" para os carregamentos de drogas vindos dos portos brasileiros, que têm a Europa como destino final.  
                
2. Segundo a Interpol, as novas rotas passam pelos portos brasileiros. Santos e os portos do Nordeste seriam os mais utilizados. Em 2009, por exemplo, cerca de 10% de toda a droga que chegou à Europa de navio e 40% da que chegou à França usou o Brasil como rota, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).
                
3. A caminho da Europa, porém, essa droga passaria pelo norte da África e, lá, encontram grupos dispostos a ajudar fazer a mercadoria chegar até os europeus. Um dos principais grupos que se beneficiam desse "serviço" seria a AQMI, o Al-Qaeda no Magreb Islâmico, com cúpula da organização na Argélia, Marrocos e Tunísia.
                
4. O Escritório Nacional Argelino para a Luta contra a Droga, afirmou que, em 2008, 240 toneladas de cocaína haviam sido apreendidas no país, antes de ser levada à Europa. Em 2009, 52 toneladas foram identificadas apenas no Deserto do Sahel, no sul despovoado do país.   Segundo ele, o produto viria do Brasil, Peru e Colômbia e ao usar o norte da África como rota para a Europa, deixava milhões de dólares para a Al-Qaeda. "A comunicação entre os traficantes de drogas e os terroristas ocorre na região do Sahel", afirmou.

                                                * * *

DEA (AGÊNCIA ANTIDROGAS DOS EUA) É HOJE UMA REDE GLOBAL DE INTELIGÊNCIA!

(WikiLeaks - New York Times - La Nacion, 27) 1. A DEA possui 87 escritórios em 63 países e trabalha em estreita colaboração com os governos, que preferem manter a CIA a uma certa distância. Devido à presença global do flagelo da droga, a DEA tem acesso aos governos, incluindo os que mantêm relações tensas com os EUA. Vários querem tirar vantagem da capacidade tecnológica da agência indo além do foco das drogas.

2. No Panamá, mensagem urgente do presidente pedia ao embaixador dos EUA que a DEA grampeasse seus inimigos. Em Serra Leoa, uma importante investigação judicial por tráfico de cocaína esteve a ponto ser desativada porque o procurador geral pretendia 2,5 milhões de dólares de suborno. Os altos comandos das forças armadas mexicanas levaram a DEA pedidos pessoais de colaboração, confessando sua desconfiança nas forças policiais do país.

3. Na Guiné, o maior capo do narcotráfico era o filho do presidente, e diplomatas dos EUA descobriram que antes de uma gigantesca incineração de cocaína capturada pelas autoridades, esta havia sido substituída por farinha. Os cabos enviados desde Myanmar, alvo de estritas sanções dos EUA, revelam os informantes da DEA, enviavam informações tanto de modo que a junta militar se enriquecia com o dinheiro da droga como das atividades políticas dos opositores da junta.

4. Desde o '11 de Setembro', os altos funcionários da agência sublinham a existência de um vínculo cada vez mais extenso entre o narcotráfico e o terrorismo, o que justificaria sua maior presença no exterior.

                                                * * *

DEA DIZ QUE ÁFRICA OCIDENTAL CAI NAS MÃOS DOS NARCOTRAFICANTES!

(WikiLeaks - El País, 27) 1. Filhos de presidentes convertidos em grandes capos. Ministros e comandos militares que protegem gigantescos envios de drogas. Portos e aeroportos controlados pelos cartéis. Vistosas incinerações de cocaína que na verdade eram farinha ou detergente. O panorama que enfrenta a DEA na África Ocidental não pode ser mais desalentador, lendo os cabos emitidos por várias embaixadas da região. As unidades de segurança pública têm sido cooptadas pelo narcotráfico.

2. Alguns países, como Guiné-Bissau "são presas de organizações criminais oportunistas e sofisticadas". Outros como Serra Leoa ou Libéria, se defendem como podem. Mas no conjunto, "O tráfico de drogas está aumentando, e sem uma vontade política forte para combater o flagelo, a África Ocidental será incapaz de deter essa maré perigosa", informa a embaixada dos EUA em Serra Leoa em abril de 2009.

3. O embaixador dos EUA em Guiné Conakry, Phillip Carter, em maio de 2008, informou que seu interlocutor o primeiro ministro Lansana Kouyaté "se levantou da cadeira, antes de explicar que Ousmane Condé, filho do presidente, era de fato o principal narcotraficante". Um avião vindo da Venezuela ou Colômbia foi interceptado em Faranah, mas pouco depois a tripulação e o carregamento de cocaína foram liberados. O chefe da polícia, quando questionado, informou que a operação estava dirigida pelo filho do presidente.

4. Guiné Conakry se acerca de Guiné Bissau "este, o primeiro narco-estado emergente na África". Aí nem há necessidade de simulação de incineração de cocaína como na Guiné Konakry. Outro cabo da embaixada dos EUA no Senegal diz que "as unidades de segurança pública estão cooptadas pelo narcotráfico". Na frente dessas redes estão o ministro da defesa e o chefe das forças armadas. Não há provas contra o presidente João Vieira, mas este prefere "olhar para o outro lado".

5. Os cabos da embaixada dos EUA em Accra -capital de Gana- são igualmente sombrios. Os responsáveis da Nacob -agência antidrogas local- não veem a droga passar diante de seus narizes e em suas agendas foram identificados os telefones dos principais capos.

                                                * * *

ARGENTINA: EXPOSIÇÃO DAS CRIANÇAS AOS PROGRAMAS DE TV!

Trecho do artigo do diretor de programa de educação do Cippec - La Nacion, 27.

Segundo a última pesquisa sobre cultura de consumo do COMFER, 95% das crianças de 6 a 13 anos assistem a mais do que duas horas diárias de televisão; 36,5% assistem de duas a quatro horas por dia; 41,2% de quatro a oito horas; e 17,5% assistem a oito ou mais horas de televisão diariamente. Isso significa que mais da metade das crianças passa mais horas vendo televisão do que na escola. Um levantamento da Fundação Telefônica mostra que mais de 50% das crianças ligam a TV assim que chegam em casa, e que 49% fazem os deveres assistindo TV, os índices mais altos entre os sete países da América.
Compartilhe

Twitter do Cesar Maia

Facebook

Cesar Maia Responde

Acesse o site


L3R ? 3NT40 CL1K4 N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !

José Alencar não quer perder a posse de Dilma Rousseff


Internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o vice-presidente José Alencar não quer perder a posse da presidente eleita Dilma Rousseff, no próximo sábado (1º). Porém, de acordo com os médicos, não há previsão de alta.

O médico Roberto Kalil Filho afirmou nesta segunda-feira (27) que não recomenda que o vice-presidente José Alencar vá à cerimônia de posse da presidente eleita e do vice-presidente Michel Temer, no próximo sábado (1º), em Brasília.

Kalil Filho, que faz parte da equipe responsável pelo tratamento de Alencar, disse que, na opinião dele, o vice-presidente não tem condições, no momento atual, de comparecer à solenidade.

O vice-presidente está internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde a última quarta-feira (23), quando passou por uma cirurgia de emergência por causa de hemorragia digestiva grave.

De acordo com o médico, o quadro de saúde de Alencar é estável. Ele é submetido a sessões de hemodiálise.

 

 L3R ? 3NT40 CL1K4 N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !



Staub vê Lula estadista e declara voto

Nos últimos meses, o empresário Eugênio Staub, 60, presidente da Gradiente, uma das maiores empresas do setor eletroeletrônico do país, viveu um dilema. Amigo há quase 20 anos do candidato à Presidência José Serra e eleitor histórico do PSDB, ele estava dividido entre votar no tucano ou no petista Luiz Inácio Lula da Silva. Há um ano, ele mantinha conversas frequentes com Lula. Poucos tinham conhecimento disso. Os dois discutiam um projeto econômico para o Brasil.
Na semana passada, depois de assistir ao programa de Serra com ataques ao PT, ele comunicou ao PT que iria votar no Lula e que gostaria de tornar pública sua decisão. Na sexta-feira passada, Staub gravou um depoimento de 30 segundos para o programa eleitoral do PT, que foi ao ar na noite de sábado. Foi o primeiro grande empresário de São Paulo a declarar o apoio a Lula.
Em entrevista exclusiva, concedida à Folha depois de gravar sua participação no programa, Staub diz que tomou essa decisão por achar Lula, hoje, o candidato com melhores condições de elaborar um projeto nacional aglutinando todos os segmentos da sociedade. “O Lula é o nome mais capaz de juntar empresários, trabalhadores e classe média”, diz Staub.
Folha – Por que o sr. decidiu votar no Lula?
Eugênio Staub – A questão é ampla. O Brasil está numa grave crise. Na verdade, o mundo está num momento de grave crise. Nós não sabemos se haverá uma guerra e que consequências poderá trazer essa guerra. O momento é extremamente crítico.
O governo Fernando Henrique Cardoso fez o papel dele e ele mesmo reconhece que há ainda muita coisa por fazer. E essas coisas a fazer são difíceis. Só podem ser conseguidas com união. Quem tiver uma visão mais míope disso vai dizer que o melhor candidato a promover essa união é aquele que tenha maior apoio do Congresso. Não é por aí.
Independentemente do partido, nós temos que fazer parte do PC no B, que é o Partido da Confiança no Brasil. Nós temos que restituir a auto-estima do país. Eu tenho certeza que esse é o sentido do “Lulinha, paz e amor”.
O Lula falou uma coisa importante, de improviso, na casa do empresário Ivo Rosseti (Valisère), que, mesmo que o PT perca as eleições, iria continuar como um partido muito importante para ajudar a construir o país. Eu acho essa uma visão de estadista.
Folha – O sr. acha que o Lula reúne mais condições do que o Serra?
Staub – As pessoas podem ficar assustadas com essa afirmação, por todas as razões que a gente conhece, mas o Lula tem essa visão de estadista. Por outro lado, o José Serra, que eu conheço até muito melhor, há 18 anos, e respeito e gosto, que é competente, inteligentíssimo, eficiente, obsessivo nas coisas que faz, não é o nome que reúne hoje as melhores condições para conseguir essa união da sociedade.
O cargo de presidente da República exige uma pessoa 100% política, já o cargo de ministro, dependendo do ministério, é 50% político e 50% técnico, e daí para baixo é técnico. Nós temos de ter um político na Presidência.
Um dos melhores presidentes que tivemos foi o Juscelino Kubitschek. Ele era 100% político. Fez Brasília, fez estradas, fez a indústria automobilística. Ele era um estadista, um político, uma pessoa que somava, que perdoava os inimigos, tinha uma visão estratégica para o país.
Hoje nós não temos mais visão estratégica para o país, não temos mais planejamento e vivemos numa grande crise interna e externa. É a hora de unir o país e é hora de pôr na Presidência um candidato com visão estratégica.
Folha – O Lula é essa pessoa?
Staub – Eu acho que os historiadores vão reconhecer o Lula melhor do que nós hoje. O Lula saiu da situação de operário metalúrgico e conseguiu uma grande influência no cenário nacional nos últimos 25 anos. Ele está sempre presente e sempre crescendo.
A história vai registrar que ele construiu um partido coerente, um partido que tem um nível de integridade moral e ideológica acima dos demais, um partido que expulsa um membro que saia da linha. Eu não sou petista e não tenho pretensão de pertencer a partido nenhum, mas, se a gente olhar para a vida do Lula, não tem como não admirá-lo e, mais, não é justo tratá-lo com preconceito.
Se prestar atenção no que ele tem dito, conclui-se pela coerência e correção de quase a totalidade de suas afirmações.
Folha – O sr. já o tratou com preconceito?
Staub – Eu acho que todos nós, em algum momento, tivemos preconceito dele, até porque não o conhecíamos. Um empresário me falou que, após uma reunião com o Lula, disse a ele que pensava que ele fosse o pior dos seres humanos. Lula respondeu da seguinte forma: “Eu também, mas hoje estamos nos entendendo”.
Folha – Quando o sr. decidiu votar no Lula?
Staub – Eu sempre fui PSDB, sempre votei no PSDB, cheguei a dizer que iria votar no Serra, mas eu sentia desconforto com essa decisão por inércia, e, nos últimos dois meses, eu fui me convencendo de que numa situação tão crítica como essa nós precisávamos de um nome que transcendesse a coalizão dos partidos no Congresso. Eu estava sentindo esse desconforto e quando o PSDB lançou essa nova tática eleitoral, não sei se acertada ou não [de atacar o PT], eu achei que era o momento de apoiar um candidato que somasse. Qualquer um dos outros candidatos não vai ter a mesma condição de unir a nação em torno de um novo e dinâmico projeto estratégico. O Lula vai ter? Não sei, mas é o que tem mais chances.
Folha – O sr. não aprovou a nova tática de atacar o PT da campanha de Serra?
Staub – É uma operação de guerra. É uma tática que não se coaduna…talvez ele não tenha mesmo outra alternativa.
Folha – Como o sr. manifestou seu apoio ao Lula?
Staub – Eu já tinha conversado com o Lula. Eu disse a ele que, no momento certo, eu iria me sentir bem em declarar publicamente meu apoio à sua candidatura. Eu estava pensando até em juntar um grupo de empresários, mas acho que, como a maioria do empresariado está com Serra e o Serra aparentemente vai para o segundo turno, essa pretensão se tornou muito difícil. Então, consultei minha consciência e falei com a pessoa certa que está cuidando dos detalhes da programação da campanha.
Folha – O sr. não teme que essa sua adesão, agora, na reta final, seja confundida com oportunismo?
Staub – As interpretações de alguns companheiros poderão ser ruins, mas quem me conhece sabe que não estou fazendo isso para buscar alguma vantagem. Nem para a empresa nem para mim.
Folha – O sr. quer que Lula o ouça?
Staub – Não estou esperando isso. O que posso dizer é que estou muito impressionado com a preocupação do PT em ouvir o maior número de pessoas sobre o que deve ser feito. Esta é uma diferença muito grande dos outros partidos. Ultimamente, o PSDB faz reuniões com empresários para pedir dinheiro. O PT faz reuniões com empresários para pedir conselhos. Isso foi outra coisa que pesou nessa minha decisão. Você só constrói alguma coisa se você, além de falar, também ouvir. Eu vejo hoje no PT um respeito muito maior à opinião dos empresários do que nos outros partidos…
Folha – …inclusive no PSDB?
Staub – …inclusive no PSDB. O PSDB não é um bom partido de dialogar com os empresários. Ele não valoriza o diálogo com os empresários. O PT valoriza muito. No PT não tem nada a ver com “você me dá a opinião e quanto você vai doar para custear a campanha”. Não tem nada disso. Eles querem saber sua opinião e, se tiver uma dúvida, eles voltam e discutem. Já iniciou-se comigo um diálogo na preparação de alguns projetos. Eu recebi dois desses projetos antes de ir para publicação. Portanto, esse negócio de criar um projeto de consenso é uma coisa legítima. Não é uma enganação do Lula. Isto é uma coisa que pesou muito numa decisão como essa. Nós temos de pensar no “day after” e construir um novo projeto para o Brasil.
Para isso, é preciso de alguém com apoio político que transcenda o Congresso. As grandes mudanças feitas pelo Congresso na última década partiram da sociedade. E a mídia teve um papel importantíssimo nesse processo. O impeachment do Collor foi a sociedade que fez, e não o Congresso. A quase cassação dos senadores e a expulsão dos deputados são coisas da sociedade. O Lula é o mais capaz de juntar empresários, trabalhadores e classe média.
Folha – Para fazer um pacto?
Staub – Eu não falo em pacto porque se trata de uma palavra desgastada, mas é um pacto. Isto é que vai fazer o Congresso se mover. Há ainda muita desconfiança e preconceito de parte a parte. Hoje, eu acho que as desconfianças e os preconceitos estão mais localizados na elite. Você tem os xiitas do lado de lá e os xiitas, que ninguém fala, do lado de cá, do lado da elite. Os xiitas daqui são piores porque ainda têm dinheiro. Você precisa juntar os que estão entre esses dois extremos. Para isso, precisamos de um político, uma pessoa que enxergue isso, e não uma pessoa que tenha se atritado com todo mundo…
Folha – …como o Serra?
Staub – Não vou falar do Serra, mas não podem ser pessoas que tenham arestas. O Fernando Henrique tem grande aptidão para isso, mas não é mais elegível. Ele demonstrou isso quando disse que não precisa de ninguém formado para ser presidente. Isso desmente o candidato dele.
Fernando Henrique é uma dessas pessoas que enxerga o todo e conversa com todo mundo. Agora é a vez do Lula. O diploma é muito importante no início de uma carreira. Nessa idade que eu estou, que o Lula está, o que você aprendeu na vida supera o diploma. E, no caso específico do Lula, é até uma maldade dizer que ele ficou sem fazer nada durante esses últimos anos. Ele conhece o Brasil como muito pouca gente.
Qualquer assunto que se converse com ele, ele viu “in loco”. Ele conhece a coisa no chão do Brasil, enquanto outros conhecem fazendo PhD nos Estados Unidos, ou cursos em Harvard, ou ainda em gabinetes, que também são formas lícitas de adquirir conhecimento. O dele é um conhecimento prático. O Lula também é uma pessoa idônea. Eu conheço empresários que negociaram com ele, no calor das disputas sindicais, e todos acordos que fez ele cumpriu até o fim.
Folha – Como o sr. acha que essa sua decisão será recebida por seus colegas empresários?
Staub – Isso não vai ser muito bem compreendido, principalmente por pessoas do meu meio, pelo menos de imediato.
Folha – O sr. acha que não irá conseguir arrastar outros empresários a tomar essa mesma decisão?
Staub – Espero que muitos venham a dar esse passo, já que todos terão que dar no final.
Folha – O sr. foi um crítico do governo Fernando Henrique Cardoso. Não há, nessa sua decisão, um certo rancor com este governo?
Staub – Eu sempre tive muita afinidade com o PSDB e, num certo momento, passei a ser crítico da política econômica. Outras coisas são positivas. Em ciência e tecnologia houve um progresso. Em educação também, mas o governo está terminando e o momento é de olhar para a frente.
Folha – O sr. sempre criticou, por exemplo, o fato de o governo não ter feito uma política industrial.
Staub – Mas agora será feito. O próprio PSDB, se ganhar as eleições, vai fazer. As lições foram aprendidas. Não se trata de quem vai fazer política industrial ou não, e sim de quem vai botar o país nos trilhos. O “Lulinha, paz e amor” não é uma frase de efeito.
Folha – Uma das críticas que se faz ao Lula é o fato de ele não ter equipe econômica.
Staub – Quando Fernando Henrique foi empossado no Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco, ele nunca tinha tido atividade executiva. Ele tinha sido parlamentar e chanceler, mas teve visão política para chamar as melhores pessoas. Nenhum partido tem a melhor equipe, e equipe econômica não é tudo. Há uma distorção no país em achar que o ministro da Fazenda exerce funções de primeiro-ministro. Não é assim. O Ministério da Fazenda e o Banco Central são muito importantes para garantir a estabilidade econômica do país, mas o resto do governo é que vai fazer o resto.
Folha – Por que o Lula ainda causa tanto medo? Nas últimas semanas, o mercado vive um clima de pânico com a possibilidade de vitória do PT no primeiro turno.
Staub – O Lula não assusta os brasileiros. O Lula assusta uma parte dos brasileiros. Aqui, por exemplo, existe essa entidade chamada mercado. Tem Deus e o mercado. O mercado é constituído de dois tipos de grupos de interesses. Tem aquele que é investidor, nacional e estrangeiro, que está atrás do melhor negócio. E tem aquele que é o intermediário, que está atrás da volatilidade para obter o ganho.
O medo do primeiro grupo é o de que, com Lula, a remuneração do capital não seja mais tão boa como era. Isso é miopia. Miopia porque, se continuar do jeito que está, com juros nessas alturas, o país vai quebrar. Já o raciocínio do outro grupo, que influencia a mídia, é o de ganhar quando o dólar sobe muito ou cai muito.
O mercado tem essas duas metades e, por isso, tem interesses. Os interesses falam mais alto. Não estou dizendo que o mercado que se lixe, mas nós temos de construir novos fundamentos na economia em parceria com o mercado, até porque não se pode deixar de falar com os banqueiros. O objetivo é fazer o país voltar a crescer a taxas de 7% e fazer com que o mercado de ações passe a ser mais importante que o de renda fixa.
Nos países desenvolvidos, o maior interesse dos investidores não é nos juros que o Banco Central estabelece, e sim a Bolsa. Nós precisamos evoluir para isso.
Folha – O sr. não teme que o Lula, caso vença, abandone essa sua postura mais conciliadora?
Staub – Isso é outra falácia. Muitas pessoas me falam para eu ter cuidado com o Lula. Dizem que ele é um lobo vestido de cordeiro. Ouvi isso várias vezes nas últimas semanas. Isso não é um depoimento contra o Lula e sim contra o Brasil. A democracia brasileira não permite uma coisa dessas.
Outro dia um empresário americano me perguntou se o Lula não seria um novo Chávez [Hugo Chávez, presidente da Venezuela]. Com todo o respeito, mas o Brasil não é a Venezuela. O Brasil tem instituições, tem imprensa e esse negócio de que o Lula está enganando a todos nós e depois vai voltar a ser radical e só vai chamar para o governo a ala xiita do partido, que é minoritária, isso é impossível de acontecer. No dia seguinte, a mídia irá denunciar isso. Ninguém melhor sabe disso do que o Lula.
Folha – E como o Lula será recebido lá fora?
Staub – Acho que ele deve ser recebido com respeito. O único presidente que foi recebido duas vezes pelo Congresso americano foi João Goulart. O Brasil precisa ser respeitado. Nós temos uma grande desigualdade social, nós temos potencial de crescimento, e precisamos pagar essa dívida social. Isso até o mais radical político de direita de um país desenvolvido vai entender.
Folha – E se o Serra vencer? Com o sr. fica?
Staub – Se o Serra ganhar, ele será um excelente presidente, e tenho certeza que ele terá grandeza suficiente para entender meu ato.
Folha – Se convidado, o sr. aceitaria um cargo num eventual governo Lula?
Staub – Não é o momento de tratar disso, e sim de projetos. Tendo um projeto que faz sentido, o Lula irá buscar as pessoas mais competentes para isso e vai ter de estabelecer um diálogo permanecente entre iniciativa privada e governo. Estou muito feliz em participar dessa mesa pelo lado da iniciativa privada.
GUILHERME BARROSda Folha de S.Paulo