Paulo Coelho - o jogral de Nossa Senhora


Conta uma lenda medieval que, com o Menino Jesus nos braços, Nossa Senhora resolveu descer a Terra e visitar um mosteiro.

Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um postava-se diante da Virgem, procurando homenagear a mãe e o filho. Um declamou belos poemas, outro mostrou suas iluminuras para a Bíblia, um terceiro disse o nome de todos os santos. E assim por diante, monge após monge mostrou seu talento e sua dedicação aos dois.

No último lugar da fila havia um padre, o mais humilde do convento, que nunca havia aprendido os sábios textos da época. Seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num velho circo das redondezas, e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para cima e fazer alguns malabarismos. Quando chegou sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer, e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si para Jesus e a Virgem.

Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, ele tirou algumas laranjas do bolso e começou a joga-las para cima, fazendo malabarismos - que era a única coisa que sabia fazer.

Foi só neste instante que o Menino Jesus sorriu, e começou a bater palmas no colo de Nossa Senhora. E foi para esse que a Virgem estendeu os braços, deixando que segurasse um pouco a criança.

Prá desopilar

247 Entrevista Miruna Genoino

Gisele Federicce 247 - O constrangimento financeiro imposto pela Justiça ao ex-deputado José Genoino não se limita à multa de R$ 667,5 mil, que deverá ser paga com recursos obtidos junto a militantes do Partido dos Trabalhadores. Hoje, Genoino também está sendo forçado a pagar aluguel, porque foi impedido por Joaquim Barbosa de cumprir prisão domiciliar em seu domicílio, numa das decisões mais surreais da história do Judiciário brasileiro.
Como não pôde regressar a São Paulo, onde reside numa moradia simples, no Butantã, Genoino hoje paga aluguel para cumprir sua "prisão domiciliar" fora de casa, em Brasília. A revelação foi feita por Miruna Genoino, em entrevista ao 247. Leia abaixo: 

247 - Como tem sido a rotina do seu pai, você tem passado bastante tempo com ele desde que foi preso?

Miruna Genoino - Não podemos falar em rotina, já que meu pai está cumprindo uma prisão DOMICILIAR fora de seu domicílio, com todas as complicações que tal tipo de situação acarreta. Por isso eu mesma não tenho estado bastante tempo com ele pois moro em São Paulo, trabalho lá, e com isso minha disponibilidade acaba ficando bastante limitada. Atualmente tenho estado mais próxima pois estou de férias, mas as mesmas já estão encerrando-se.
247 - Onde ele cumpre prisão domiciliar neste momento?
Miruna - Em uma casa alugada. É um absurdo, meu pai está pagando para cumprir prisão domiciliar.
247 - Soube que você o acompanha em alguns exames. São a pedido do médico dele?
Miruna - Sim, e porque ele teria que ter retornado a São Paulo dia 07/'01 para uma consulta com o Dr. Kalil para reavaliar sua recuperação, mas como esse pedido foi negado pelo presidente do STF, tivemos que repensar a estrutura de apoio médico, aqui em Brasília.
247 - E como está o estado de espírito dele nesse momento? Como ele reagiu à decisão sobre a multa?
Miruna - O estado de espírito do meu pai é de muita indignação e revolta, mas também de determinação de não se curvar perante às injustiças. Não podemos falar muito mais sobre isso, nem sobre a reação dele, inclusive porque meu pai está proibido de emitir uma opinião pública e não sabemos se comentar sobre sua reação pode ser interpretado como um incumprimento a esta determinação absurda.
247 - Você disse não concordar com a tese, defendida pelo 247, de que o pagamento da multa é uma forma de recuar juridica e politicamente. Por quê?
Miruna - Porque meu pai está preso não porque recuou e aceitou a pena, mas sim porque se vê obrigado a aceitá-la por determinação judicial. Com a multa acontece a mesma situação, não vamos lutar por arrecadar o necessário para o pagamento porque desistimos de lutar, muito menos porque ele é culpado, muito pelo contrário

O mundo encantado de Genoino


Longe de ser um conto de fadas, a história do ex-deputado preso por envolvimento no mensalão tem capítulos escritos na pequena Vila de Quixeramobim. Lugar que guarda, além da memória do menino que lá iniciou os estudos e lavrou a terra, a dor da mãe, a saudade dos amigos e revolta dos críticos
Tentaram esconder dela a recente prisão do filho mais velho. Teimosa que só vendo, escavacou dali, espiou acolá, até dar de cara com a verdade. Estamos falando de Maria Laiz Nobre Guimarães, mãe de José Genoino (PT), condenado a seis anos e 11 meses de cadeia por envolvimento no mensalão. A professora aposentada, de 87 anos, faz questão de deixar clara sua dor. 

De bengala na mão e olhar muito vivo, dona Laiz aparece como uma das personagens principais dessa jornada pela Vila Encantado, em Quixeramobim. Foi lá que o ex-deputado nasceu, iniciou os estudos, trabalhou na lavoura até largar a enxada e ir em busca de voos mais altos. Um pedacinho do sertão que guarda muito da memória do ex-presidente nacional do PT. Lugar ainda perplexo diante dos últimos acontecimentos envolvendo um dos filhos ilustres.

Um dos poucos que ainda não sabe do acontecido é Sebastião Genoino Guimarães, pai do ex-deputado. Aos 91 anos e bastante debilitado- há pouco se submeteu a uma delicada cirurgia -, ele é preservado de qualquer notícia que possa agravar seu quadro. Atualmente, alimenta-se via sonda, e pouco fala. Na sala ao fundo, sob uma penumbra, recebia os cuidados de uma enfermeira. E lançava olhares perdidos para além da porta.


Na varanda, antes mesmo de ser provocada a tocar no assunto, Laiz partiu em defesa dos filhos que, para sua decepção, enveredaram pelo rumo da política. Além de Genoino, que fez carreira em São Paulo, viu José Guimarães se tornar deputado federal pelo Ceará e líder do PT na Câmara.


“A gente tinha um açude muito grande, tinha 10 vacas leiteiras, um posto de gasolina, tinha uma cisterna, tudo ao redor de casa, mas os jornalistas vieram do nada e acabou-se. Mas a única coisa que eu tenho a dizer pra vocês é que são dois deputados pobres (Guimarães e Genoino). Eu tô contando que eu já passei por muita coisa difícil. De ficar sem dormir. Esse aqui (aponta para o marido) mandava eu ir dormir, naquela arrumação que fizeram com o Guimarães. E não era perseguição, não? Não dava pra eu ter nervoso, não? Mãe é mãe! Ficar noites sem dormir, sem saber como é que estão os filhos, pelo mundo de meu Deus”.

Bom dia !

Bom dia !

O lago e o Narciso

Quase todo mundo conhece a história original (grega) sobre Narciso: um belo rapaz que, todos os dias, ia contemplar seu rosto num lago.

Era tão fascinado por si mesmo que, certa manhã, quando procurava admirar-se mais de perto, caiu na água e terminou morrendo afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que passamos a chamar de narciso. O escritor Oscar Wilde, porém, tem uma maneira diferente de terminar esta história. Ele diz que, quando Narciso morreu, vieram as Oréiades - deusas do bosque - e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.

- Por que você chora? - perguntaram as Oréiades.

- Choro por Narciso.

- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - continuaram elas. - Afinal de contas, apenas de todas nós que sempre corremos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.

- Mas Narciso era belo? - quis saber o lago.

- Quem melhor do que você poderia saber? - responderam, surpresas, as Oréiades. - Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias. O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse:

- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo.

"Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida".