Cena mortal de um jantar de família qualquer

Nostalgia de tiozão é uma merda 

Comida suficiente para alimentar um destacamento completo do exército, tias discutindo os últimos acontecimentos do folhetim das 21h, priminhos correndo num zigue e zague do inferno e tomando Coca-Cola como se fosse água. Mãe, pai, avô, avó e aquele namorado mal encarado da sua prima só se preocupam com a comida.
No meio dessa trama há, houve e sempre haverá aquele tio que você não vê com frequência, não conversa muito e nem tem intimidade suficiente. Vive nesse personagem – como se fosse um segundo coração a pulsar – a insistência em puxar os assuntos mais constrangedores nos momentos errados.
É dar espaço e ele vai dizer que está tudo acabado para o “cidadão de bem”, que a saída possível é amarrar todo mundo no poste e descer o porrete. Em dado momento da noite, ele – sempre ele – vai se ver no papel de dizer que “não tem preconceito, mas…”
No entanto, nada é tão frágil ou me atinge mais do que aquela velha muleta lógica “no meu tempo”, “na minha época”, “naquele tempo”. Esse gosto por amar o retrovisor é comum tanto na cena horripilante do jantar de família quanto no papo de boteco. Você não sabe de onde vem, mas em dado momento alguém saca do bolso as glórias de décadas que morreram de velhice.
Lembro do dia em que estava numa dessas festas de apartamento, conversava sobre cinema e televisão e um tiozão precoce, três ou quatro anos mais velho que eu, sacramentou: “Tá aí… Taxi Driver. Não se faz mais filmes assim!”
Fiquei incomodado.
Não pelo filme, um Scorsese fodão, puro sangue, coisa fina em todos os sentidos. Mas pela sentença prepotente, unilateral, rígida.
Retruquei: “Pô, beleza, mas o que você tem visto de novo?”
A resposta foi tão vaga quanto se podia esperar: “Ah, não tenho mais saco para esses filmes de hoje em dia”.

Carnaval

Neno Cavalcante

Vivaaaaa!

Aplaudo os que defendem a candidatura do atual presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, à Presidência da República. Afinal, ele se tem revelado um democrata exemplar:
Todos os ministros da Corte têm o inalienável direito de concordar com ele.

Validade vencida

Por zegrilo

Sinceramente, sinto pena de JB. Ele criou para si mesmo uma personagem e acreditou nisso. Acreditou mais ainda ainda quando essa personagem servia aos interesses de certa classe e interesses políticos.Virou o Batman. O menino pobre que salvou o Brasil. O tempo passou. O tempo não pára.

JB não serve mais. Já cumpriu o papel. Parece esses conjuntos musicais criados pela mídia e a indústria do disco para ganhar dinheiro por um certo e proveitoso tempo. Mas a obsolescência já está programada. A personagem não interessa mais. JB ainda não se deu conta disso. É questão de tempo, outra vez o tempo. 

Será trágico quando JB, o homem real, perceber que as senhoras que o aplaudiam nos restaurantes do Rio ou Brasília,  simplesmente o ignorararão, mudarão de calçada, quando o virem, pelo ostracismo a que será relegado.

imaginem a depressão, totalmente justificada de JB, quando esses que hoje o incensam como herói , acharem que ele, em vez do elevador social,  deveria pegar o elevador de serviço.

A hipocrisia como ela é

Se digo:
Eu não chuto em cachorro morto...tudo bem.
Se digo:
Eu não chuto em macaco morto...tudo mal.
A hipocrisia vigora!

Professor Wilson - minha Mãe foi atendida por um médico cubano

Os fatos bastam.
Quando, no ano passado, eu defendia a chegada de médicos cubanos, uma das ameaças mais comuns das pessoas que “debatiam em mim” (pq no Facebook é assim) consistiu em desejar que alguém da minha família fosse atendido por um deles. Faz parte do padrão de ataque conservador quando você não adere ao “pega! esfola!” ou não se junta à milícia unidimensional: “está com pena de bandido, leva pra casa”, “é contra antecipação da maioridade penal, quero ver quando estuprarem alguém seu”, “gosta de médico cubanos, tomara que um deles atenda a sua mãe”.
Pois não é que aconteceu o que gentilmente me auguraram acerca dos cubanos? Camacã, 20 mil almas, tem orgulhosamente o seu “médico cubano”, um rapaz bonito e atencioso, segundo a minha mãe. Tem também e sempre teve outros médicos, brasileiros, alguns bonitos, alguns que eram atenciosos quando lá chegaram. Desde que me entendo por gente, todo médico que por lá desembarca tem por meta, além daquelas associadas ao seu mister, enriquecer. “Enricar”, no dialeto local. E isso acontece em 10 anos, em média. Quase todos viraram fazendeiros de cacau e, basta ver como foram as últimas cinco eleições por lá, são políticos e empresários. Nada contra enricar, embora eu seja incompetente nesta área, tudo contra o que acompanha esse processo do lado da medicina: desatenção, arrogância, desprezo pela vida e o sofrimento alheios. As “histórias de médico”, em que se narram os tidos e havidos quando alguém precisou de serviços hospitalares ou atendimento de urgência, são histórias de horror, desrespeito e humilhação dos mais vulneráveis.
Pois a minha mãe adorou justamente por isso o cubano do Posto de Saúde. A cadeira para ela estava do lado da dele, houve escuta, falou-se de mãe distante e de saudades da família, tudo isso enquanto se examinava a paciente. É uma questão de eixo: acostumamo-nos todos a um eixo vertical, em que o paciente está embaixo, bem embaixo, e o doutor lá em cima (“paciente tem que ter paciência” divertem-se os profissionais de saúde); mas há mais humanidade no eixo horizontal, em que dois seres humanos, um que padece e o outro que cuida, colocam-se no mesmo nível (paciente é quem sofre, diz a etimologia). 
Nem sempre a interação médico-paciente foi desse jeito no Brasil, mas a experiência com os cubanos ao menos deu a velhinhas como minha mãe a percepção de como as coisas poderiam ser diferentes. No mínimo, os cubanos do #MaisMédicos  trouxeram mais civilidade, humanismo, compaixão ao atendimento clínico. No mínimo. Trouxeram mais competência? Não sei, mas com certeza a minha cidade não era um paraíso de competência médica que poderia declinar com a chegada de quem quer que fosse. Mas, como me disse Dona Maria, pelo menos (a) o médico está lá e (b) te vê. E isso certamente não é pouco.

Democracia e nossa elite

- O melhor do leite é?
- A nata!
- Do que a nata é feita?
- Do que de pior, do mais ruim e prejudicial que existe no leite.
- Ah, por isso que o pior do Brasil é nossa elite.
- Isso. E a tucademopiganalhada é o que existe de pior. Dependesse deles, democracia seria a vontade deles, sem a nossa participação.