Sobre indulto e bundas, por Luís Carlos Valois

por Luís Carlos Valois

Conta a lenda que, no reinado de Luís VI, na França, um condenado a galés – uma espécie de pena que consistia em remar no porão de navios sob chicotadas ou exercer trabalho forçado em algum campo de concentração medieval, invariavelmente até a morte – quando era levado para o local de cumprimento da sanção, encontrou o rei na estrada e disse que queria um presente.

"Sei o que vai pedir', disse o rei, 'que eu salve a sua vida'.

'Não, Sire, isso não, mas se eu disser o senhor promete pela sua alma fazer o que eu pedir? O rei jurou que sim, contanto que ele não pedisse a remissão da pena.

'Só peço, Sire, que beije minha bunda depois que eu morrer'

 Ele conseguiu o perdão" (DAVIS, 2001, p. 103).

O perdão, a remissão ou o indulto da pena estão na história da punição. Desde que se pensou em punir, a ideia de perdão acompanha a pena, seja pela possibilidade sempre presente do erro do julgador, seja pela ineficiência, ineficácia efetiva, da própria punição.

O indulto concedido pelos reis era uma prova de soberania, uma forma de sua majestade demonstrar um poder tão supremo que equivaleria ao do próprio deus, perdoando aquele que cometeu um crime, mesmo julgado e condenado pela justiça dos homens.

Podendo ser concedido de forma ilimitada no início, aos poucos o indulto foi se adequando a certas exigências e ritos a serem seguidos pelo próprio rei. Com a Revolução Francesa, a queda da monarquia, e a vitória dos postulados iluministas de garantia do "cidadão" frente ao Estado, o indulto deixou de ser prova de poder divino, mas continuou nas legislações de todo o mundo como manifestação de soberania.

Não só de soberania, mas também, e principalmente, como forma de amenizar as deficiências da punição, pois, com o tempo, o indulto acabou se tornando uma expectativa, uma esperança positiva, dentro de um emaranhado de circunstâncias negativas inerentes à prisão, a principal pena aplicada. No Brasil, expostas de maneira absurda suas condições ilegais, violadoras do ordenamento jurídico que prevê a própria prisão.

É como se o nosso sistema penitenciário fosse a bunda do condenado, à mostra, evidente, colocando todos em situação de constrangimento ao perceber que a pena que se aplica é aplicada de forma ilegal, sem cumprimento dos preceitos mais básicos da Lei 7.210/84, a Lei de Execução Penal. A pena que se aplica no Brasil é tão ilegal quanto os próprios crimes que se cometem.

Concede-se, portanto, o indulto, ameniza-se a ilegalidade, diminui-se o tempo de cárcere imundo e insalubre a que o sentenciado tem sido submetido.Tecnicamente, não se trata de uma medida alternativa à prisão, porque o indulto é causa extintiva de punibilidade (art. 107, II, do Código Penal), mas é considerado instrumento de política criminal, tanto porque evita os males de um maior tempo de cárcere, como porque estimula o bom comportamento carcerário, já que a maioria dos decretos de indulto trazem como condição o bom comportamento do apenado.

Ser simpático ou não ao indulto, em um Estado regido por uma Constituição que o prevê como de competência privativa do Presidente da República (art. 84, XII) não é questão jurídica. Aliás, nunca será possível convencer alguém, muito menos alguém distante, da necessidade do perdão. O perdão é sempre uma impossibilidade para quem não está na condição de perdoar (GARAPON, 2002). Mas o indulto é previsto constitucionalmente, legalmente e tradicionalmente.

O que mudou, então, para o judiciário se arvorar a estabelecer o que pode ser indultado ou não, preocupado com a necessidade de mais punição. Mudou o óbvio, que o judiciário, agora, pretende se assumir como órgão de segurança pública, seus integrantes como cidadãos vítimas da criminalidade, em prejuízo da imagem de isenção e imparcialidade necessária aos princípios de um Estado de Direito.

Mudou que ninguém mais acredita no direito como instrumento de justiça, nem muito menos no presidente como legítimo titular de um poder soberano.

Em outras palavras, o presidente está nu, as instituições nuas, a sociedade nua, e uma bunda à mostra a mais outra a menos não tem importância nenhuma, cada um que cuide da sua.

Luís Carlos Valois é Juiz de direito, mestre e doutor em direito penal e criminologia pela Universidade de São Paulo – USP, membro da Associação de Juízes para Democracia – AJD, e porta-voz da Law Enforcement Against Prohibition – LEAP (Agentes da Lei contra a Proibição).

Mensagem da madrugada

Persiga a perfeição, seja exigente, se inspire sem perder a originalidade. Depois de dá o melhor de si, não se dê por satisfeito, tente se superar mas, jamais perca a humildade.


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Mensagem para vida inteira



Dois amigos resolveram fazer uma longa viagem, sem destino definido, tipo deixa a vida nos levar...
No decorrer da viagem, um deles ofendeu o outro. Então o ofendido escreveu na areia da praia, próximo a arrebentação: 
Hoje meu melhor amigo me ofendeu!
E prosseguiu em sua caminhada. O amigo sem entender, mas com receio de perguntar seguiu com o amigo. Um pouco adiante o mesmo amigo que recebera a dita ofensa escorregou e caiu em um rio, o amigo pulou e o resgatou.
Ao descansarem do episódio, o amigo então já em segurança, gravou em uma pedra a seguinte frase: 
"ESTOU FELIZ POIS HOJE MEU MELHOR AMIGO SALVOU A MINHA VIDA." O outra não se conteve e perguntou:

- Amigo, me explique uma coisa. Lá atrás na praia, na areia, próximo da arrebentação você escreveu: Hoje meu melhor amigo me ofendeu, e agora escreveu numa pedra: (ESTOU FELIZ POR QUE HOJE MEU MELHOR AMIGO SALVOU A MINHA VIDA.)
 
- Amigo, quando recebemos de alguém que amamos uma ofensa ou desagravo, devemos gravar na beira da praia do mar do esquecimento para que nas idas e vindas da maré, as ondas possam apagar as lembranças desagradáveis. Quanto as coisas boas que essa pessoa nos faz, gravamos na pedra da lembrança, para que nem mesmo as ondas do tempo possam apagar.

Resultado de imagem para escrito na areia
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Os fundilhos dos moralistas, por Fernando Brito

Jair Bolsonaro dispensa comentários. É um espertalhão que descobriu no marketing de sua brutalidade e intolerância a maneira de sair da obscuridade dos medíocres e projetar-se para uma camada de gente de visão tão larga e profunda que acha que o vizinho gay ou o garoto que fuma um baseado são as grandes desgraças do Brasil.

As reportagens da Folha sobre o "Bolsofamília" – os 15 imóveis comprados, alguns em condições estranhas –  por ele e pelos três filhos parlamentares – evidenciam, porém, algo curioso.

Nada mais igual aos  "políticos" que ele costuma achincalhar  do que o próprio Jair Messias Bolsonaro.

Vai fazer 30 anos de mandato . Elege os filhos. Aposentou-se aos 33 anos. Acumula o soldo da reserva aos vencimentos de parlamentar, o que o põe acima do teto constitucional. Recebe auxílio-moradia, mesmo tendo apartamento próprio em Brasília. Convenhamos, é dose para quem diz ser o "antipolítico".

Tenho dito e repetido aqui: quando encontrar um moralista, pé atrás e mão na carteira.

Há outra evidência no caso. É a de que, quando a imprensa quer "fazer campanha", sai de baixo. A matéria  publicada agora à tarde com "as 32 perguntas sobre patrimônio que a família Bolsonaro não responde" é um daqueles casos em que a pauta vira reportagem.

Bolsonaro, porém, fechou-se em copas e nem o discurso furibundo desta vez soltou, esperando que passe a "onda" e ele possa, esquecidos os seus, apontar as obscuridades de outros. Minha opinião: pode ter impressionado um ou outro, os fanáticos ficara mais açulados e perigosos.

Disse já na primeira reportagem que os efeitos sobre o núcleo fanático de seus eleitores será pequeno ou até estimulador. Mas basta uma queda de três ou quatro pontos no próximo Datafolha para produzir um pânico de barata voadora num agrupamento sem densidade, sem representatividade e com o ódio como traço de união.

Assim é o jogo da mídia.

Por conta de muitos – Bolsonaro entre eles – passamos a viver um clima onde todos são suspeitos até que provem o contrário – às vezes, nem assim.

É bom Luciano Huck já ir se acostumando com o que cairá sobre ele se voltar a ser "quase-candidato".

Mensagem da noite

Se alegre, sorria, cante, dance, sonhe, ame, seja feliz. 
Viva cada segundo como fosse o último - pode ser que realmente seja -.
E lembre-se: 
No final deste filme chamado vida, a gente sempre morre.




A conta da Lei da ficha limpa chegou


TRF-4, o Irã os patos e as rabanadas
Em 2010, o Congresso Brasileiro aprovou a lei complementar 135, a “Lei da Ficha Limpa”, com apoio da esquerda. De 2008 a 2010, travei o bom combate para que o PSOL não votasse a favor dessa lei. Em uma sociedade de classes, reduzir direitos nunca é uma boa opção para quem defende o andar debaixo. Fiz esse debate até ser finalmente vencido em votação na executiva nacional do PSOL, onde apenas contei com mais um voto além do meu, algumas abstenções e grande maioria a favor da aprovação.
Delegar a uma casta como a do judiciário o poder de supervisionar a democracia brasileira, definindo por decisões de 4 juízes, 1 de primeira instância e 3 de segunda instância, em quem o povo pode ou não votar, nunca me pareceu uma boa ideia. A maioria do Poder Judiciário, pela sua própria origem de classe, tenderá a refletir os valores, a cultura e os interesses inerentes a essa condição. Mais de 400 mil presos provisórios, a maioria “pretos, pardos e pobres” em penitenciarias superlotadas são a prova quotidiana disso. Permitir restrição de direitos sem condenação transitada em julgado, exceção aberta com a “Lei da Ficha Limpa”, mostra como a fantasia da “neutralidade das instituições” contaminou a esquerda.
Os recentes arreganhos do judiciário avançando na criminalização dos movimentos sociais eram pedra cantada. Daqui até termos sindicalistas, dirigentes de movimentos sem teto e sem terra, dirigentes de trabalhadores rurais, ativistas ambientais e quilombolas afastados das disputas eleitorais por condenações de fancaria não faltará muito. Oligarquias que controlam o judiciário dos seus estados com mão de ferro podem afastar adversários incômodos da disputa dessa forma. Se alguém tinha dúvidas disso quando fizemos o debate de 2008 a 2010, o processo que Lula responde dia 24 em Porto Alegre, feito sob medida para afastá-lo da disputa eleitoral de 2018, é o “se situa” que faltava.
Toda a esquerda apoiou essa lei em 2010. Sob o aplauso fácil de um moralismo despolitizado, uma crença infantil que o judiciário seria melhor que os outros poderes da República, coisa que os fatos desmentem a cada dia, colocamos o escrutínio do povo sob tutela do único poder que não responde diretamente a ele porque não é eleito, mas concursado. Composto, portanto, pela “meritocracia” tal qual ela existe nestes trópicos.
No Irã, o Conselho de Guardiães, composto por 6 clérigos Xiitas indicados pelo Grão Ayattolah e 6 juízes indicados pelo parlamento, decide quem pode e quem não pode ser candidato. No Brasil, 4 juízes terão essa prerrogativa. É menos plural.
Naqueles dias de maio de 2010, os perus votaram pela antecipação do Natal.
As primeiras rabanadas serão distribuídas dia 24 em Porto Alegre.
por
José Luís Fevereiro
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Reforma trabalhista


Henfil, o vidente

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