Petrobras

[...] inflação e pré-sal

Seria prudente ir devagar com o andor da Petrobras.
Trata-se de uma empresa pública, com os benefícios e as responsabilidades inerentes à sua condição. Goza dos privilégios de ser monopolista e tem obrigações institucionais com o país.
Dentro dessa lógica, recebeu a mais relevante das incumbências: ser peça-chave para a exploração do pré-sal e da política industrial daí decorrente. Trata-se de desafio portentoso para qualquer corporação mundial. E, aí, não dá para dispersar energias.
***
Não se trata de desafio trivial. Há quarenta anos, a Inglaterra decidiu explorar o petróleo do Mar do Norte. Doze empresas se envolveram na empreitada, no pré-sal será apenas a Petrobras.
No estágio atual, na Petrobras, as preocupações transcendem o pré-sal, visto como um desafio assimilado. O desafio atual é o pós-sal, as descobertas de óleo leve no nordeste que provavelmente até 2020 transformação a Petrobras na maior empresa do planeta.
Embora seu planejamento preveja a produção de 3,5 milhões de barris dia (bpd) até 2020, é possível que em breve essa projeção salte para 5 milhões bpd.
É desafio para gente grande.
Hoje em dia, produzindo 2 milhões de bpd, a Petrobras movimenta o equivalente a 12 milhões bpd - a soma do transporte do petróleo para a refinaria, de lá para as distribuidoras e para os postos. Com 5 milhões bpd o desafio será grandioso, exigindo investimento, disponibilidade de navios, sondas etc.
***
Trata-se de uma engrenagem complexa, um desafio gigantesco que exigirá acompanhamento permanente e obediência severa ao planejamento original. Dependendo de como o desafio for conduzido, em 2020 a Petrobras poderá se converter na maior empresa do mundo, com 110 mil funcionários, ou em uma empresa quebrada.
***
O primeiro cuidado é com a geração de caixa da Petrobras. Foi de uma temeridade à toda prova a declaração do Ministro das Minas e Energia Edison Lobão, de segurar o preço dos combustíveis para ajudar no combate à inflação. Se não corrigir os preços, haverá queda de R$ 21 bi nos resultados. O lucro ficará abaixo de R$ 10 bi, contra R$ 35 bi do ano passado. Essa queda derrubará os preços das ações e reduzirá o espaço para captação de recursos.
Indaga-se: está previsto no planejamento?
***
Outro aspecto relevante é em relação ao conteúdo nacional adquirido. Nos últimos anos, partiu da Petrobras a iniciativa de impor percentuais de conteúdo nacional aos seus equipamentos – especialmente sondas, plataformas e navios.
Essa política terá papel fundamental no amadurecimento do parque industrial brasileiro. Mas há limites para essa nacionalização, amarrados à própria dimensão e velocidade da exploração do pré-sal.
Numa ponta, fabricantes nacionais correrão para aumentar a oferta. Mas dificilmente darão conta do volume de encomendas. Portanto seria conveniente a ANP (Agência Nacional de Petróleo) não avançar nas exigências sem se ter um quadro claro da relação demanda-oferta pela indústria nacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário