Um forasteiro que chegasse ao Brasil na semana passada poderia pensar que a eleição presidencial por aqui vai acontecer no próximo domingo e se limitará à disputa entre Serra e Dilma. Calma, pessoal, que 2010 ainda está muito longe.
Faltam ainda 19 meses e meio para o povo ir às urnas. Muita água vai correr por baixo da ponte, sem falar nesta tal crise economica, que não é mais marolinha, nem tsunami ainda, pelo menos por aqui, e ninguém sabe que bicho vai dar, mas certamente vai influir no ânimo dos eleitores na hora de votar no ano que vem.
Escrevi aqui mesmo no Balaio, no começo do ano: a julgar pelo cenário atual, teremos mais um confronto entre PT e PSDB, como vem acontecendo faz 15 anos, com os dois partidos se alternando no poder central.
Mas, mesmo este quadro, que hoje parece consolidado, pode mudar no longo período que nos separa da eleição de 2010, na medida em que o componente novo e inesperado da crise econômica mundial faz todo mundo rever seus planos e esperar para ver o que vai acontecer, incluindo aí os políticos e seus partidos.
O PT saiu na frente, com o presidente Lula colocando o bloco de Dilma Roussef na rua antes mesmo do carnaval, levando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a exigir que o PSDB faça logo o mesmo, ou seja, lançando já a candidatura do governador José Serra.
O problema é que no meio do caminho tem um outro governador, o mineiro Aécio Neves, que também postula a candidatura tucana e não abre mão das prévias no partido para a escolha do nome do PSDB.
Se Dilma já pode se apresentar nos palanques como a candidata de Lula _ e agora também do PT, que se rendeu à vontade do presidente com 84% de aprovação popular, como vimos em vários eventos da semana passada _, Serra não pode fazer o mesmo. Não pode sair por aí agora como candidato dele mesmo, ou de FHC, embora favorito nas pesquisas.
O governador de São Paulo vive um dilema, no momento em que a última pesquisa Sensus mostrou um vigoroso crescimento de Dilma, pela primeira vez com dois dígitos, e leve queda nas suas intenções de voto, o que talvez tenha animado o PT a antecipar a campanha eleitoral.
Ao atrair o dissidente Geraldo Alckmin para seu governo, num lance ousado para unir o PSDB em São Paulo, que parecia fortalecer sua candidatura presidencial, ao mesmo tempo Serra deixou Aécio solto no espaço, livre para outros vôos, amuado com o prato feito oferecido pelos tucanos paulistas.
Este é apenas um dado para ninguém se precipitar nas análises feitas agora com vistas a uma eleição ainda tão distante. Basta lembrar que, um ano antes das eleições, ninguém apostava um dólar furado na candidatura de Fernando Collor, em 1989, nem na de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.
Os dois entraram tardiamente na campanha e, em poucos meses, foram ultrapassando os favoritos, levados por uma série de circunstâncias favoráveis que mobilizaram o eleitorado a seu favor.
Isto vale também para o presidente Lula, que até o final do ano passado nadava de braçada, praticamente sem oposição, com seus índices de aprovação crescendo na mesma proporção do aumento de emprego e renda no país, no embalo do crescimento econômico.
Agora tudo mudou. Pode não ser o fim do mundo, há meses anunciado por setores da imprensa, mas também não há mais clima para muita festa e rompantes de palanque, no momento em que cresce o número de desempregados no país e se discute de quanto vai ser a queda do PIB este ano.
Talvez seja o momento de Lula viajar menos e falar menos, dedicando-se mais em Brasília à administração dos efeitos da crise, depois de uma superexposição precoce com sua candidata Dilma, que pode começar a apanhar antes da hora, queimando seu filme de administradora austera.
De outro lado, é mais uma bobagem da oposição recorrer à Justiça para acusar o PT de fazer campanha antes do previsto no calendário eleitoral, na mesma semana em que Serra sobe em trator numa feira de máquinas agrícolas em Cascavel, no Paraná, e seu governo gasta bom dinheiro com propaganda na televisão em outros Estados.
Está na hora de baixar a bola dos dois lados.
Lula e Dilma farão melhor para a campanha dela se cuidarem de governar bem, tomando as medidas necessárias na hora certa para garantir emprego e renda, que é o que vai valer na hora do voto. Quem elege candidato do governo é um bom governo e dinheiro no bolso, mais do que uma boa campanha, por mais brilhantes que sejam os marqueteiros da hora.
Serra e os tucanos paulistas vão ter que arrumar a casa primeiro, acertar-se com Aécio e com possíveis aliados para 2010, antes de qualquer outra coisa. Quem elege candidato da oposição é governo ruim, também é verdade, mas é preciso apresentar na campanha uma proposta, um projeto qualquer para melhorar o país, que o PSDB ainda não tem.
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