Derivativos: Economia e Política

Em sua coluna semanal na Rolha de SP, Cesar Maia(ex), faz um paralelo entre desvios do setor público e privado, nesse quadro de crise, onde há uma crise de valores preliminar à crise econômica. Leiam alguns trechos deste artigo, que concordo e muito:

       

1. Não haverá um mundo empresarial ético e um mundo político aético, ou vice-versa. Não há abuso de restrições legais e de ética de mercado se não houver cumplicidade entre empresários e políticos. Não há corrupto sem corruptor. Não há achacador sem a fragilidade do achacado. O que se vê hoje já se sabia. Os especuladores ganhavam e autoridades políticas se omitiam, com proveito pessoal.
       

2. Os derivativos financeiros representam operações cuja relação com os fatos reais (empréstimos, emissão de capital, produção) vai se tornando cada vez mais tênue, até que, no cume da pirâmide, elas fiquem soltas, sem lastro.
       

3. No mundo político, isso ocorre de forma parecida. A atividade política envolve as ações de governo e das oposições, a legislação, a mobilização de militantes e da opinião pública, a defesa pública de interesses, as articulações para a obtenção de massa crítica de opinião ou de voto e as eleições.  Para isso, os políticos contam com a sustentação partidária, os partidos, com o fundo partidário, acesso a rádio e TV e doadores formais. Os parlamentares e ministros contam com salários e gabinetes, incluindo assessores e benefícios que garantam mobilidade e comunicação. As distorções vêm do uso de derivativos políticos sobre elementos de sustentação, autorizados em lei.
       

4. Exemplos. Nomeações nas máquinas de governo como uma extensão de gabinetes, atos e votos trocados por favores empresariais e governamentais, uso dos direitos de gabinete para ganhos pessoais, sobras de campanha, doações cruzadas e por aí vai. A crise de valores e os vasos comunicantes garantem que parte das elites, política e empresarial, opere no mesmo mundo, descolando a atividade-fim, dos lastros legais e moral. Os derivativos políticos fazem parte da mesma crise de valores.

 

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