É um óbvio exagero creditar as dificuldades políticas do premiê trabalhista britânico, Gordon Brown, só ou principalmente às revelações sobre pecadilhos dele e de aliados no alegre manuseio de verbas públicas para fins pessoais. O caso parece, isto sim, funcionar como catalisador, como estopim de uma crise cujas raízes são mais profundas.
Gordon Brown está a ponto de cair porque os súditos de Sua Majestade estão por aqui com o Partido Trabalhista. Tony Blair foi-se, deixando para Brown o ônus do mau humor coletivo diante da guerra no Iraque, e também a pedregosa gerência da recessão parida pela megacrise planetária da economia. Dois abacaxis e tanto. Ainda mais para um político sem carisma e que não precisou das urnas para chegar ao cargo. Seguindo a norma, foi indicado pelo partido majoritário quando Blair saiu.
Pequenos escândalos ganham musculatura se o eleitor está de birra com um governo. Ou com uma instituição. Aqui no Brasil, o descontrole na emissão de passagens aéreas da cota de deputados e senadores deu o que falar. Existia faz tempo, mas despertou a indignação coletiva apenas quando se atingiu a massa crítica, quando sobrevieram seguidas revelações sobre a festa das excelências com o dinheiro do povo, num ambiente crônico de má vontade com o Legislativo.
Já o evidente exagero dos ministros no uso de jatinhos oficiais em deslocamentos para os estados de origem (a pretexto de “atividades oficiais”) não causa maiores transtornos políticos. Afinal, Luiz Inácio Lula da Silva comanda um governo popular. Esse é só um exemplo. No dia-a-dia de uma Brasília anestesiada pelos índices de Lula, a maioria governista no Congresso não tem maiores dificuldades para neutralizar o ímpeto investigativo da oposição. Que, aliás, cá entre nós, não chega a ser exemplo de aguerrimento.
Vide as dúvidas e a suavidade do PSDB e do Democratas na CPI da Petrobras. Pecadilhos com um punhado de euros estão a ponto de derrubar o governo impopular de Gordon Brown no Reino Unido. Já no Brasil, sob indiferença geral, governistas e oposicionistas riem atrás das máscaras no baile do Salão Azul do Senado enquanto fingem travar uma guerra em torno da comissão que teoricamente vai investigar a maior empresa nacional.
A oposição brigou pela CPI e diz que está com vontade de vê-la caminhar, mas, convenientemente, esconde-se atrás das eternas disputas intestinas da base do governo para, afinal, acomodar-se à inação. Na esperança de que ninguém esteja nem aí. É intrigante o contraste entre a fúria ética do PSDB quando exigiu a CPI e a lassidão tucana agora que atingiu o objetivo.
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