A ingênua postura do PT na crise

Chamado à responsabilidade pelo presidente Lula, a maioria da bancada do PT no Senado parece ter reformulado sua postura a respeito da posição delicada que está atravessando o senador José Sarney na presidência do Senado.

O partido, que chegou a sugerir a Sarney que pedisse uma licença por 30 dias da presidência da Casa, a fim de que as investigações tivessem curso, mudou radicalmente de posição.

O líder Aloizio Mercadante (SP) passou a defender a aliança pela governabilidade com o PMDB e diz que a crise não é de Sarney, mas de todo Senado. Desde o início se sabe que a crise é do Senado, ainda que envolva diretamente o senador José Sarney, que é o seu atual presidente.

O Senado sofre as conseqüências da falta de regras claras e iguais para todos. Isso remonta aos primeiros tempos de Brasília, desde a fundação, e o processo foi se agravando.

A posição inicial assumida pelos senadores do PT pode ser classificada de irrealista. Afastado Sarney, quem assume a presidência é o senador Marconi Perillo, que foi governador de Goiás e um dos principais denunciantes do escândalo do Mensalão, que envolveu PT e governo.

Às portas do inferno

Tratava-se de uma posição que expunha o governo Lula a enfrentar todo tipo de dificuldades no Senado, uma vez que as oposições assumiriam o seu comando efetivo. O presidente Lula ainda dispõe de 17 meses para cumprir o segundo mandato. Consumado o afastamento de Sarney, a oposição sujeitaria o governo a um verdadeiro inferno. E não seria estranho que as principais lideranças oposicionistas assim agissem, pois o país está se aproximando cada vez mais das eleições presidenciais de 2010, quando PSDB e DEM terão candidato, seja José Serra ou Aécio Neves. Longe do Brasil, em Trípoli, na Líbia, mas muito próximo do mundo real, Lula logo pressentiu que não só estava ameaçado de entregar aos adversários o comando do Senado, como colocaria em risco a aliança com o PMDB em torno da sua candidata a presidente da República, Dilma Rousseff. E isso é uma questão crucial para Lula e o seu governo. Mais uma vez, o PT engrossou a onda que se formou no Senado e no país contra Sarney, sem examinar as implicações dessa atitude. Foi uma postura que se poderia classificar de leviana, senão irresponsável. O presidente Lula teve que convocar os serviços do próprio presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que entrou em campo para chamar os seus companheiros da bancada petista no Senado à responsabilidade. Lula está se entendendo com os senadores petistas e com o senador José Sarney para examinar formas de enfrentar a crise do Senado de maneira objetiva. Não há dúvida de que será necessário instaurar uma investigação para apurar irregularidades e punir os seus responsáveis, em nome da restauração da imagem moral da Casa. O senador Aloizio Mercadante, que se fizera porta-voz da proposta da bancada de licenciamento de Sarney, mudou radicalmente de posição. ´Não há governabilidade sem aliança com o PMDB. PSDB e DEM nunca nos deram espaço e é verdade que nós também nunca demos a eles, mas queremos ter a aliança e queremos que ela continue. Não me peçam aquilo que não posso fazer, gesto ingênuo e espontâneo de fragilizar a governabilidade. Nós queremos ir a fundo, mas sabemos de nossas responsabilidades pela governabilidade´. Meus Deus, como Mercadante mudou! Esse episódio serve para evidenciar como são diferentes as visões que o presidente Lula e os seus correligionários petistas têm do Brasil e do mundo. O PT chegou a se embalar com a apuração de responsabilidades, enquadrando Sarney como alvo, coisa que a oposição já estava fazendo com muita competência. Só o grito que Lula deu na Líbia, dizendo que a oposição estava ameaçando tomar o comando do Senado ´no tapetão´, é que parece ter contribuído para lembrar aos petistas as responsabilidades que assumiram para com a estabilidade do governo de Lula. O senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado, está convencido de que o senador José Sarney saiu fortalecido da crise, contando com o apoio de 55 dos 81 senadores. Agora, é preciso negociar os caminhos mais adequados para restaurar a credibilidade da instituição.
Tarcísio Holanda

Nenhum comentário:

Postar um comentário