É proverbial o vício patrimonialista do clã Sarney, um traço deletério da cultura da vida pública brasileira mais visível no Norte/Nordeste, porém presente, também, e nem sempre de forma pouco ostensiva, nas demais regiões. Parece um esporte nacional nas diversas esferas de poder. Por isso, sucedem-se e continuarão a aparecer evidências da mistura de dinheiro público com o patrimônio privado no âmbito da família maranhense.
O ponto a saber é como a avalanche de denúncias será processada no Senado, na volta do recesso, a partir da semana que vem. Se Lula continuar a considerar a permanência do senador José Sarney no cargo de presidente da Casa como essencial para a "governabilidade" da candidatura Dilma e da CPI da Petrobras, pode-se esperar um cerrado e nada edificante tiroteio no Conselho de Ética.
Aliás, diria Millôr Fernandes, não deve ser chamado de conselho com "c" maiúsculo, e tampouco de ética, algo presidido pelo senador sem votos Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente do suplente de Sérgio Cabral, e que já antecipou a decisão de rejeitar qualquer representação contra Sarney. Nestas circunstâncias, Conselho de Ética é uma contradição em termos.
Às representações contra Sarney - eram 11 até ontem - a tropa de choque comandada por Renan Calheiros (PMDB-AL) responderá com a mesma munição, tendo o tucano Artur Virgílio (AM) como um dos alvos, por ter sido empregador confesso de um funcionário fantasma no gabinete - pago, portanto, com dinheiro do contribuinte - e aceitado um empréstimo do diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, para saldar contas pessoais.
Os casos merecem mesmo ser avaliados sob o ângulo do decoro parlamentar, como nos de Sarney. Mas não é a preocupação com a ética que move Renan e companhia; apenas a intenção de ter poder de fogo para negociar uma saída em que, entre mortos e feridos, todos se salvem.
A estratégia está centrada na falaciosa idéia construída para salvar Lula do mensalão de que, se todos cometem um crime, ele deixa de ser crime. Neste contexto, quem não se salvará será a instituição do Congresso, infelizmente.
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