As cinzas de São Paulo


CRÓVIS ROCI
- Carlos Tramontina, o apresentador da segunda edição do “SP-TV”, da Rede Globo, tinha toda a razão ao alertar o espectador de que não estava mostrando cenas de guerra e, sim, das enchentes que rapidamente engolfaram São Paulo no fim da tarde de ontem.
O que se via, pelo menos na avenida Aricanduva, era, de fato, o retrato de uma cidade derrotada. Carros amontoados uns sobre os outros, passageiros subindo nas capotas para escapar, o lixo amontoado -enfim, cenas idênticas às do ano passado, do ano retrasado, de cinco anos atrás, dez anos antes.
Com certeza, vai começar de novo o joguinho de distribuir culpas. A prefeitura dirá que a enchente é federal, o Estado dirá que a enchente é federal, e sempre haverá algum chato para culpar o presidente Lula e a Dilma.
É um pouco como o caso da dengue no Rio, em que não se sabe direito se o mosquito é estadual, federal ou municipal. Seria tudo tão ridículo, não fosse tão trágico. Os políticos brasileiros parecem empenhados em imitar a Argentina, ou seja, em convidar ao repúdio a todo o sistema político-partidário.
5 anos atrás, os tucademos José Serra e Gilberto Kassab ainda podiam tirar o corpo fora e dizer que assumira recentemente e, portanto, a enchente não era deles, mas dos antecessores.
Agora, não dá mais. 5 anos de (indi)gestão é tempo suficiente para, pelo menos, começar um trabalho que evitasse as cenas dantescas que a televisão mostrava no começo da noite. Ainda mais que a chuva não parece ter sido tão formidável para que toda a culpa seja jogada para o velho e bom são Pedro.
Afinal, não é segredo para ninguém que a cidade é, digamos, “inundável”.
Todo mundo sabe quais são as áreas mais sujeitas a risco.
O fato é que São Paulo tornou-se um inferno, e ninguém mostra talento e competência para levá-la pelo menos para o purgatório.

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