Christiane Samarco
agenda eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não trata só da articulação de palanques regionais fortes para a candidata oficial, Dilma Rousseff. O planejamento estratégico também cuida de uma espécie de "lista negra" com alvos a abater nas urnas. A lista tem três senadores tucanos - Marconi Perillo (GO), Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM).
Todos os acordos eleitorais patrocinados pelo Planalto nas regiões desses candidatos miram a derrota dos inimigos políticos. O jogo do Planalto fica visível sobretudo no Ceará, onde o presidente não esconde nem dos velhos aliados de Tasso a disposição de tirar-lhe a cadeira de senador.
Como são duas vagas em cada Estado, além de apoiar a eleição do peemedebista Eunício Oliveira, o presidente decidiu lançar a candidatura de seu ministro da Previdência Social, deputado José Pimentel (PT). Não satisfeito, ainda procurou os irmãos Gomes - o governador cearense, Cid Gomes (PSB), e o pré-candidato do PSB a presidente, deputado Ciro Gomes - pedindo apoio para Pimentel.
Fechados com Eunício, os irmãos acusaram a pressão, argumentando que gostariam de manter apenas um compromisso, para poder compor informalmente com o parceiro de sempre, Tasso. "Mas é este mesmo que eu quero derrotar", teria dito Lula, segundo relato da conversa levado ao senador tucano. "O Lula está articulando com o fígado, contra os que lhe fazem oposição", protesta Tasso, que na eleição passada rompeu com o candidato tucano ao governo, Lúcio Alcântara, e conservou a parceria com Cid e Ciro. "Não sei se o presidente se move por puro rancor ou se a estratégia dele é para diminuir a oposição e o Brasil ficar cada vez mais parecido com a Venezuela de Chávez."
Não por acaso, quem encabeça a lista negra há quase quatro anos é Perillo. Lula não perdoa o fato de o ex-governador de Goiás ter "jogado" para derrubá-lo da Presidência nos tempos difíceis da crise do mensalão, quando chegou-se a falar em impeachment.
Na campanha de 2006, quando Lula jurava não ter conhecimento do pagamento de uma espécie de mesada para comprar votos de aliados na Câmara, Perillo engrossou o coro do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e revelou que alertara o presidente sobre o mensalão.
O troco está sendo dado agora, com o apoio do Planalto aos principais adversários de Perillo no Estado. Além da parceria com o PMDB do prefeito de Goiânia, Iris Resende, Lula também está empenhado em lançar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao governo de Goiás, só para dificultar ainda mais a volta do tucano ao governo estadual.
Virgílio é outro que Lula faz gosto em despejar do Senado. Ele foi para a lista negra quando, em meio a uma explosão de indignação com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o dossiê da Casa Civil contra tucanos, subiu à tribuna e ameaçou "bater na cara" do presidente.
MAIS ALVOS
Há outros nomes que o presidente pretende abater nas urnas, como o líder do DEM, José Agripino (RN), e o ex-petista Cristovam Buarque (PDT-DF).
Os petistas dizem que o presidente "acumula" raiva contra Agripino. Lula já subiu nos palanques de Natal determinado a derrotar a candidata de Agripino, Micarla de Souza, mas ela se elegeu prefeita em 2008.
A motivação maior do rancor contra Agripino foi o caixa, já que o presidente responsabiliza o líder do DEM pela derrubada da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) - o imposto do cheque, que daria ao governo mais R$ 40 bilhões anuais. Lula disse à época que o parlamentar virou os votos de alguns indecisos, como o senador Romeu Tuma (PTB-SP).
Ex-ministro e ex-petista, Cristovam também se queixa da intervenção de Lula na política do Distrito Federal. Em Brasília, petistas falam até em aliança com o PMDB do ex-governador Joaquim Roriz, justamente aquele que derrotou Cristovam no projeto do próprio PT de reeleição para o governo do DF.
"De fato, Lula está usando um certo ódio pessoal que pode atrapalhar os arranjos locais", acusa o senador pedetista. Ele diz que a sua ideia era disputar uma vaga de senador com o apoio do PT local, mas o cenário mudou. "Hoje, essa aliança está praticamente descartada."
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