Maiores juros reais do mundo



A decisão unânime do Conselho de Política Monetária (Copom, leia-se, Banco Central) de manter a taxa de 8,75% era uma barbada entre o chamado “mercado”. Embora já estejam especulando com as taxas de juros futuras, sabiam que não havia razões econômicas e, sobretudo, condições políticas de fazer a alta agora. Ainda falta alguns dias para que possam fazer o carnaval do “a inflação está subindo” ou “a inflação dispara” que vocês verão nas manchetes dos jornais a partir da semana que vem.
Alta da inflação em janeiro e fevereiro é outra “pule de dez” em matéria de economia, desde o tempo em que isso era chamado de “inflação gregoriana”, numa referência ao calendário ocidental. São os mês do reajuste anual de impostos (IPTU e IPVA), do reajuste de mensalidades escolares,  de tarifas de ônibus em cidades importantes, como São Paulo, da elevação de preços de produtos sensíveis ao clima chuvoso, da entressafra do álcool e por aí vai.
Ano passado, o IPCA de janeiro foi de 0, 48% , bem acima do de 0,28% de dezembro de 2007. Em fevereiro, idem: 0,55%.  Nos dois meses, alta de 1,03%. E, na ocasião, não havia nenhuma “explosão” na economia, havia, ao contrário, uma baita crise mundial. E a inflação fechou o ano em baixa, como sabemos. No início de 2008, nos dois primeiros meses, a taxa acumulada janeiro-fevereiro foi exatamente igual à de 2009, e o cenário era o de uma veloz expansão da economia.
Ou seja, alta de inflação em janeiro e fevereiro é tão comum quanto temporais nessa época do ano.
Como disse ontem aqui, importa mais analisar de onde e com que força vêm as pressões sobre os preços do que dizer que a taxa foi tantos décimos maior. A inflação janeiro-fevereiro, naqueles índices, anualizada mecanicamente, daria 6,34 ao ano. Foi de 5,9% em 2008 e 4,31% em 2009.
Como eu disse ontem, o que existe é um lobby político. E este o BC já aceitou.
Há uma matéria interessante no Estadão Online que mostra que o Banco Central retirou de seu comunicado todas as explicações que dava para recusar uma elevação de taxa. Deixou apenas a seguinte e óbvia frase: “O Comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.
É chato repetir, mas ninguém que não seja tolo diz o óbvio sem segundas intençõesQue o comitê acompanha o cenário econômico para definir a política monetária é o famoso “até aí morreu Neves”O fato objetivo é que, assim, o Banco realimentou toda a especulação de que vá subir a taxa adiante, mais um mês ou dois. Em seguida vou postar um excelente comentário do jornalista José Paulo Kupfer, do Estadão, onde isso fica claríssmo.
Por ora, fico com o gráfico que ilustra este post, mostrando que, com a inflação atual, o Brasil tem os maiores juros reais do planeta.
Mas eles acham pouco.

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