Ciro sonhou alto. Apostou e perdeu


Haverá uma profusão de análises sobre o fim da pré-candidatura de Ciro Gomes a presidente da República. O cardápio era variado entre as avaliações já disponíveis ontem. Foi humilhado por Lula, destratado pelo PSB, o PT destrói quem aparece à sua frente ou Ciro pecou pela ingenuidade.
O tempo dirá qual dessas ou de outras avaliações são verdadeiras ou apropriadas. Do ponto de vista dos fatos, deu-se algo muito simples. Ciro fez uma aposta. Sua previsão não deu certo, e ele perdeu.
A estratégia cirista era conhecida. Ele próprio a relatou em detalhes mais de uma vez acomodado à frente de uma das mesas de tampo de mármore branco nas quais é servido o intragável café de coador da Câmara dos Deputados. Anotei ponto a ponto sua explicação na tarde de 7 de outubro passado:
“O lugar marcado para mim é ficar em terceiro lugar na eleição e ser protagonista no segundo turno. Mas há uma fresta para eu ser o segundo. E uma fresta minúscula para eu ser o primeiro. O Serra vai recuar no ano que vem. Aí entra o Aécio, mas lá atrás nas pesquisas. Eu fico em primeiro lugar”.
Em resumo, a aposta era dividida em três etapas: 1) o tucano José Serra ficaria com receio de perder e não seria candidato a presidente; 2) a petista Dilma Rousseff continuaria empacada abaixo de 20%; 3) Aécio Neves assumiria a vaga do PSDB ao Planalto, mas em patamar bem baixo nas pesquisas.
O passo seguinte seria Ciro conquistar o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com medo de ser expelido do Planalto, o PT buscaria uma alternativa heterodoxa, dando apoio ao nome do PSB.
Enquanto pitonisa eleitoral, Ciro foi só um político. Suas previsões estavam todas erradas. Mas, como ele desejava ser presidente, talvez não tenha tido muita escolha. Precisava apostar e pensar alto. Apostou e perdeu. Simples assim.

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