Claudia Safatle
Ainda que a economia não cresça nada do segundo ao quarto trimestre, já está garantido uma alta de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Se a taxa de crescimento cair dos 2,7% registrados até março para uma média de 1% nos três trimestres restantes, o crescimento chegará a 7,6%.
É com base nessa realidade que o Ministério da Fazenda fará uma nova projeção para o PIB deste ano, informou o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, ontem. “Com certeza será acima de 6,5%”, disse. O Banco Central, que até agora trabalhava com um crescimento de 5,8% para o exercício, também vai reavaliar suas estimativas, no relatório de inflação de junho, para algo em torno 6,5% a 7%. A última vez que o PIB cresceu na casa dos 7% foi em 1986 (7,49%)
A força da demanda doméstica traduziu-se no aumento das importações – de 13,1% se comparado com o trimestre imediatamente anterior – sinal de que a demanda cresce acima da oferta. As exportações aumentaram apenas 1,7%. Dos 9% de crescimento, a demanda interna foi responsável por 11,9% e a externa, por menos 2,9%.
Os técnicos do governo chamaram a atenção para dois indicadores que reforçam uma melhor qualidade do crescimento brasileiro: investimentos e poupança interna. A taxa de investimento, que vai ampliar a oferta de bens e serviços, teve aumento de 18% sobre 2009, 1,7 ponto percentual acima de igual período do ano anterior (16,3%). Desses, 1,5 ponto percentual decorreu do aumento da poupança interna.
Aposta-se, agora, na desaceleração a partir do segundo trimestre, fruto da retirada dos incentivos concedidos no auge da crise global e do aperto monetário. Soma-se a isso a própria base de comparação do PIB que já resultará em desaceleração, argumenta a Fazenda. No ano passado a economia teve desempenho negativo de 1,5% no primeiro trimestre (o dado anterior de menos 0,9% foi corrigido) e crescimentos de 1,5%, 2,2% % e 2,3% nos demais trimestres – segundo dados revisados ontem.
Amanhã o Copom deve sacramentar novo aumento de 0,75 pontos na taxa Selic, elevando-a para 10,25% ao ano, em mais uma rodada de aumento dos juros para moderar o crescimento da demanda e enquadrar a inflação.
O desenrolar da crise na Europa é outro elemento que deve contribuir para a desaceleração da economia. “A situação está piorando muito e é preocupante para o mundo inteiro”, disse o secretário, que embarca amanhã para Bruxelas para um encontro com representantes da União Europeia.
Da Alemanha o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao comentar os dados do PIB, acrescentou: “Um outro fator que ajudará no desaquecimento é a crise europeia, que diminui a disponibilidade de crédito para a economia brasileira e dificulta a rolagem da dívida das empresas. Vai, também, dificultar os IPOs e diminuir a abertura de capital das empresas”.
O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, considerou os 9% exagerados e disse que o ideal é uma taxa entre 6% e 6,5%. Para ele, o ritmo do primeiro trimestre pode levar o país a esbarrar na capacidade de produção e a pressões de preço de matérias primas e bens intermediários, além de causar “problemas de logística”. O ministro concorda com o aperto monetário e prevê novo aumento da taxa Selic hoje.
Para o presidente do BC, Henrique Meirelles, o crescimento “vigoroso” do primeiro trimestre “confirma que a economia se recuperou integralmente” e mostra o acerto da estratégia de combate à crise. Em rápido pronunciamento, ele destacou que o avanço mais pronunciado da indústria e do agronegócio contribui para “balancear” o crescimento. Ele apontou o “resultado particularmente importante” do investimento.
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