NEM ABSOLUTAS NEM VERDADEIRAS

por Carlos Chagas
A política vive de verdades absolutas que,  não  raro, demonstram-se nem tão absolutas e nem tão verdadeiras  assim.  Uma delas, que vem de décadas,   é de  as eleições  resolverem-se  prioritariamente com a propaganda eleitoral gratuita e obrigatória transmitida pelo rádio e a  televisão nos dois meses anteriores aos pleitos.

Em 1974 o então MDB venceu as eleições de senador, as únicas que restavam, em 16 dos 20 estados onde se realizaram. Logo a ditadura militar atribuiu a derrota ao fato de os candidatos oposicionistas terem utilizado as telinhas e os   microfones para denegrir o regime. Adveio daí a abominável “Lei Falcão”, que  proibia os candidatos de dizer a que vinham, autorizados apenas a dizer nome e número, como  prisioneiros de guerra. Hoje, passado tanto tempo, fica  claro que a vitória do MDB deveu-se ao esgotamento nacional diante da ditadura. Tanto que não foram os medalhões oposicionistas a disputar a única eleição  majoritária permitida, de senador. Apresentaram-se candidatos à época feitos  para perder: em São Paulo, não  Ulysses Guimarães,  mas Orestes Quércia, desconhecido prefeito de Campinas. Em  Minas, nada de Tancredo Neves, mas Itamar Franco, obscuro prefeito de Juiz de Fora. E assim por diante, numa reação popular ao arbítrio que trouxe ao centro do palco Paulo Brossard, Marcos Freire, Leite Chaves, Roberto  Saturnino,  Agenor Maria e outros.

Esse episódio serve para ilustrar a presença de outros fatores além dos  programas de propaganda gratuita pelo   rádio e  a televisão, que são  importantes, é claro, mas jamais decisivos ou exclusivos.   Até porque, a audiência de novelas e de jogos de futebol  costuma ser bem superior  à dos horários eleitorais obrigatórios, quando a metade do país desliga os  aparelhos  ou vai na cozinha tomar um cafezinho. A  menos que a apresentação de certos candidatos se torne tão hilariante a ponto de o telespectador ou o  ouvinte   aguardarem seu horário  como remédio para  desopilar  o fígado. 

Acresce que quando  faltarem   dois  meses  para as eleições, o número de indecisos capazes  de influenciar-se eletronicamente não será tão grande assim. A maioria do eleitorado, nessas ocasiões, já terá   se definido.  Sendo assim, será bom que nenhum candidato se iluda, quer dispute cadeiras no Congresso, nas Assembléias, os governos  estaduais ou a própria presidência da República: rádio e televisão ajudam,  mas não são absolutos nem  constituem o maior  indutor das decisões populares.  Muito  menos causa de grandes reviravoltas.

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