“Putsch”: se houver inferno...


Na “Divina Comédia”, Dante Alighieri (1265-1321) afirma em versos que Lúcifer, ao cair, abriu uma profunda depressão em forma de cone, bem debaixo de Jerusalém, tocando o centro da terra.


Segundo o poeta, a depressão infernal é formada por nove círculos concêntricos. As almas condenadas são distribuídas nesses círculos de acordo com a gravidade de seus pecados. Quanto mais profundo o círculo, maiores os castigos e danações.


Fosse real esse inferno dantesco, meu lugar no além-tumba situar-se-ia no terceiro círculo, local reservado aos glutões. Um cão de três cabeças – Cérbero - estaria a me espreitar, evitando a minha fuga do tortuoso flagelo: uma chuva pútrida. Nada de desesperador, desde que serviam por lá um delicioso pudim.


Mas não estarei só. Muito menos na pior situação.


Quase nas profundezas do inferno, encontra-se o penúltimo círculo, contendo dez fossos. Os condenados que se abrigam nessa oitava esfera satânica são duramente castigados. Seus pecados são considerados gravíssimos. Sofrimentos mais intensos somente são impingidos para três traidores que residem junto com Lúcifer, no último círculo do inferno: Judas, Brutus e Cassius.


Dois fossos desse oitavo círculo do inferno merecem atenção. No quinto fosso foram reunidos os vendilhões. No sexto, os hipócritas.


Acaso Dante fosse um poeta contemporâneo, brasileiro da gema, teria realizado “reformas” no inferno, a tal ponto de criar mais um anel. São tantos os vendilhões do patrimônio público pátrio e a mídia corporativa desfila tanta hipocrisia, que o fosso dos vendilhões e o fosso dos hipócritas deveriam ser apresilhados, formando um novo círculo, acolhendo em apartado essa classe de “perdidos”. Seria, digamos assim, o anel dos golpistas. Sim, porque vendilhões e hipócritas são golpistas por natureza. Democracia e lei, para eles, tratam-se apenas de detalhes sem maiores conseqüências, tranqueiras a serem solenemente ignoradas.


Se o poeta florentino não agisse assim, robustecendo o inferno, certamente veríamos estradas sendo obstruídas e agências bancárias “ocupadas” pelo Movimento dos Vendilhões do Brasil e Hipócritas da Mídia Corporativa Sem Teto no Inferno, o MVH.


Estivesse Dante comigo na madrugada de sábado (19JUN2010), acompanhando programa de notícias da mídia corporativa tupiniquim (Jornal da Globo), teria imediatamente reformulado a sua “Divina Comédia”, adotando as reformas acima sugeridas.


Pois noticiou a âncora do telejornal global (Christiane Pelajo) que a grande mídia estava solidária a Guillermo Zuloaga, presidente e acionista majoritário da Globovisión, “único canal independente” da Venezuela, que havia deixado o país para não ser preso. Segundo a Rede Globo, o Judiciário venezuelano decretou a prisão de Zuloaga pelo simples fato daquele Poder ter se transformado em capacho do Executivo, leia-se Hugo Chávez.


O tribunal emitiu o mandado de prisão para Zuloaga e seu filho, mencionando acusações de detenção ilegal de 24 novos veículos utilitários esportivos da Toyota. Os veículos foram apreendidos na casa de Zuloaga em maio de 2009, sendo que a ordem de prisão foi emitida...

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