Transferência de prestígio inédita será parâmetro de futuras campanhas

SE A ELEIÇÃO FOSSE hoje, a candidata lançada pelo presidente Lula seria eleita presidente já no primeiro turno, com larga vantagem sobre seus adversários.

Pela primeira vez fora das urnas, desde a volta das diretas, Lula desenha seu melhor desempenho em eleições no papel de impulsionador de sua criatura. A inédita transferência de prestígio, em nível nacional, quebra paradigmas e será parâmetro para elaboração de campanhas em eleições futuras.

A aprovação dos brasileiros ao governo federal está no centro dessa eleição e permeia todas as ações e movimentos das candidaturas. Ao tentar associar Serra à imagem de Lula no horário eleitoral a oposição só revela o quanto se vê encurralada pelos 77% que estão ao lado do governo e que, por Lula não poder se reeleger, tendem a optar pela continuidade de seu estilo. Com 47% de intenções de voto herdadas até aqui, a dupla Lula/Dilma já supera em cinco pontos percentuais a votação obtida em 2002 e em três pontos a de 2006.
Serra está nove pontos acima de sua votação em 2002, mas oito pontos abaixo do que Alckmin alcançou no primeiro turno da eleição passada. Tem o desafio de reconquistar eleitores que o PSDB perdeu para Lula, se quiser postergar a decisão para o segundo turno.
Esse virtual xeque-mate provocado pelo lulismo teve início já na eleição passada. O presidente atingiu pela primeira vez a maioria absoluta de aprovação após os primeiros dias de horário eleitoral, iniciado no dia 15 de agosto de 2006. Após três inserções na TV e no rádio, sua aprovação atingiu 52%.
Caiu para 46% no final do primeiro turno, após o noticiário sobre os “aloprados” e voltou a ser maioria durante a campanha para o segundo turno. Desde quando obteve esse impulso do horário eleitoral de 2006 -que apesar de anacrônico tem grande influência na consolidação das convicções políticas dos eleitores-, Lula vem conquistando a cumplicidade de um número cada vez maior de brasileiros. No final de 2008 atingiu, pela primeira vez a marca de 70% de aprovação.
Apesar de contar com maiores taxas de apoio entre os que têm renda mais baixa, chegando hoje a 83% entre os mais pobres do Nordeste, desde 2008 Lula conta com aprovação majoritária de todos os segmentos socioeconômicos da população. A campanha de Dilma soube reforçar esse patrimônio utilizando a força da TV para alavancar sua candidatura a cada onda de inserções partidárias. Sempre que Dilma apareceu em larga escala ao lado de Lula alcançou novos patamares de intenção de voto. Não foi diferente nesses primeiros dias de TV.
Na fase atual, Dilma busca criar empatia com os eleitores herdados de Lula, para mantê-los. Já os que aprovam o governo mas que ainda não se convenceram totalmente precisam ser cativados por completo. A primeira rodada do Datafolha feita após os primeiros programas mostrou que, com vida própria de candidata, já começa a atraí-los também. No primeiro dia deste ano a Folha publicou pesquisa Datafolha mostrando Lula como a figura com mais credibilidade entre 27 personalidades conhecidas do Brasil. Ficava à frente do jornalista William Bonner, do padre Marcelo Rossi e do cantor Roberto Carlos, para citar apenas os primeiros colocados.
Apesar de representar apenas uma curiosidade ao comparar personalidades de diferentes áreas, a pesquisa já dava uma pista do poder de persuasão que Lula vem demonstrando nesta eleição.
Não seria surpresa se sua cria já figurasse hoje entre os primeiros da lista, mais próxima do criador.

MAURO PAULINO 
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