Canteiro de arte

Entulhos saídos de canteiros de obras viram quadros e peças de design nas mãos de operários em ateliês da ONG Mestres da Obra, de SãoPaulo. O objetivo é elevar a autoestima dos trabalhadores

Texto Marilena Dêgelo Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
Espreguiçadeira com estrutura de ferragens de viga e assento de arames usados na amarração de coluna

Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
A bandeira tem tira verde de polietileno de embalagem de elevador, retalhos de conduítes de instalações elétricas, pregos e, como estrelas, pedaços de madeira furada por broca

Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
Da caixa de aço para fundação de prédio surgiu a mesa-luminária com círculos de tubos de PVC

Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
O arquiteto Arthur Pugliese (esq.) e o administrador Daniel Cywinski,
criadores do Mestres da Obra
Como melhorar a dura realidade de quem trabalha todos os dias carregando sacos de cimento, assentando tijolos e se arriscando em andaimes? Incomodados com o sofrimento dos empregados da construção civil, o arquitetoArthur Pugliese, 35 anos, e o administrador de empresas Daniel Cywinski, também de 35, encontraram uma solução, a princípio utópica, durante viagem a Barcelona, na Espanha, em 1999. “Diante da arte de Gaudí, pensamos em desenvolver trabalho semelhante com operários nos canteiros de obras, aproveitando a grande quantidade de entulho”, diz Pugliese. 

De volta ao Brasil, eles colocaram em prática a idéia que, em 2001, deu origem ao projeto ambiental, cultural e social Mestres da Obra. O principal objetivo da ação, que envolveu até hoje mais de 1.500 trabalhadores em São Paulo, é o resgate da autoestima deles por meio da arte. Com autorização de grandes construtoras, os dois amigos montam ateliês no canteiro de obras, que recebem 20 operários liberados por uma hora do trabalho durante um mês. Para isso, contam com uma equipe de seis pessoas. 

Nas aulas, eles apresentam fotos de peças de artistas famosos para inspirar os trabalhadores na confecção de objetos, muitos feitos coletivamente. “Cada um contribui com o saber que traz de sua origem, a maioria do Nordeste. Eles aprendem a ver aquele material descartado com outro olhar e a valorizar o que fazem como obra de arte”, diz Cywinski, especialista em educação ambiental. 

Reconhecida como organização de interesse público sem fins lucrativos, a Mestres da Obra conseguiu este ano o apoio de empresas como Duratex e Gerdau, com base na Lei de Incentivo Fiscal. Isso possibilitou ampliar o projeto para um circuito cultural com 12 ateliês que incluem a exibição de curtas- -metragens e peça de teatro interativa, com temas relacionados à realidade dos operários. “A experiência abre a cabeça e libera a sensibilidade deles, contribuindo para melhorar suas relações no trabalho e em casa”, afirma Pugliese. 

As obras produzidas nos ateliês já participaram de mostras de arte e design dentro e fora do país. Hoje, 230 trabalhos fazem parte do acervo e ficam expostos na Galeria Mestres da Obra, inaugurada em 2008, no centro de São Paulo.


Fotos Carlos Cubi e Lufe Gomes
Inspirados na obra do pintor Volpi, o quadro é feito de recortes de madeira de andaimes

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