enviado por Stanley Burburinho
O Clube Militar serviu de cenário na semana que passou para um
espetáculo dos mais deprimentes e que confirmou a quantas anda a
saúde do jornalismo de mercado. Lá falaram, sem o menor
constrangimento, para um público constituído sobretudo de militares da
Reserva, a maioria apoiadora do golpe de 64, Merval Pereira, de O
Globo, Reinaldo Azevedo, da revista Veja e um tal de Rodolfo Machado
Moura, diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Rádio e
Televisão (Abert).
Nunca vi tanta mentira e manipulação da informação em um curto espaço
de duas horas como o apresentado no Clube Militar. Seria impossível
enumerar todas as baboseiras levantadas pelos palestrantes. Algo que
depõe contra o jornalismo brasileiro.
Para se ter uma idéia, o amestrado colunista de O Globo, afirmou
enfaticamente que o eleitorado brasileiro é constituído por “60% de
analfabetos funcionais sem condições de discernir entre o bem e o
mal”. Elitismo em mais alto grau e com base em informação sabe-se lá
de que fonte. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(PNAD)-2009, o número de analfabetos funcionais no Brasil não
ultrapassa os 20%. De onde então, o cascateiro Merval Pereira tirou
esse percentual? Possivelmente do ódio que nutre a quem não aceita o
seu ideário e de O Globo.
Merval Pereira, como querendo justificar que a ideologia de seu jornal
e demais veículos da mídia de mercado não consegue convencer os
brasileiros, culpou os supostos analfabetos “que Lula se aproveita
para convencer”, pelo resultado das recentes pesquisas. Para Merval, o
“bem” quer dizer votar em José Serra ou Marina Silva. O “mal” é o
“outro lado”....Não tem coragem de dizer isso abertamente, mas está
implícito.
E tem muito mais, todos os três palestrantes, sob aplausos dos
militares sem comando, usaram uma linguagem de ódio e calúnias sem
provas contra Lula e demais integrantes do governo. Não disfarçaram,
estavam se sentido em casa, ainda mais com o apoio do Instituto
Millenium, uma entidade bancada por empresários, nos moldes de outras
criadas antes de 64 para respaldar o golpe.
Merval Pereira, tentando posar de moderado em comparação a Reinaldo
Azevedo, que faz o gênero bobo da corte, do tipo que arranca risos com
o seu radicalismo patronal, deixou claro sua posição contra a
obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional chegando a
afirmar o absurdo de que se trata de “um viés corporativo” associando
a exigência ao desejo do governo Lula em controlar a mídia. Não
explicou exatamente o que tem a ver uma coisa com a outra.
Merval desinformou também ao lembrar erradamente que o governo Lula
propôs a criação do Conselho Federal de Jornalismo, quando isso não
aconteceu. A proposta foi da diretoria da Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj), sendo rejeitada por mais diversos setores, muitos
deles sem conhecer exatamente o projeto. Merval revelou desinformação.
Foi um mau jornalista.
O obscuro Azevedo considerou a oposição ao governo Lula “sem vergonha
e mixuruca” confirmando que os meios de comunicação estão ocupando o
espaço da oposição, mas, segundo ele, na “defesa da Constituição”. O
colunista da revista Veja usou inclusive termos ofensivos ao
Presidente Lula, arrancando aplausos.
Há uma visível disputa na extrema direita de qual jornalista consegue
mais adeptos. Além do filósofo reprovado por uma banca da USP, Olavo
de Carvalho, Reinaldo Azevedo tenta de todas as formas ocupar o
espaço, disputado também por Diego Mainardi, hoje, como Olavo de
Carvalho, vivendo no exterior. Arnaldo Jabor corre por fora.
Vale ainda um comentário sobre o Instituto Millenium, apoiador do
seminário “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de imprensa”
realizado no Clube Militar. No fundo, bem lá no fundo, empresários que
apoiaram a repressão policial na época da ditadura não se conformam
com os novos tempos no Brasil e na América Latina. Decidiram então
bancar o Instituto Millenium, uma entidade que ressurge do lixo da
história do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), criada
para apoiar o golpe de 64.
E qual a associação que se pode fazer entre o referido instituto e os
militares sem comando que assistiram o destilar de ódios dos três
palestrantes? Empresários financiadores da repressão temem a abertura
dos arquivos da época da ditadura que naturalmente vão mostrar
oficialmente como agia o setor por detrás do pano, apoiando ações
assassinas do Estado, como a Operação Bandeirantes. Como nesta
história aparecem também alguns militares que agiram ilegalmente, os
financiadores, aí sim verdadeiros culpados, se escondem e colocam na
linha de frente alguns militares delinquentes. Nada a ver com a
corporação militar.
É por aí que se pode entender a associação entre o Instituto Millenium
e os militares que foram ouvir Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e o
representante da Abert, Rodolfo Machado Moura. Ou seja, vale tudo para
alcançar os objetivos, até mentiras como as apresentadas pelos três
palestrantes no Clube Militar.
Em tempo: O Estado de S.Paulo abriu o jogo em editorial recomendando
voto em José Serra, enquanto a Folha de S. Paulo desancou sobre a
candidatura Dilma Rousseff, mas dizendo que não apoia nenhum
candidato. Vale então o dito popular: me engana que eu gosto. O Globo
até agora nada em editorial, mas em compensação aumenta a quantidade
de páginas de críticas a Lula e a Dilma Roussef
Mário Augusto Jakobskind do Direto da Redação
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