Uma questão de segurança
O impressionante terremoto no Japão e a consequência para os equipamentos nucleares daquele país vão provocar reflexões adicionais sobre o programa nuclear brasileiro.
A energia nuclear para fins pacíficos é essencial, e nenhum país deve ser impedido de acesso à tecnologia, nas condições impostas pela necessidade de evitar a proliferação bélica.
No nosso caso a questão é bem central para a estratégia de abastecimento de energia.
Nosso maior potencial de energia limpa, ainda inexplorada, está na Amazônia. Mas a construção de usinas hidroelétricas no norte do país enfrenta dura resistência ambiental.
O governo tem lutado e buscado avançar, mas o exemplo de Belo Monte mostra que as dificuldades tendem a crescer.
Desde a crise de abastecimento no começo da década passada os governos brasileiros recorrem à termoleletricidade.
Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, na origem do problema, e foi também assim com Luiz Inácio Lula da Silva, administração em que o ramo estava a cargo da hoje presidente Dilma Rousseff.
Termoeletricidade no Brasil é um contrassenso, principalmente por queimar combustíveis fósseis.
Mais ou menos poluentes, são todos mais prejudiciais ao meio ambiente do que, por exemplo, a hidroeletricidade.
As pressões sociais têm imposto restrições ao tamanho dos reservatórios das hidroelétricas, para adaptá-las a critérios de correção ambiental e social.
Certas fontes, como solar e eólica (ventos), ainda não demonstraram capacidade de suprir a demanda, então uma alternativa bastante discutida nos últimos anos é a nuclear.
Que enfrenta também forte resistência dos ambientalistas, notadamente pelo desafio de armazenar em segurança o lixo atômico.
O terremoto/tsunami japonês coloca, para nós aqui, um ponto adicional no debate. A preliminar de qualquer decisão é a existir uma defesa civil eficiente, provada e que consiga a confiança da sociedade.
Tenho sido favorável à construção de usinas nucleares no Brasil, pois parece haver algo de obscurantismo na rejeição pura e simples de uma tecnologia.
Nos transgênicos o Brasil superou o desafio, com resultados benéficos para nossa agricultura. Uma decisão adotada lá atras e que agora mostra plena utilidade, nesta era de crescente demanda por alimentos.
O problema não está nas tecnologias, mas na capacidade de usá-las de modo ambiental e socialmente responsável.
As recentes chuvas no Rio de Janeiro exibiram o total despreparo e irresponsabilidade das autoridades daquele estado e da maioria dos municípios atingidos. Revelou-se também que um plano federal para prevenir consequências de desastres vinha dormindo havia anos na gaveta.
O grande número de mortes não teve maiores consequências políticas, pois ali a mão federal e a estadual se lavaram mutuamente. Afinal são aliados.
Agora temos a promessa de que, finalmente, vai acontecer. Vamos ter um bom sistema de alerta. Dados os antecedentes, a sociedade tem o direito de desconfiar. Os governos, em primeiro lugar o federal, precisam mostrar serviço. Para só depois pedir crédito de confiança.
O debate sobre construir maciçamente usinas nucleares é complexo, mas tem uma preliminar. Um país onde qualquer chuva mais forte em certas regiões é sinônimo de mortes em profusão tem providências anteriores a adotar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário