Guantánamo

Alguns dos principais veículos jornalísticos dos Estados Unidos e da Europa se esbaldam com novas informações obtidas pelo site Wikileaks e divulgadas à imprensa por “uma outra fonte que pediu sigilo”. Os documentos trazem uma série de detalhes sobre a prisão de Guantánamo, onde o governo dos Estados Unidos mantém dezenas de suspeitos de terrorismo detidos em condições condenadas por organizações de direitos humanos de todo o mundo. São relatórios de inteligência sobre 759 das 779 pessoas que passaram pela prisão em algum momento.
O foco da reportagem do espanhol El País são os abusos aos direitos humanos cometidos pelos Estados Unidos, uma vergonha de grande monta para um país que alega ter esses direitos como base de sua política externa. Idosos com demência, adolescentes, pessoas com doenças psiquiátricas graves e gente que simplesmente estava na hora errada no lugar errado foram parar na prisão, alguns deles sem nem mesmo as autoridades americanas conseguirem descobrir os reais motivos. De acordo com os cálculos do jornal, os EUA não acreditavam na culpa ou ameaça de quase 60% dos prisioneiros.
A prisão funciona como uma imensa delegacia de polícia sem limite de instância e na qual a duração do castigo não é proporcional ao suposto delito cometido. Os relatórios secretos mostram a alguns presos tratados como prováveis culpados que devem demonstrar não apenas sua inocência, mas também a falta de conhecimento sobre a Al Qaeda e os Talibãs para terem liberdade. O único delito que as autoridades atribuem a alguns deles é ter um primo, amigo ou irmão relacionado à jihad; ou viver em uma cidade onde houve ataques importantes do Talibã; ou viajar por rotas usadas pelos terroristas e, portanto, conhecê-las bem.
The Washington Post, por sua vez, foca a reportagem nos detalhes que a Inteligência americana obteve dos prisioneiros classificados como de “alto valor” – aqueles com grandes quantidades de informações relevantes. Foram eles que descreveram os passos dos principais líderes Al Qaeda – Osama bin Laden e Ayman Al-Zawahiri – nos dias que se seguiram ao 11 de Setembro de 2001. Segundo o jornal, os documentos mostram que os principais líderes do grupo estavam em Karachi, no Paquistão, no dia do ataque, e que em 12 de setembro já haviam voltado para o Afeganistão, onde passaram dias planejando uma longa guerra com os EUA, que invadiriam o país nas semanas seguintes:
Bin Laden, acompanhado de Zawahiri e alguns de seus auxiliares mais próximos, se refugiraram no complexo de cavernas de Tora Bora em novembro. Por volta de 25 de novembro, ele foi visto fazendo um discurso para líderes e guerrilheiros no complexo. Ele disse a eles para “se manterem fortes em seu compromisso de lutar, de obedecer aos líderes, de ajudar o Talibã e que era um erro grave e um tabu ir embora antes que a luta estivesse completada”. De acordo com os documentos, Bin Laden e seu vice escaparam de Tora Bora na metade de dezembro de 2001. Naquele tempo, o líder da Al Qaeda estava aparentemente tão sem dinheiro que pediu emprestado US$ 7 mil a um de seus protetores – quantia que pagou depois de um ano.
Confira as reportagens sobre o novo vazamento do Wikileaks:
Foto: Brennan Linsley/AP
José Antonio Lima

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