[...] Todos os assuntos nos próximos tempos parecerão sem importância diante do massacre das crianças de Realengo.
Porém, novos massacres estão para acontecer e será difícil identificar seus responsáveis. Eles parecerão normais, frutos de eventos aleatórios, que não devem merecer qualificativos tão dramáticos quanto infanticídio ou assassinato. Mas, seus efeitos serão igualmente mortais para um número enorme de pessoas e os autores dificilmente serão investigados.
Aliás, “tragédia” e “desastre” são termos recorrentes em casos de semelhante gravidade, nessa tendência que nossa imprensa tem de naturalizar eventos criminosos em sua origem. É o caso das mortes provocadas pelas chuvas que em janeiro atingiram a região serrana do Rio em fevereiro.
Um minucioso relatório de quatro técnicos do Ministério do Meio Ambiente (MMA) mostrou que, em verdade, de natural pouco tinha o deslize de milhões de toneladas de terra que mataram cerca de mil pessoas e fizeram desaparecer centenas em Nova Friburgo e outras cidades. “A topografia, geologia, hidrografia e regime pluviométrico da região determinam a previsibilidade da ocorrência de acidentes naturais na área”, atesta o relatório assinado por Wigold Bertold Schäeffer, Luiz Carlos Sérvulo de Aquino, Marcos Reis Rosa e João de Deus Monteiro.
E continua: “O presente estudo demonstra que a faixa de 30 metros em cada margem (60 metros no total), considerada Área de Preservação Permanente ao longo dos cursos d´água, estivesse livre para a passagem da água, bem como se as áreas com elevada inclinação e os topos dos morros, montes, montanhas e serras estivessem livres de ocupação e intervenções inadequadas, como determina o Código Florestal, os efeitos da chuva teriam sido significativamente menores”.
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