A picareta

[...] do Mala Velha

Clotilde chegou à casa da irmã, a Neli, chorando muito e pedindo ajuda:
- Deixa eu ficar uns tempos contigo, minha irmã! O Zequinha voltou a me bater!
- Você fica aqui o tempo que quiser! Eu não vou deixar minha irmã com um macho desse!
- Eu ainda sei cortar cabelo, fazer unha! Quero só uns dias enquanto me ajeito!
- Mulher, num te preocupa com isso, não! A casa é pequena, mas tu dorme no corredor!
E os dias foram se passando. Até que a mulher passou a se engraçar do Pedro Mala Velha,
um operário que trabalhava numa construção próxima. Passaram a namorar.
Neli advertia a irmã:
- Toma cuidado com homem, prestenção, te alui!
- Ah, mais com o Pedro o negócio é outro! Ele é tão diferente do finado Zequinha!
O Pedro falava sempre em construir um quarto na casa:
-Deixe comigo que eu vou falar com a sua irmã!
Encarou a Neli. Falou do desejo de construir um quarto para sua amada.
Ela concordou impondo condições:
- Bom, se eu não vou gastar nada, se o cimento, a areia grossa,
a mão de obra toda for por sua conta pode fazer!
Depois de dar o toque final com a pintura, falou:
- Pronto, dona Neli, sua irmã já tem onde ficar. Amanhã trago as minhas coisas e um primo meu que vai ficar uns diazinhas comigo?
- Cumequié? Trazer as coisas? Primo? Que é isso? Tá pensando que isso daqui é cabaré?
- Mas eu fiz esse quarto pra morar com a Clotilde!
- Negativo, esse quarto eu vou alugar! De homem aqui só o meu filho, o Cesinha!
- Ah, é assim? Quer dizer que eu me lasquei todo trabalhando pra fazer o meu ninho e a senhora vem com essa conversa!
- Ninho quem tem é passarinho, e pode cair fora daqui!
- Não tem problema, mas antes vou derrubar com essa picareta tudo o que fiz!
- Vai derrubar a minha casa? Chamem a polícia, o Ronda! Tem um doido querendo derrubar minha casa!
Todos foram esbarrar no distrito.
Pedro Mala Velha trocou seu curió por um barraco, lá no Bom Jardim,
onde esta vivendo um grande amor sob o cantar agora de um rouxinol.
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