por Alon Feuerwerker

Primeiros passos

É cedo para saber se o PMDB vai mesmo bancar até o fim o recém-filiado deputado federal Gabriel Chalita na corrida à Prefeitura de São Paulo. No caso de se reagruparem as hoje dispersas correntes do PSDB, Democratas e PSD, é bem provável que subam muito as pressões do PT para uma composição já no primeiro turno.

Chalita está convicto de que o PMDB vai cumprir o combinado e lançá-lo à sucessão de Gilberto Kassab. E é mesmo improvável que o vice-presidente Michel Temer recue da combinação.

Mas governo é governo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece empenhado em garantir já no primeiro turno paulistano um polo hegemônico para, como tem dito, “juntar os diferentes para combater os antagônicos”.

O problema, para o PT, é que o PMDB dá sinais de querer musculatura própria, pois 2014 vem aí e nada está garantido. Se com Lula a recondução do vice José Alencar era sempre a aposta mais prudente, desta vez o PMDB precisará movimentar-se um pouco mais para fazer prevalecer a inércia. Pois é nítido o esboço de movimentação de um potencial concorrente, o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB.

Campos adotou no primeiro mandato em um perfil nacional discretíssimo. Mas aos poucos vai ajustando a bússola. Das entrevistas às inserções do PSB no horário político, apresenta-se na prática como alternativa.

O governador tem repetido que 2014 é jogo jogado. Com Dilma Rousseff candidata à reeleição ou, numa eventualidade, a volta de Lula. Diz também que seu projeto é fortalecer o PSB. Diz ainda que deseja completar o mandato, o que inviabilizaria qualquer desincompatibilização daqui a três anos.

Pode ser, mas é visível que o governador não fecha as portas para outras opções. Se o cenário permitir outras opções.

Campos tem sido uma reserva segura para ajudar o prefeito Gilberto Kassab a montar o PSD. É improvável que esteja fazendo isso a pedido de Dilma, ainda que ela tenha sido informada da parceria pernambucano-paulista. E não vetou. Se o governador estivesse de olho apenas em fortalecer o PSB em São Paulo, poderia ter retido Chalita, que aliás tem linha direta com o Geraldo Alckmin. E o PSB está no governo Alckmin.

Mas Campos preferiu abrir um caminho com Kassab, em São Paulo e nacionalmente. Pode ser no futuro uma plataforma de alianças, para o que for. Para pleitear uma vice. E também para alavancar um projeto presidencial próprio, no qual será bom ter uma perna mais liberal.

Todo partido de esquerda com projeto de poder tem isso no Brasil, então o PSB parece estar atrás de conseguir o seu aliado “à direita”.

Mas em que base poderiam se assentar outros projetos que não os da dupla tradicional PT-PSDB?

Em primeiro lugar, no crescimento do impulso renovador já exibido na enxurrada de votos dados a Marina Silva no primeiro turno ano passado. Em segundo, na dúvida sobre se o campo PSDB-DEM-PPS estará íntegro até a sucessão presidencial.

Dos políticos brasileiros que não estão na oposição a Dilma, Campos foi quem ofereceu as declarações mais simpáticas ao recente e polêmico artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre o papel da oposição.

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