O PERIGO DAS SOLUÇÕES MEDIEVAIS
A temperatura no planeta vai subir, se a razão estiver com Raul Solnado, aquele humorista português que logo depois da Revolução dos Cravos vaticinou a inevitabilidade de se aguardar a conta do florista. Mais do que necessidade, era obrigação que os Estados Unidos caçassem Osama Bin Ladem de forma implacável, responsável por um dos mais aviltantes massacres da História. O problema é que os americanos não fizeram como os israelenses, que capturaram Adolf Eichmann, levaram-no a julgamento e, depois, à condenação capital. Preferiram repetir o episódio Che Guevara, que assassinaram depois de preso. Ajudaram a criar um mito que permanece até hoje.
Em vez de levar Osama para ser julgado em Nova York, optaram pela solução aparentemente mais simples: um tiro na cabeça, com o acréscimo de terem dado fim ao cadáver, jogado no mar. Assim, imaginaram seus estrategistas evitar a materialização de um suposto mártir para boa parte do mundo muçulmano, afastando peregrinações ao local da prisão, do julgamento ou à sepultura, na hipótese de uma inevitável resistência armada.
Enganam-se não apenas na interpretação do Direito, inscrito na sua própria Constituição, mas também na previsão das reações. Acabam de criar outro mito, desta vez envolvido por imenso potencial de violência e de vingança a que se dedicarão milhões de seguidores do Corão. Não deixam dúvidas as próprias instruções de Washington a cidadãos americanos que se encontram fora do país: devem ficar todos nos hotéis e residências, sem sair às ruas. Mas por quanto tempo? A previsão é de explosões sem conta não só no Oriente Médio, mas em todos os continentes. Até de atentados em pleno território dos Estados Unidos.
Numa palavra, precipitaram-se, optando pela solução medieval do assassinato. Ainda mais porque acompanhada de manifestações de euforia da multidão, em suas principais cidades, festejando nas telinhas a execução, mais do que a prisão. Como estarão reagindo adeptos, simpatizantes ou meros espectadores do lado de Osama Bin Ladem? Tomara que não sobrevenham novos capítulos de carnificina, mas garantir, ninguém garante.
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