O modelo político-gerencial
O caso Palocci permite uma boa discussão sobre modelos de governabilidade.
Vendeu-se a imagem para a opinião pública de que governo bom é aquele eminentemente técnico, que não faça concessões políticas.
A história registra dois casos eloquentes sobre esse modelo político: Jânio Quadros e Fernando Collor. Governaram sozinhos e caíram sozinhos. Os argumentos pró-impeachment foram apenas álibis para formalizar uma situação de fato.
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Fernando Henrique Cardoso demonstrou a importância de manter a governabilidade. No início, não precisou se preocupar muito, devido à popularidade granjeada com o plano Real. No segundo mandato, o jogo de cintura político foi fundamental.
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A partir das experiências históricas, o perfil do grande governante precisa conter visão de futuro, gestão mas, igualmente, habilidade política para compor maiorias e mesmo fazer concessões que não comprometam os objetivos finais de governo.
Essa é a lição maior desses cinco primeiros meses de governo Dilma.
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Mesmo antes da denuncia, Palocci não vinha se saindo bem em suas funções de Ministro da Casa Civil.
Segundo um privilegiado observador do governo Dilma, o problema maior foi o acúmulo de funções. Ficou incumbido não apenas da articulação política como também da supervisão gerencial do governo - função um pouco estranha à sua formação.
No âmbito do governo, há duas formas de articulação política. Uma, a formulação das grandes alianças e da estratégia macro. Outra, a do atendimento do varejo, receber políticos, dar-lhes atenção, atender pequenos pleitos.
Em tese, esse varejo desfia ser feito pelo Secretario de Relações Institucionais Luiz Sergio Nobrega de Oliveira. Mas o embaraço de Palocci, sua falta de prática gerencial, acumulando muitas funções, sem dar conta, acabou comprometendo também o varejo.
Por outro lado, a presidente Dilma Rousseff também se isolou do mundo político, envolvida como estava na definição de sua estratégia de governo.
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Não de pode dizer que havia uma desarticulação política. Embora no início, o governo conseguiu aprovar sem minuta dificuldade os principais projetos apresentados, como o trem-bala, o tratado com o Paraguai, o salário mínimo. O Código Florestal acabou emperrando em apenas um ponto.
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Mesmo assim, a saída de Palocci permitirá um rearranjo e um aprimoramento do modelo.
Dilma trará para si as grandes formulações políticas. Aliás, desde a semana passada passou a abrir a agenda para bancadas aliadas.
A substituta de Palocci, senadora Gleise Hoffmann, cuidará exclusivamente das questões administrativas. O varejo político por enquanto ficará com Luiz Sérgio, mas por pouco tempo. Dilma pretende mante-lo em solidariedade aos ataques que sofreu nos últimos dias. Mas a tendência será substitui-lo.
O desafio derradeiro será pacificar a bancada do PT, que andou se engalfinhando nas últimas semanas. Há um conjunto de nomes experientes, dos quais poderá sair o novo líder da bancada. O importante será definir o quanto antes e pacificar as guerras internas.
Depois, tocar o barco para o que interessa: a construção de políticas públicas consistentes.
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