O único modo razoável de fazer oposição é pedir o impossível. Haverá acusações de irrealismo, impatriotismo, irresponsabilidade, mas se evitará o pior: o governo fazer finalmente o que a oposição pede e ela, em consequência, precisar aplaudir.
Ao longo de anos, a oposição brasileira vem concentrando o foco em trabalhar as acusações de irregularidades no governo do PT. Fazer isso era mesmo obrigação. Mas fazer principalmente -ou só- isso trazia um risco.
E no dia em que o próprio governo do PT enveredasse pela correção de rumos? Por vontade ou necessidade, tanto faz.
Só restaria aplaudir.
Na política, como no jornalismo, as coisas acontecem com maior acaso do que supõe o senso comum. A realidade costuma manter distância prudente das teorias conspiratórias.
Dilma Rousseff não planejou a tal faxina, mas quando o problema se colocou a presidente se saiu (vem se saindo) bem. Fincou a bandeira no lado certo e deixou aos críticos duas situações óbvias e complicadas: alinharem no lado errado ou baterem palmas para ela.
Não deixa de ser um jogo arriscado para a presidente, pois a tal faxina é operação fácil de desencadear e difícil de concluir. Um caminho que produz turbulências políticas em série.
Mas sempre haverá a opção de administrar com equilíbrio, apenas variando o tônus.
E os últimos dias consolidam um método de saída, a cada episódio.
A denúncia aparece. Os acusados ou têm uma ótima explicação ou caem. Os políticos da órbita do problema manifestam desconforto. A presidente substitui, com graus variáveis de diálogo. Os políticos recompõem-se com a dona da caneta.
E agora, o que fazer? Um pedaço da oposição já se deixou arrastar pelos fatos. Propõe simplesmente apoiar a presidente. Mas para quem deseja o lugar dela isso não é solução. Daí que outro pedaço procure uma maneira de manter a crítica.
Pois maneiras há. Uma é dizer que a tal faxina vai aquém do necessário e possível. E haverá alguma realidade nisso, porque remover completa e definitivamente todos os focos de irregularidades é mesmo impossível.
E portanto é o certo a exigir.
Pois a produção deles nunca cessa.
Aí o ganho político de quem critica dependerá de a opinião pública e o eleitorado acreditarem que os críticos fariam melhor caso estivessem sentados na cadeira. Que conseguiriam implantar um, digamos, “Corrupção Zero”.
Outro discurso possível seria o antipolítico. Defender mais concentração de poder. Propor terminar, por exemplo, com as emendas parlamentares. Deixar unicamente a critério do Executivo a decisão do que gastar, e quando.
Teria a simpatia dos eternos autoritários. Dos saudosos da ditadura, quando o Congresso Nacional estava totalmente privado do direito fundamental de discutir e decidir o destino do dinheiro dos impostos.
A linha autoritária é fácil de verbalizar, mas difícil de operar, especialmente para quem nutre a esperança de recolher nas próximas eleições parte do apoio político deixado pelo caminho na tal faxina.
No jogo proposto por Dilma, uma eventual exacerbação udenista dos adversários jogaria a favor dela, inclusive por a oposição ficar algo impedida de atrair os descontentes ejetados da base governista.
Se bem que na política tudo é possível. Inclusive o sujeito exigir mais rigor da presidente e, ao mesmo tempo, flertar com o atração futura de quem hoje está na mira da tal faxina.
E, como nossa oposição também é governo, é imediato o próprio PT lembrar a atualidade do velho “casa de ferreiro, espeto de pau”. Ou do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
A aprovação de Dilma vem bem abaixo do patamar em que recebeu o cetro de Luiz Inácio Lula da Silva. A desaceleração econômica está aí e a queda da inflação ainda é um vir a ser.
E as acusações de irregularidades no governo acumulam-se.
Seria um belo caldo de cultura para o relançamento da oposição.
Não estivesse ela enredada na tradicional dificuldade de explicar -e portanto saber- o que faria de diferente caso fosse encarregada de lidar com os problemas, na política e na economia.
Ao longo de anos, a oposição brasileira vem concentrando o foco em trabalhar as acusações de irregularidades no governo do PT. Fazer isso era mesmo obrigação. Mas fazer principalmente -ou só- isso trazia um risco.
E no dia em que o próprio governo do PT enveredasse pela correção de rumos? Por vontade ou necessidade, tanto faz.
Só restaria aplaudir.
Na política, como no jornalismo, as coisas acontecem com maior acaso do que supõe o senso comum. A realidade costuma manter distância prudente das teorias conspiratórias.
Dilma Rousseff não planejou a tal faxina, mas quando o problema se colocou a presidente se saiu (vem se saindo) bem. Fincou a bandeira no lado certo e deixou aos críticos duas situações óbvias e complicadas: alinharem no lado errado ou baterem palmas para ela.
Não deixa de ser um jogo arriscado para a presidente, pois a tal faxina é operação fácil de desencadear e difícil de concluir. Um caminho que produz turbulências políticas em série.
Mas sempre haverá a opção de administrar com equilíbrio, apenas variando o tônus.
E os últimos dias consolidam um método de saída, a cada episódio.
A denúncia aparece. Os acusados ou têm uma ótima explicação ou caem. Os políticos da órbita do problema manifestam desconforto. A presidente substitui, com graus variáveis de diálogo. Os políticos recompõem-se com a dona da caneta.
E agora, o que fazer? Um pedaço da oposição já se deixou arrastar pelos fatos. Propõe simplesmente apoiar a presidente. Mas para quem deseja o lugar dela isso não é solução. Daí que outro pedaço procure uma maneira de manter a crítica.
Pois maneiras há. Uma é dizer que a tal faxina vai aquém do necessário e possível. E haverá alguma realidade nisso, porque remover completa e definitivamente todos os focos de irregularidades é mesmo impossível.
E portanto é o certo a exigir.
Pois a produção deles nunca cessa.
Aí o ganho político de quem critica dependerá de a opinião pública e o eleitorado acreditarem que os críticos fariam melhor caso estivessem sentados na cadeira. Que conseguiriam implantar um, digamos, “Corrupção Zero”.
Outro discurso possível seria o antipolítico. Defender mais concentração de poder. Propor terminar, por exemplo, com as emendas parlamentares. Deixar unicamente a critério do Executivo a decisão do que gastar, e quando.
Teria a simpatia dos eternos autoritários. Dos saudosos da ditadura, quando o Congresso Nacional estava totalmente privado do direito fundamental de discutir e decidir o destino do dinheiro dos impostos.
A linha autoritária é fácil de verbalizar, mas difícil de operar, especialmente para quem nutre a esperança de recolher nas próximas eleições parte do apoio político deixado pelo caminho na tal faxina.
No jogo proposto por Dilma, uma eventual exacerbação udenista dos adversários jogaria a favor dela, inclusive por a oposição ficar algo impedida de atrair os descontentes ejetados da base governista.
Se bem que na política tudo é possível. Inclusive o sujeito exigir mais rigor da presidente e, ao mesmo tempo, flertar com o atração futura de quem hoje está na mira da tal faxina.
E, como nossa oposição também é governo, é imediato o próprio PT lembrar a atualidade do velho “casa de ferreiro, espeto de pau”. Ou do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
A aprovação de Dilma vem bem abaixo do patamar em que recebeu o cetro de Luiz Inácio Lula da Silva. A desaceleração econômica está aí e a queda da inflação ainda é um vir a ser.
E as acusações de irregularidades no governo acumulam-se.
Seria um belo caldo de cultura para o relançamento da oposição.
Não estivesse ela enredada na tradicional dificuldade de explicar -e portanto saber- o que faria de diferente caso fosse encarregada de lidar com os problemas, na política e na economia.
por Alon Feurwerker
Nenhum comentário:
Postar um comentário