A única certeza sobre narrativas oficiais é que elas um dia deixarão de ter o status, serão derrubadas pelo surgimento de fatos. Ou pela hegemonia de um vetor político diferente, portador da sua própria narrativa.
Esse é o maior risco que corre a comissão proposta pelo governo para verificar os acontecimentos relacionados a violações de direitos humanos na ditadura. O período proposto é mais extenso, mas o foco é nos acontecimentos entre 1964 e 1985.
O próprio conceito de narrativa é uma deformação, pois supõe que um pedaço da realidade será desconsiderado. Agora mesmo no Oriente Médio vê-se um choque de narrativas, sem qualquer utilidade prática a não ser aguçar as contradições.
Não fosse a intenção de oficializar interpretações históricas parciais, não seria necessário falar em narrativa.
Bastaria dizer que a comissão vai repor a história completa do período.
Mais objetivo e fácil de explicar. E de compreender.
Narrativas são seres condenados à obsolescência exatamente por não resistirem ao oxigênio das novas descobertas históricas, ou às mudanças políticas.
Regimes que pretendem impor narrativas produzem apenas pilhas de livros inservíveis. Obras candidatas ao ridículo, em primeiro lugar pelos críticos encarregados de emplacar as narrativas subsequentes.
Mas se as narrativas são seres de obsolescência programada, têm alguma utilidade no prazo limitado, quando servem como motor em lutas político-ideológicas. Proporcionam à facção conforto e segurança espirituais.
Depois serão descartadas, mas já terão prestado o serviço encomendado.
O Brasil não precisa de uma narrativa oficial sobre os acontecimentos da ditadura. Já há narrativas suficientes. A comissão deveria se propor um trabalho abrangente, documentado, de levantamento factual sobre aquele período.
O que implicaria ouvir todos os lados e, dentro do possível, guardar algum distanciamento.
Mas aí chegamos a uma contradição em termos. Se distanciamento crítico é difícil até para historiadores profissionais, quanto mais para políticos.
Acadêmicos buscam (ou deveriam buscar) antes de tudo a perenidade da obra intelectual. Já os políticos buscam acima de tudo a perenidade no poder.
Uma boa providência na formação da comissão seria garantir pluralidade. Se a neutralidade é impossível, melhor será deixar as diversas narrativas brigarem, os diversos facciosismos disputarem, para ver se sai algum coelho do mato.
Quanto mais ela conseguir incorporar características plurais, menos datado será o produto do seu trabalho e mais respeito vai angariar.
Mas não aposto haver razão para otimismo.
Esse é o maior risco que corre a comissão proposta pelo governo para verificar os acontecimentos relacionados a violações de direitos humanos na ditadura. O período proposto é mais extenso, mas o foco é nos acontecimentos entre 1964 e 1985.
O próprio conceito de narrativa é uma deformação, pois supõe que um pedaço da realidade será desconsiderado. Agora mesmo no Oriente Médio vê-se um choque de narrativas, sem qualquer utilidade prática a não ser aguçar as contradições.
Não fosse a intenção de oficializar interpretações históricas parciais, não seria necessário falar em narrativa.
Bastaria dizer que a comissão vai repor a história completa do período.
Mais objetivo e fácil de explicar. E de compreender.
Narrativas são seres condenados à obsolescência exatamente por não resistirem ao oxigênio das novas descobertas históricas, ou às mudanças políticas.
Regimes que pretendem impor narrativas produzem apenas pilhas de livros inservíveis. Obras candidatas ao ridículo, em primeiro lugar pelos críticos encarregados de emplacar as narrativas subsequentes.
Mas se as narrativas são seres de obsolescência programada, têm alguma utilidade no prazo limitado, quando servem como motor em lutas político-ideológicas. Proporcionam à facção conforto e segurança espirituais.
Depois serão descartadas, mas já terão prestado o serviço encomendado.
O Brasil não precisa de uma narrativa oficial sobre os acontecimentos da ditadura. Já há narrativas suficientes. A comissão deveria se propor um trabalho abrangente, documentado, de levantamento factual sobre aquele período.
O que implicaria ouvir todos os lados e, dentro do possível, guardar algum distanciamento.
Mas aí chegamos a uma contradição em termos. Se distanciamento crítico é difícil até para historiadores profissionais, quanto mais para políticos.
Acadêmicos buscam (ou deveriam buscar) antes de tudo a perenidade da obra intelectual. Já os políticos buscam acima de tudo a perenidade no poder.
Uma boa providência na formação da comissão seria garantir pluralidade. Se a neutralidade é impossível, melhor será deixar as diversas narrativas brigarem, os diversos facciosismos disputarem, para ver se sai algum coelho do mato.
Quanto mais ela conseguir incorporar características plurais, menos datado será o produto do seu trabalho e mais respeito vai angariar.
Mas não aposto haver razão para otimismo.
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