A história brasileira apresenta uma série de ciclos em que um determinado segmento da atividade econômica sobressaiu sobre os demais, causando importantes mudanças populacionais, culturais e políticas na sociedade.
Ao longo dos tempos, a importância desses ciclos foi sendo atenuada pela maior diversidade e complexidade da economia nacional, mas podemos estar entrando em um novo ciclo que, se bem aproveitado, deverá ser transformacional, sobretudo em termos de benefícios sociais ao nosso país.
O primeiro e mais longo ciclo econômico foi o da cana-de-açúcar, que começou logo após o descobrimento do Brasil, com as capitanias hereditárias, e durou até 1700.
Era um negócio bastante lucrativo para os donatários por serem culturas extensivas em terras doadas por Portugal, pelos bons preços do produto na Europa e pelo baixíssimo custo da mão de obra devido à utilização de escravos.
A esse se seguiu o ciclo da mineração, com as famosas entradas e bandeiras, que tiveram importante papel na ocupação do interior do país. As expedições varreram boa parte do território nacional em busca de ouro, prata e pedras preciosas. Foi um período de grande fluxo populacional vindo de Portugal para os hoje Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
O século 19 começa com a chegada do ciclo do café. A cultura desse produto foi iniciada pelo Vale do Paraíba, se alastrando posteriormente para o interior de São Paulo e do Paraná, e foi responsável por uma forte imigração europeia. O café foi o principal produto de exportação do país por quase cem anos, tendo sofrido forte impacto com a crise de 1929 pela redução do consumo mundial e pela queda de preços.
Outro importante ciclo que ocorreu em meio ao auge do plantio de café no país foi o da borracha na Amazônia. Esse produto chegou a ser responsável por 40% das exportações brasileiras. Foi um período de grande geração de riqueza, ostentação e luxo que durou até o início do século passado, mas que ruiu graças à ampliação da oferta de látex propiciada pela biopirataria de milhares de seringueiras para o Oriente, pela utilização cada vez maior de borracha sintética e pela Primeira Guerra Mundial.
O fim da República Velha, em 1930, marca também o início do ciclo da industrialização brasileira. Na sua fase inicial, o foco era privilegiar as empresas nacionais como forma de evitar a total dependência externa de produtos industrializados. Alguns marcos desse período foram a criação da CSN, da Vale do Rio Doce, da Chesf e da Petrobras.
A partir de 1955, o desenvolvimento industrial ganhou novos rumos com a abertura da economia que atraiu empresas multinacionais.
Nas décadas subsequentes, esse processo continuou a prosperar apesar das crises. Hoje, temos um parque industrial bastante diversificado, mas, em muitos casos, ainda dependente de tecnologia externa.
A abertura do setor do petróleo a partir de 1997, associada à recente descoberta do pré-sal e às expectativas de que suas reservas sejam de fato gigantescas, abre a perspectiva para o início de um novo e especial ciclo de industrialização que promete ser o mais importante de nossa história econômica.
A maior diferença desse para os ciclos anteriores está associada ao fato de envolver uma atividade econômica que emprega enorme quantidade de profissionais com elevado nível de qualificação e consegue pagar salários bem acima da média nacional.
Além disso, temos uma política de conteúdo local em vigor obrigando que uma parcela significativa dos investimentos no setor de petróleo seja feita no Brasil e existe uma empresa gigante, controlada pela União, com musculatura, saúde financeira e a obrigação de ser a principal fomentadora dessa política.
O Brasil já apresenta uma economia diversificada que vem proporcionando a ascensão de uma nova classe média. Já alcançamos praticamente o pleno emprego no país. O maior desafio agora é melhorar a sua qualidade e, nesse aspecto, a indústria do petróleo e de bens e serviços de sua cadeia produtiva tem muito a contribuir.
RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.
por Rodolfo Landim
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