Investimento deve puxar economia


O Brasil está na iminência de uma virada na economia, que passará a ser guiada pelos investimentos privados e públicos, e não mais pelo consumo das famílias, avalia o economista David Kupfer, assessor econômico da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um dos principais especialistas em indústria de transformação no país.
De acordo com Kupfer, as políticas de dinamização da demanda continuam dando certo, mas estão, cada vez mais, impulsionando o consumo de bens importados. Já é consistente no governo, entende Kupfer, a preocupação com o lado da oferta, que precisa ser mais dinâmica e inovadora, de forma a atender à demanda.
Lentos neste primeiro semestre de 2012, os investimentos tendem a ganhar fôlego com a “perenização” de um novo quadro macroeconômico no país, entende Kupfer. Para o economista, doutor pela UFRJ, o governo Dilma Rousseff desenvolveu um novo “mix” de política econômica neste ano, com a consistente e generalizada redução dos juros na economia, processo que é acompanhado de uma taxa de câmbio mais desvalorizada, com o dólar oscilando entre R$ 1,95 e R$ 2,10.
“Isso, por si só, vai desatar novos investimentos, mas é preciso um pouco de calma, porque o empresário precisa ter a garantia de que essas condições macroeconômicas vieram para ficar”, diz Kupfer. “Essas novas condições macroeconômicas vão surtir efeito, não há nenhuma dúvida”, afirma.
Kupfer esteve em Brasília, acompanhando o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que participou de duas grandes reuniões de ministros da área econômica e de infraestrutura com Dilma, no Palácio do Planalto, na segunda-feira.
Diferentemente de 2011, ano em que o governo passou seis meses tentando esfriar a economia, e os últimos seis meses tentando aquecer, mas com esforços dirigidos à política monetária, o ano de 2012 registra uma condução mais homogênea e objetiva da política econômica.
A missão do governo, a partir de agora, passa a ser o “combate pelo destravamento do investimento, público e privado, de forma a reduzir o hiato tecnológico da indústria brasileira”, avalia Kupfer. Segundo ele, o investimento privado no Brasil está, de maneira geral, “postergado ou represado”, e ao governo cabe retirar as amarras para que o investimento represado ocorra logo.
Em segmentos ligados às commodities, em especial as metálicas, onde as exportações são centrais para o modelo de negócios, os investimentos têm sido adiados, uma vez que a demanda internacional mudou de mão entre 2011 e 2012. Já a indústria de transformação está, de modo geral, com investimentos represados – isto é, adiados, mas não cancelados.
“O governo já discute iniciativas que reduzam o custo de produção no país, como a diminuição de preço da energia elétrica”, diz Kupfer. A estrutura dos contratos de energia não permite que uma eventual redução de preços seja imediatamente repassada ao mercado neste ano, apenas a partir de 2013.
“Mas uma medida tomada agora daria um sinal poderoso ao empresário, que ganharia perspectivas excelentes de rentabilidade futura, e é isso o que motiva o investimento”, afirma.
Adicionalmente, os investimentos do próprio governo em infraestrutura, na área de transportes especialmente, precisam ser acelerados, diz Kupfer. “O investimento em infraestrutura cumpre papel duplo no Brasil: ao mesmo tempo que serve de demanda, já que exige insumos e contratações de pessoal das empresas responsáveis pelas obras, o investimento em infraestrutura também rende um impulso enorme à oferta na economia, já que amplia a produtividade da iniciativa privada”, afirma o economista.
por João Villaverde

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