DIlma balança entre Lula e Brizola


Oito anos depois da morte de Leonel Brizola, completados mês passado (24 de junho) e menos de um mês depois do encontro com apertos de mãos reconciliatórios de Lula-Maluf - e direito a foto tão histórica quanto polêmica colhida nos jardins da mansão do ex-governador de São Paulo -, o coração e a mente da presidente Dilma Rousseff parecem balançar “entre dois amores”, como no filme famoso.

De um lado, o ex-governador nascido na gaúcha cidade de Carazinho, que a acolheu afetuosamente no PDT do Rio Grande do Sul, quando a ex-guerrilheira das lutas contra a ditadura dava os primeiros passos na política fora da clandestinidade.

Do outro, o pernambucano ex-dirigente sindical do ABC paulista, fundador do PT e ex-presidente da República que a levou nos braços (e no muque) ao Palácio do Planalto na eleição em que praticamente ninguém acreditava quando a campanha começou.
O balanço de Dilma, que vem de longe (como Brizola gostava de dizer) ficou esta semana mais evidente do que nunca na historia deste país (como prefere Lula) em pelo menos duas cerimônias emblemáticas com a participação da presidente da República.
A primeira, em Brasília, na quinta-feira, 12. A segunda em Maragogipe - cidade do Recôncavo Baiano com prefeito petista em campanha de reeleição (e o governador Jaques Wagner, também do PT, em fase de inferno astral desde a greve da PM) - visitada ontem, sexta-feira, 13, pela presidente, depois de dois adiamentos.
A Dilma brizolista, cujos sinais mais efusivos no período de governo haviam se manifestado na posse do ministro do Trabalho, Brizola Neto, reapareceu com força anteontem, durante a abertura da Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Para espiritualistas ou ateus que acreditam em milagres (como o jornalista que assina estas linhas), a petista presidente da República parecia tomada pelo espírito e pelas palavras do falecido líder trabalhista, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola.
No discurso surpreendente, uma Dilma veemente afirmou que uma Nação de verdade deve ser medida pela atenção que os seus governantes dão às novas gerações, e não pelo crescimento da economia representada pelos saltos do PIB (soma de todas as riquezas de um país).
Vale a pena reproduzir aqui, literalmente, as palavras da presidente, pois até ontem, quando Dilma desembarcou na Bahia, muita gente dentro e fora de seu governo seguia atônita, ou fazendo de conta de que nada de diferente havia acontecido na solenidade de Brasília. Mesmo que a forte, ampla e imediata repercussão do discurso presidencial na mídia revelasse o contrário.
“Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz a uma criança e a um adolescente. Não é o PIB, mas a capacidade do País, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro”, bradou a presidente na fala produzida sob medida para os tempos de dificuldades que se anunciam no Brasil pós-marolinha.
Uma indiscutível sacada política, de governo e marketing em tempo de crise. É preciso reconhecer: nem o próprio Brizola, um dos formadores da cabeça e do coração da Dilma pedetista, teria feito melhor se vivo ainda estivesse.
Apenas um dia depois, no entanto, na sexta-feira 13, a presidente Dilma Rousseff desembarcava bem cedo no Recôncavo , novamente vestida com as roupas e as armas do PT, seu partido atual. Chegava cercada do governador Jaques Wagner, do prefeito também petista de Magagogipe que tenta a reeleição, aliados políticos, empresários e militantes em campanha eleitoral. Uma festa multicolorida de gente que parece navegar indiferente em águas de “Brasil grande e imune às crises”.
Dilma veio batizar a nova plataforma de exploração de petróleo da Petrobras, a P-59, destinada a operar em águas profundas do Espírito Santo, área do pré-sal.
Antes, a presidente participou do lançamento feérico da pedra fundamental do Estaleiro Enseada do Paraguaçu, para construção de mais plataformas off-shore de exploração de óleo em alto mar, com sede na Maragogipe tornada conhecida por um de seus filhos mais ilustres, o humorista Zé Trindade, hoje praticamente esquecido nas festas do lugar.
“Coisa de primeiro mundo, de país grande”, como faziam questão de acentuar executivos da Petrobras ao falar sobre as qualificações técnicas da monumental P-59, na qual os operários “ficarão numa sala automatizada, com controles por joysticks (como os de vídeo game”) e touch screen (na própria tela)”.
Coisa de encher os olhos e o discurso do ex-presidente Lula, o grande ausente, mas não esquecido pelos políticos e ex-auxiliares presentes na festa em Maragogipe.
No meio de tudo, a Dilma brizolista das crianças, na antevéspera em Brasília, dividia sentimentos e palavras de paixão com a presidente lulista da festa petista de ontem em Maragogipe. É como assinalou um frequentador do Twitter esta semana, ao refletir sobre o confuso país deste dias: “No meio da confusão sempre se pode ganhar alguma coisa”.
A conferir.
 Vitor Hugo Soares é jornalista - E-mail: vitor_soares1@terra.com.br

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