A entrevista do ministro Luiz Fux à Folha, neste fim de semana, tem valor pedagógico naquilo que explicita, sendo desnecessário aplicar-se a ela a lógica do domínio do fato', tão cara ao udenismo do qual ele se tornou uma voz exclamativa. Trata-se de oportuna ilustração da abrangência ecumênica do método alpinista que a indignação seletiva costuma atribuir como traço biográfico exclusivo de personagens lamentáveis acoplados à luta social e à esquerda.
Na escalada ao topo, o pretendente à suprema toga não hesitou em servir-se do repertório que abrange do tráfico de influência à oferta de dotes autoatribuídos -- no caso, a persona de um zagueiro do Direito, capaz de 'matar no peito' processos de interesse de seus interlocutores, desde que escalado para o time do STF, naturalmente.
Ao avocar-se o talento um rompedor de fronteiras que depois defenderia como pétreas, já travestido em torquemada dos holofotes, Fux ombreia-se em credibilidade ao adorno capilar postiço que arremata a sua figura.
O conjunto sinaliza uma trajetória cuidadosamente produzida ao preço de apliques que se renovam ao sabor da conveniência e do interesse. Sugestivo dessa versatilidade é o fato de ter se oferecido à Folha para contar um pedaço do que fez, acenou e moveu até ser indicado à vaga que ocupa hoje no STF.
O que disse dispensa-nos do que não disse, sendo suficiente ao descortino de uma ética líquida à beira do ralo do descrédito. Resta saber se o streap-tease mudará a hipocrisia dos critérios midiáticos que reservam ao campo da esquerda o monopólio do oportunismo.
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