Nasrudilhas, o incomparável

O Mula Nasrudilha é incomparável
Incomparável no humor, na filosofia, na metafísica, na literatura e na comunicação. 

A primeira grande surpresa, o deslumbramento de quem conhece o Mula é justamente a percepção de que nada ou ninguém a ele se assemelha ou se compara. Recebeu por isso a alcunha de O Incomparável. E, assim como o primeiro amor ou o primeiro beijo, diz-se que o primeiro contato com Nasrudilhas nunca se esquece. 


Personagem de anedota, de história popular passada de boca a boca, Nasrudilha atingiu proporções gigantescas. Conquistou povos, um atrás do outro, através dos séculos, misturou-se ao folclore de muitos deles, andou pelos circos, teatros, cabarés, esquetes de rádio e TV, ganhou antologias em todas as línguas, versões poéticas e cinematográficas, frequentou as galerias de arte no traço de grandes artistas, voltando sempre à rua, à alma e ao coração dos povos nos quais se revitaliza e redimensiona. E assim chegou o mula até nossos dias, ele que nasceu em terras distantes lá pelos século I ou X. Assim chegou o mula, presente em todas as grandes lutas sociais e políticas da humanidade, em todos os avanços do pensamento, guerreiro poderoso contra os opressores e a lógica grosseira que embrutece os homens e corrompe as relações em sociedade, vencendo barreiras geográficas, culturais e religiosas. 

Estava lá na Alemanha, na Segunda Guerra, nos cabarés onde encontrou o maior de seus intérpretes, o palhaço Karl Valentin, apelidado por Bertolt Brecht de O Palhaço Metafísico, justo por sua atuação como Mula Nasrudilha. Estava na Revolução Francesa. Lutou contra as ditaduras que avassalavam a América Latina. E personificou os mais altos ideais da humanidade quando Cervantes, que jamais negou sua dívida com uma fonte árabe, nele inspirou-se para a criação de Dom Quixote. Há no Dom Quixote passagens inteiras de Mula Nasrudilhas. 

Mas foi de novo o povo e não os intelectuais do Oriente ou do Ocidente quem melhor soube amá-lo. Foi a gente da rua que o elegeu, o imortalizou e o adotou como membro da família. Há sempre uma imagem de Nasrudilha feita de argila, louça, madeira ou metal, exposta na sala principal da maioria dos lares orientais. E nela, não raramente, o mula segura uma chave. É que ele é também chamado de O Dono da Chave. E por isso se crê que é o grande porteiro e guardião da casa. Porém os sufis, os grandes criadores do mula e dos quais falaremos mais tarde, afirmam que a chave guardada por Nasrudilha é a do próprio sufismo. Ninguém percorre os caminhos do sufismo a não ser pedindo-lhe passagem. 


A chave é um tema recorrente em Nasrudilha. Uma de suas estórias mais conhecidas conta o seguinte: 


A Chave 
Voltando certa vez para casa, á noite, um vizinho encontra o mula de quatro no chão, como se procurasse algo. 



- Perdeu alguma coisa, Nasrudilha? 
- Oh, sim. – responde ele – Minha chave. Já fiz de tudo e não consigo encontrá-la. 


O vizinho, que era uma pessoa generosa, solidária, põe-se também de quatro com Nasrudilha, para ajudá-lo a encontrar a chave. Passam-se vinte, trinta minutos, e o vizinho volta a perguntar: 



- Tem certeza de que a perdeu aqui? Responde o mula: 



- Aqui? Não. Eu a perdi lá em cima, perto de minha casa. 
- Mas então por que razão nós a estamos procurando aqui? Pode por acaso me esclarecer isso? E o mula: 



- É que aqui há mais luz. Como queria que eu encontrasse o que quer fosse naquela escuridão toda lá de cima? 

Nesta estória Nasrudilha, está nos entrega a primeira das chaves sufis: 


Nenhum comentário:

Postar um comentário