O mercado de opiniões


A avaliação de políticos, executivos, empresas obedece a uma máxima que vem do mercado de capitais: não existem empresas (gestores, políticos, governantes etc.) bons ou maus: existem os baratos e os caros. Ou seja, o sujeito é bom ou ruim de acordo com o “preço” que está cotado no mercado de opiniões.
Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula são exemplos acabados. Deflagrado o Plano Real, FHC passou a ser incensado. Na época, contei uma história fantástica dele. Mensalmente convocava a Brasília Jorge Serpa – o superlobista que conviveu com todos os presidentes da República desde Eurico Gaspar Dutra. Apavorado com aviões, Serpa ia de táxi.
Numa das visitas, FHC indagou daquela testemunha ocular da história:
-       Jorge, quem foi maior: Juscelino ou eu?
E o cínico do Serpa respondia:
-       Você, é claro!
Depois, morria de rir contando o “causo” no famoso restaurante Mosteiro, no centro do Rio.

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Com o tempo, a opinião pública se deu conta de que FHC estava “caro” demais. E começou o movimento de queda, que atingiu o fundo do poço após a maxidesvalorização de janeiro de 1999.
Aí, a imagem caiu tanto que FHC ficou “barato”.  O movimento seguinte provavelmente seria de nova valorização dele – por considerar que ele não era tão ruim quanto a imagem que projetava – não fosse o “apagão” de energia.
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O mesmo ocorreu com Lula. Seu fundo do poço foi no chamado escândalo do “mensalão”. Foi tão massacrado, que ficou baratíssimo. Nos anos seguintes, os resultados do Bolsa Família e do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), especialmente o comando da economia na crise de 2008, consagraram Lula. Provavelmente sua avaliação não teria sido tão alta se, no período anterior, não tivesse sido tão negativa.
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Com Dilma vai ocorrer o seguinte:
1. Foi eleita com a chamada opinião pública midiática tratando-a como um poste. Quem conhecia seu trabalho na Casa Civil sabia que não. Vindo com essa carga negativa, ao impor seu estilo de governo, inverteu completamente o jogo. Sua reputação foi crescendo, crescendo… até ficar cara.
2. Está-se agora naquele movimento descendente, na qual qualquer problema de gestão é maximizado, pelo fato de, no período anterior, Dilma ter ficado “cara”.
3. Esse movimento perdurará ainda por alguns meses. E deverá ser revertido a partir do segundo semestre, caso se confirmem a recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) e o assentamento da inflação. Assim, se entraria em 2014 com a cotação de Dilma em alta.
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Dependendo de um conjunto de medidas a serem tomadas, algumas de cunho preventivo, a volta do pêndulo poderá ser mais alavancada ainda:
1. Mitigação da centralização administrativa.
2. Melhoria da articulação política com Congresso e sociedade.
3. Melhor tratamento à Petrobras, para cumprir suas responsabilidade para com o pré-sal.
4. Análise meticulosa dos mega-financiamentos concedidos nos últimos anos a grupos econômicos – especialmente em setores de baixa rentabilidade, como o de frigoríficos. Identificadas fragilidades futuras dos grupos, tratar desde já de providenciar saídas de mercado. 

2 comentários:

  1. Andre Araujo26 fevereiro, 2013

    Há uma percepção adicional que me permito agregar. A cada ano novas levas de jovens saem das universidades. A maioria sai de faculdades de baixa qualidade de ensino mas por menos conhecimento que aprendam formalmente, o ambiente universitario aumenta a potencia de luz do farol de cada um. Começam a enxergar mais longe e a demanda que passam a ter sobre o que querem ser aumenta. Sabem mais coisas do mundo, a rede interna de colegas os abastece.

    São dois milhões de jovens por ano que precisam de empregos melhores que seus pais e o alvo deles é a do crescimento pessoal, dos novas tecnologias, das grandes empresas, de um certo emprego-glamour que só a economia moderna pode prover.

    Esses jovens são opinião publica nova e eles tambem influenciam seus pais. É comovente o esforço que familias humildes fazem para ajudar a pagar faculdades para a filha, para o filho, queremdo para eles um upgrade social e economico.

    Esse publico não é a ""massa" tangenciavel por discursos de baixa retorica. É uma nova opinião publica que faz sua entrada no universo dos adultos e seu comportamento irá para o lado que representa na percepção deles um crachá para entrar no mundo de uma elevação social, cultural e economica que não se dará por formulas antigas de projetos de Pais.

    A cada quatro anos são oito milhões de jovens que formam uma consciencia nova de Brasil.

    Politicos em geral tendem a ver o elitorado como estático e não evolutivo. Mas ele se move.

    Foi o grande erro dos Republicanos nos EUA. O elitorado que deu vitoria a Obama é o eleitorado novo

    que os Republicanos não imaginavam que existisse. Obam captou admiravelmente a existencia desse

    grupo e levou a ele as mensagens que lhe deram a vitoria porque soube ver o que eles queriam.

    Essa não é a nova classe media, são em parte os filhos dessa nova classse mas com mais conhecimento.

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  2. O fhc sempre foi bem visto pelos donos de jornais, haja vista a capa vergonhosa da folha no dia da posse, quando viram que o superhomem não tinha poderes nenhum cairam na real; quanto a nós, povo, enquanto louvavam o frango a um real e os restaurantes cheios (como se o brasileiro tivesse parado de se alimentar) sobraram o desemprego e salario minimo pífio; para melhorar a nossa vida fez um plano de segurança no qual a principal medida era iluminar as ruas mas meses depois veio o apagão e tiveram que desligar varios bicos de luz, tornando as ruas mais perigosas, isso quando não tinha a energia cortada por passar da média, como na fabrica na qual eu fazia um bico; e a bagunça das mensalidades escolares? Só os masoquistas ou os que ganharam muito dinheiro tem saudades daqueles tenebrosos tempos, o prtoblema é que os politicos acham que o país deve muito a eles, na verdade é sempre o contrario.

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